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A vivenda Aleluia é uma batalha da cultura que a Cultura não pode perder

Em Aveiro encontra-se ameaçada de demolição a Vivenda Aleluia, da autoria do arquiteto, expoente da arquitetura Arte Nova portuguesa e europeia e Mestre da arquitetura do seu tempo: Francisco Augusto da Silva Rocha (1864-1957).

Vivenda Aleluia, na Avenida Lourenço Peixinho em Aveiro Pormenor da Fachada Lateral da Vivenda Aleluia, com painel de Azulejo Painel de S. Francisco de Assis, simbólico guardião à entrada da Vivenda Aleluia Painel no exterior da Vivenda Aleluia, datado de 1930 Painel de azulejo, no interior da Vivenda Aleluia Candeeiro em cerâmica da Fábrica Aleluia Fogão de sala decorado com friso e painéis de azulejos produzidos pela Fábrica Aleluia Painel “A Dança” Monografia da autoria de Maria João Fernandes, publicada em 2009 com prefácio de Siza Vieira
“A vivenda Aleluia representa um momento único da evolução da obra do arquiteto Silva Rocha, que se tornou, quer em Portugal, quer na Europa, um expoente da arquitetura do seu tempo. Prolonga a expressão da Casa Tradicional Portuguesa, renovando-a, na criatividade do seu jogo de volumes, no exuberante diálogo das artes decorativas do seu exterior e do seu interior. A sua conservação é imperiosa e o contrário seria um indesculpável atentado aos valores da nossa cultura.”
Álvaro Siza Vieira

Está ameaçada de iminente demolição a vivenda Aleluia, projeto assinado de Francisco Augusto da Silva Rocha (1864-1957), Mestre da arquitetura portuguesa e europeia, autor do principal conjunto Arte Nova da cidade de Aveiro, por sua causa considerada capital da Arte Nova portuguesa e uma das capitais europeias deste estilo.

A vivenda Aleluia é uma obra-prima do estilo Casa Tradicional Portuguesa, praticado e divulgado por Raul Lino, na esteira do movimento internacional Arts and Crafts, cujo valor é unanimemente reconhecido por especialistas na área da cerâmica e do azulejo, como José Meco ou Rita Gomes Ferrão (primeira subscritora da petição nacional em curso, já com cerca de mil e duzentas assinaturas), e por arquitetos, críticos e historiadores da arte e da arquitetura de prestígio, como Siza Vieira, Carlos Reis Figueiredo, José Manuel Fernandes, Vítor Serrão, Raquel Henriques da Silva ou Bernardo Pinto de Almeida, que a este respeito já se manifestaram na petição. Pronunciou-se também, realçando o seu valor, e opondo-se à sua destruição, a Ordem dos Arquitetos.

Quanto à sua classificação que há muito devia estar concretizada, solicitada por Maria João Fernandes em 1998 ao antigo IPPAR, há 25 anos, tendo ficado durante mais de duas décadas sem qualquer resposta. Perante a anunciada demolição, voltou a pedir a classificação a 30 de agosto de 2022, no que foi secundada por Rita Gomes Ferrão, a 29 de março de 2023, num documento em que o valor deste exemplar único fica exaustivamente demonstrado.

Maria João Fernandes foi informada por ofício datado de 19 de outubro de 2022, de que a DRCC, para onde o processo foi encaminhado pela DGPC, decidiu em 2006 aconselhar a sua classificação como Imóvel de Interesse Municipal. Acontece que, ao que tudo indica, inexplicavelmente, a classificação não terá acontecido, e em 2022 este organismo, em vez de se interessar pela classificação, tornou-se convicto adepto da demolição, coincidindo com a opinião do Partido Comunista, que, proprietário da vivenda Aleluia desde 2014, se propunha construir no mesmo local um prédio de oito andares, para o que teria, desde 2019, o total apoio da Câmara Municipal de Aveiro.

Quanto aos pareceres neste contexto emitidos pela DRCC, desvalorizando o valor patrimonial da vivenda Aleluia e recusando a sua classificação, há que referir sem qualquer margem de dúvida, que são totalmente inválidos, por não estarem assinados e por carecerem de qualquer fundamentação. Para além de omitirem o autor, omitem o mais do que óbvio valor patrimonial das artes decorativas do exterior e dos interiores, onde se realçam com todo o esplendor a azulejaria e a cerâmica da centenária Fábrica Aleluia.

Lembrando a sua luta de 27 anos pelo património histórico de Aveiro e pela obra de Silva Rocha, Maria João Fernandes evoca as ainda atuais palavras do arquiteto Siza Vieira em 1996: “A obra de qualidade ímpar do arquiteto aveirense Francisco da Silva Rocha está a ser destruída numa época em que isso já não é desculpável – nem pela ignorância.” A ele juntaram-se num histórico abaixo-assinado o então Presidente da República Jorge Sampaio, Mário Soares, Eduardo Lourenço e uma lista impressionante de algumas das mais prestigiadas figuras da cultura, da política e da sociedade portuguesas.

Quase três décadas depois, repetem-se as mesmas circunstâncias, com os mesmos motivos. A razão, neste caso, não será apenas a ignorância, uma vez mais indesculpável, do valor do imóvel em causa e do estilo em que se integra, mas a sobreposição notória do lucro imobiliário aos interesses da cultura, com a suposta “aprovação” de quem preside ao destino do património no nosso país.Há que afirmar, no entanto, que não é próprio, nem digno de uma democracia a destruição de um património de valor local e nacional, cuja defesa lhe foi confiada pelos eleitores, de bens culturais de uma cidade e de um país que fazem parte da sua identidade, que são o seu mais autêntico rosto.

Apelamos uma vez mais aos responsáveis pela Cultura do nosso país para que defendam este inestimável valor, expressão de uma beleza intemporal que merece perdurar.

Esta é uma luta da cultura que a Cultura não pode perder.



Em 1998, o Centro Nacional de Cultura realizou um Passeio de Domingo acompanhado por Maria João Fernandes, intitulado “Aveiro nos Caminhos da Água”.




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