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"Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" foi o grande vencedor dos Óscares

Os vencedores de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo". [Foto EPA / Caroline Brehman]
"Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" foi o grande vencedor de uma noite de Óscares histórica, ao levar sete estatuetas que incluíram Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Atriz Principal, Melhor Atriz Secundária e Melhor Ator Secundário.

Já Brendan Fraser recebeu o Óscar de Melhor Ator pelo desempenho em "A Baleia", de Darren Aronofsky. A interpretação de Fraser já recebera este ano o prémio do Sindicato dos Atores, entre outras distinções.



"Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" foi o filme mais premiado desde "Quem Quer Ser Bilionário", em 2008, e consagrou Michelle Yeoh como a primeira asiática a ganhar o Óscar de Melhor Atriz PrincipalTambém deu a Jamie Lee Curtis o seu primeiro Óscar e premiou Ke Huy Quan com Melhor Ator Secundário, apenas o segundo asiático de sempre a ganhar esta categoria.

"Este é um momento histórico", afirmou Michelle Yeoh na sala de entrevistas, após a vitória, dizendo que "quebrou o teto de vidro" com um movimento de Kung-Fu.


"Isto é para todos os que foram identificados como minorias", considerou a atriz. "Nós merecemos ser ouvidos, merecemos ser vistos e ter oportunidades iguais, para podermos ter um lugar à mesa", continuou. "Deixem-nos provar que nós valemos a pena". Yeoh venceu contra 'pesos-pesados' como Cate Blanchett ("Tár") e Michelle Williams ("Os Fabelmans").

Urgindo todos os que têm sonhos a "acender esse fogo na alma", Yeoh, de 60 anos, também mandou um recado aos que têm preconceitos contra as mulheres após uma certa idade. "Não deixem que vos ponham dentro de uma caixa, que vos digam que já não estão no auge", afirmou.

A importância da representação e reconhecimento de atores asiáticos também foi abordada por Ke Huy Quan, que venceu um Óscar depois de andar afastado da indústria durante décadas por falta de oportunidades.

"Quando comecei a representar em criança, lembro-me de o meu agente me dizer que seria mais fácil se eu tivesse um nome que soasse americano", disse Ke Huy Quan. Foi por isso que na fase inicial da carreira o seu nome aparecia como Jonathan Ke Quan.

"Quando decidi voltar à representação há três anos, a primeira coisa que quis fazer foi regressar ao meu nome de nascimento", explicou.

Quan foi o vencedor mais exuberante da noite na sala de entrevistas, para onde entrou aos saltos e a gritar de alegria. "Conseguem acreditar que estou a segurar uma [estatueta] destas na mão?", perguntou. "Isto é tão surreal".

Pelos bastidores também passaram os 'dois Daniéis', a dupla de realizadores responsável por "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", que levaram para casa a estatueta de Melhor Argumento Original, Melhor Realização (batendo Steven Spielberg) e Melhor Filme.

"Estamos numa crise de saúde mental, em especial a geração mais jovem, que não tem muito por que ansiar", disse o co-realizador Daniel Kwan. "Há uma desolação que se infiltra", continuou, referindo que ele próprio passou por tempos muito difíceis na adolescência.

"O poder radical e transformador da alegria, do absurdo e de perseguir a nossa felicidade é algo que quero trazer às pessoas", disse, "e este filme é um tiro de alegria, absurdo e criatividade".

O produtor Jonathan Wang acrescentou que a intenção da equipa era que o filme culminasse num abraço caloroso, apesar de ser uma história de caos. "Decidimos dedicar a nossa vida a fazer filmes que são bons e que levam a algo bom, e não apenas a algo que vai obter atenção", afirmou.

A Academia premiou o trabalho de uma forma que já não fazia há muito. São raras noites de consagração para um só filme, com poucas exceções, que incluem "Ben-Hur" em 1959, "Titanic" em 1998 e "O Senhor dos Anéis: O regresso do rei" em 2004, com 11 Óscares cada.

"Há algo tão inspirador em fazer um filme que nos ensina coisas ao longo do caminho", refletiu o co-realizador Daniel Scheinert. Também Paul Rogers, que levou o Óscar de Melhor Edição, sublinhou o incrível sucesso que esta história estranha e surreal teve.

"Vemos muitos filmes que contam histórias sobre certos tipos de pessoas, e tendem a focar-se no homem branco", disse. "E ter esta história linda de uma família emigrante foi incrível".

A história de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" oscila entre o absurdo e o fantástico, centrando-se numa imigrante chinesa de meia-idade ("Evelyn Wang") que se vê atirada para uma aventura em múltiplos universos e linhas temporais.

Brendan Fraser: "É um filme que vai mudar alguns corações e mentes"

O ator Brendan Fraser conquistou os membros da Academia com a sua transformação num professor com obesidade mórbida em "A Baleia", um filme que o vencedor do Óscar de Melhor Ator Principal espera que mude mentalidades.

"Penso que é um filme que vai mudar alguns corações e mentes", disse o ator, nos bastidores da 95.ª cerimónia de entrega dos prémios da Academia, que decorreu esta noite em Los Angeles. "E esse é um sentimento muito bom".

Fraser disse estar "atordoado" com a vitória quando chegou à sala de entrevistas e comentou que a estatueta é mais pesada que o que ele esperava. Também revelou que, quando ouviu anunciar o seu nome, teve um segundo de dúvida sobre se teria ouvido corretamente.

"Agora sei o que é o metaverso", gracejou o ator, que mergulhou no papel de Charlie depois de um longo período de deserto na sua carreira. "Ele é alguém que encontrou o amor, perdeu-o, e depois encontrou-o outra vez. Acho que isso é uma coisa de que todos podemos extrair algo", afirmou. "E saber que, com perseverança, se pusermos um pé à frente do outro como o Charlie fez, vamos em direção à luz", continuou. "Se eu consigo fazê-lo, vocês também conseguem. Boas coisas acontecerão".

O ator confessou-se muito comovido pelo argumento do filme realizado por Darren Aronofsky, baseado numa peça escrita por Samuel Hunter.

"O Darren foi muito franco sobre este ser um papel desafiante", disse Fraser, "em termos do que seria preciso para criar Charlie e o seu corpo".

Esse desafio culminou noutro prémio da Academia, já que além do Óscar de Melhor Ator Principal para Brendan Fraser, "A Baleia" também conquistou a estatueta para Melhor Caracterização, entregue a Adrien Morot, Judy Chin e Annemarie Bradley. Foram eles que transformaram Fraser num homem que sofre de obesidade mórbida e está a morrer por causa disso.

"O meu trabalho era interpretar Charlie de dentro para fora, e o deles era criá-lo de fora para dentro", disse o ator.

As dificuldades foram acrescidas porque a produção coincidiu com o início da pandemia de covid-19. "Tudo foi criado e esculpido em computador e impressão 3D e transformado em moldes e esculturas, e depois conseguimos aplicá-lo nele", explicou Adrien Morot, na sala de entrevistas. "Sem nunca termos estado com o Brendan em pessoa. Isso foi qualquer coisa".

A pandemia, disse o ator, influenciou o trabalho também de outras formas. "Todos os filmes que vimos este ano têm um ingrediente secreto e penso que é essa preocupação que tivemos uns com os outros e com o trabalho que fazemos, porque vivemos sob uma ameaça existencial", refletiu. "Não sabíamos se ia haver um amanhã".

A incerteza aguçou a interpretação. "Fazer um filme com esta gravidade reforçou o quão importante é atuar como se fosse a primeira e a última vez que o fazemos", disse o ator.

TODOS OS PREMIADOS

Melhor Filme"Tudo ao Mesmo Tempo em Todo o lado"

Melhor RealizaçãoDaniel Kwan e Daniel Scheinert - "Tudo ao Mesmo Tempo em Todo o lado"

Melhor AtorBrendan Fraser - "A Baleia"

Melhor AtrizMichelle Yeoh - "Tudo ao Mesmo Tempo em Todo o lado"

Melhor Ator SecundárioKe Huy Quan - "Tudo ao Mesmo Tempo em Todo o lado"

Melhor Atriz SecundáriaJamie Lee Curtis - "Tudo ao Mesmo Tempo em Todo o lado"

Melhor Argumento Original"Tudo ao Mesmo Tempo em Todo o lado"

Melhor Argumento Adaptado"A Voz das Mulheres"

Melhor Filme Internacional"A Oeste Nada de Novo", de Edward Berger

Melhor Longa-Metragem de Animação"Pinóquio de Guillermo del Toro"

Melhor Curta-Metragem de Animação"The Boy, the Mole, the Fox, and the Horse", de Peter Baynton e Charlie Mackesy

Melhor Documentário"Navalny", de Daniel Roher

Melhor Curta-Metragem Documental"The Elephant Whisperers", de Kartiki Gonsalves

Melhor Curta-Metragem"An Irish Goodbye", de Tom Berkeley e Ross White

Melhor Fotografia"A Oeste Nada de Novo"

Melhores Efeitos Especiais"Avatar: O Caminho da Água"

Melhor Guarda-Roupa"Black Panther: Wakanda Para Sempre"

Melhor Caracterização"A Baleia"

Melhor Canção Original"Naatu Naatu" - "RRR", de M.M. Keeravaani e Chandrabose

Melhor Banda Sonora Original"A Oeste Nada de Novo", de Volker Bertelmann

Melhor Cenografia / Direção Artística"A Oeste Nada de Novo"

Melhor Montagem"Tudo ao Mesmo Tempo em Todo o lado"

Melhor Som"Top Gun: Maverick"



Lusa/DN | 13 de março de 2023
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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