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Um copo com Jorge Silva Melo que "valeu por 27 cursos de teatro"
O ator José Raposo vai dar corpo ao monólogo “Foi Assim”, que estreia hoje, no Teatro da Politécnica, em Lisboa. A peça marca um ano sobre a morte do encenador Jorge Silva Melo. Com o criador dos Artistas Unidos, Raposo tomou um copo uma noite que “valeu 27 cursos de teatro”.
“Não é uma personagem definida, não tem um nome, não tem idade. É assim que o ator José Raposo descreve o protagonista do monólogo “Foi Assim” que vai representar, a partir desta terça-feira, no Teatro da Politécnica, em Lisboa.
Escrito por Jon Fosse, o texto leva a palco a história de “um homem que está de facto, praticamente, no seu leito da morte”, conta o ator.
“Aqui a morte é um tema fundamental, como é em todas as obras do Jon Fosse”, aponta o ator. A peça “foca temas como a vida e a morte, a arte e a religião e tudo isto de uma forma muito neutra”, acrescenta o ator.
Com encenação de António Simão, “Foi Assim” é, segundo José Raposo, uma peça que deixa uma “reflexão, onde a dúvida é permanente” e onde “as questões da humanidade” surgem de “forma muito poética”.
A peça que Jorge Silva Melo não teve tempo de fazer
“Foi Assim” estreia na casa dos Artistas Unidos no dia em que passa um ano sobre a morte de Jorge Silva Melo. O encenador, que criou a companhia, chegou a pensar representar ele próprio este monólogo de Fosse. Mas a vida não lhe deu o tempo necessário.
Questionado sobre a memória que guarda de Jorge Silva Melo, o ator José Raposo lembra que “o Jorge não era notívago, não era um homem de ir beber um copo. Para o Jorge, aliás beber um copo era ir conversar”.
Raposo recorda um dia em que foi beber um copo com Jorge Silva Melo e a atriz Mariema de quem eram ambos amigos.
“Fomos beber um copo e, esse copo, foram aulas autênticas, porque era ouvir o Jorge! Parece que não, mas uma noite, para mim, valeu 27 curso de teatro”, refere o ator.
Raposo habituou o seu público ao registo da comédia, da Revista, mas também das novelas televisivas. Representar agora um monólogo que tem como tema a morte, confessa ser um “grande desafio”.
“É claro que a maior parte dos atores escolhe um caminho, mais ou menos, e segue-o, vai por ali, não se desvia assim muito. Mas há atores que também fazem o que eu faço que é experimentar coisas diferentes”, admite Raposo.
Na sua opinião, “é essa a função do ator”. “A mim, dá-me um gozo redobrado. Nunca direi: “Ah, isto, é muito melhor do que aquilo ou que outro!” Não! Tudo tem um lugar, tudo tem um contexto, qualquer género, qualquer tipo de público” detalha o artista.
De acordo com José Raposo, o facto de um ator que habituou o seu público a um género de representação estar a fazer outro, pode contribuir para chamar novos públicos para outros tipos de teatro. O ator conclui: “o que quero dizer é que trabalho para todos os públicos”.
por Maria João Costa in Renascença | 14 de março de 2023
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença