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Wasted Rita expõe a "ansiedade" de procurar casa
A nova exposição de Rita Gomes tem por base o período de procura por nova casa em Lisboa. Na Galeria Underdogs, a artista revela o quotidiano e os refúgios dos últimos meses.
Ficar sem teto ao fim de quase uma década a habitar em Lisboa foi o ponto de partida para a exposição The desperation of the desperate desperately despairing for this desperation to heal, daartista Rita Gomes, ou seja Wasted Rita, patente ao público na Galeria Underdogs, em Marvila (Lisboa).
Entre instalações LED, frases, desenhos, esculturas e realidade virtual, a artista (Porto, n. 1988) regressa à Galeria Underdogs para desvendar o carrossel de pensamentos e refúgios dos três meses em que se viu obrigada a encontrar nova casa na capital, depois de "expulsa" do lugar onde morava, devido ao aumento da renda.
Em entrevista ao PÚBLICO, Wasted Rita revela que os trabalhos surgiram da exploração da própria vulnerabilidade e dos “mecanismos de defesa durante os meses em modo de sobrevivência”. Mantendo o papel e a escrita como métodos primordiais para se compreender, a artista fundiu sentimentos para retratar a fase vivida e, assim, envolver o público.
“Quando se é vulnerável e se trabalha sobre o que se sente, é mais fácil alguém se relacionar com o que fazemos", explica. A exposição, revela, incorpora "muitas dualidades", como ironia e sinceridade, amor e ódio. Nesse desafio de "distinguir patamares" e interpretar a artista, Wasted Rita admite que "confundir as pessoas" a deixa confortável para se expor.
Para a artista, residente em Lisboa desde 2013 e que em quatro anos morou em cinco bairros e sete casas diferentes, o quotidiano na cidade já foi "deslumbrante", quando era possível "explorar a cidade e mudar de casa" em prol do conforto. Contudo, uma década volvida, a vida na capital transformou-se: “[Lisboa] É uma cidade que não quer quem não consegue pagar as rendas ou comprar casa”, argumenta.
Com a crise habitacional instalada, Wasted Rita optou por regressar à Galeria Underdogs com uma exposição assente nos diferentes graus de ansiedade experienciados ao longo dos últimos três meses. E escreveu, desenhou, idealizou conceções quanto a “trends do TikTok, nichos da internet, [os reality-shows] Survivor e Big Brother Brasil, vegan snacks”, temas que afastaram a mente da principal preocupação: encontrar uma nova morada.
Da alienação e da renovada “relação agreste com Lisboa” surgiram novas criações, nas quais Wasted Rita manteve o característico traço crítico e irónico para, por exemplo, em LED e em inglês, deixar anotações como “Tudo o que ela tinha era uma vida, um sonho e o poder da manifestação” (em tradução literal).
Realidade virtual e escapismo
Ao entrar na sala, os visitantes da Underdogs deparam-se com desenhos e reflexões que espelham “o lado mais íntimo” da artista. Enquanto os olhos interpretam cada trabalho, importa estar atento ao chão, onde Wasted Rita organizou uma instalação com latas, tupperwares, barras energéticas e pacotes de batatas fritas, peças impressas em 3D com mensagens literais ou subliminares, assinalando a comida como outra via de fuga aos pensamentos sobre a nova casa.
Além de telas maiores e de instalações LED, a artista trouxe a realidade virtual para a exposição, uma estreia no acervo da sua obra que consta da Galeria Underdogs.Admiradora do escapismo, ou seja, da fuga ao quotidiano, a artista aproveitou o contexto digital para concretizar “um pequeno refúgio”, através do qual somos convidados a escapar à realidade e "confusão de emoções" em redor.
Até 27 de maio, Wasted Rita convida a um cocktail de “muitas dualidades, ironia e sinceridade, humor e humor nenhum, e niilismo” na galeria em Marvila.
Rita Gomes, natural de Águas Santas (Porto), estreou-se em 2015 com a primeira mostra coletiva na Dismaland, em Inglaterra, e, meses depois, com uma exposição a solo na Galeria Underdogs. O seu trabalho já foi exposto, em mostra individual, em cidades como Lyon (França), Berlim (Alemanha) e Ostende (Bélgica). Em maio e junho, a artista vai participar em nova residência artística, desta feita em Nova Iorque.
por Samuel Santos e Daniel Rocha (fotografia) in Público | 2 de abril de 2023
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público