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Viver as coisas para um dia serem escritas

Dando continuidade à publicação da obra da Prémio Nobel Annie Ernaux, Livros do Brasil edita Memória de Rapariga. Um magnífico testemunho sobre crescimento, desejo e vergonha, pelas mãos da mestre da escrita memorialística. 

Como pôde a filha de um casal de merceeiros de uma pacata localidade tornar-se na mais renomada autora francesa da atualidade? Qual o rastilho que levou uma jovem sem grandes sonhos ou esperanças, sem ambições de produção narrativa, a assumir no papel o tom confessional tão único e que a tantos leitores toca? Está tudo explicado em Memória de Rapariga, o título de Annie Ernaux que a Livros do Brasil agora publica. Foi graças às experiências duras revividas nestas páginas que a autora fez de si um ser literário, «alguém que vive as coisas como se elas existissem para um dia serem escritas». No presente caso, tal exercício revelou-se longo e doloroso: durante duas décadas, a referência «58», aludindo ao ano do verão destes acontecimentos, constava entre os seus projetos de escrita, «o texto permanentemente em falta, sempre adiado, a falha inqualificável». Mais dez anos seriam necessários para que a primeira meia dúzia de páginas ganhasse forma e, outros tantos, para a edição final. Tudo somado, uma vida. Aqui se narra a pulsão sexual dos 18 anos, o escárnio implacável de que foi alvo, a incerteza quanto ao futuro profissional e familiar, a bulimia silenciosa, a ânsia por liberdade, a descoberta de um novo mundo, ou seja, a desconstrução da jovem que um dia foi.

O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 23 de março de 2023.

Interrogo-me sobre qual o sentido de uma mulher rever cenas antigas com mais de cinquenta anos, às quais a sua memória não pode acrescentar nada de novo. Que outra crença, a não ser a de que a memória é uma forma de conhecimento? E que outro desejo — que ultrapassa o de compreender — nesta obstinação para encontrar, entre os milhares de nomes, de verbos e adjetivos, aqueles que irão conceder a certeza — a ilusão — de se ter atingido o mais alto grau possível de realidade? Apenas a esperança de que exista, pelo menos, uma gota de similitude entre aquela rapariga, Annie D., e uma outra qualquer.
Annie Ernaux

SOBRE O LIVRO
Memória de Rapariga
«Eu quis esquecer esta rapariga. Esquecê-la verdadeiramente, isto é, nunca mais sentir vontade de escrever sobre ela. Nunca mais pensar que deveria escrever sobre ela, o seu desejo, a sua loucura, a sua estupidez e o seu orgulho, a sua fome e o seu sangue derramado. Nunca o consegui.» Em Memória de Rapariga, Annie Ernaux regressa ao verão de 1958, aquele em que, numa colónia de férias, passou pela primeira vez a noite com um homem. Uma noite que provocaria uma onda de choque com reverberações violentas no seu corpo e na sua existência durante os dois anos que se seguiram. A partir de imagens indeléveis da sua memória, de fotografias e de cartas escritas a amigas, interroga agora a rapariga que foi, num vaivém implacável entre o passado e o presente.

Ver primeiras páginas   

Título: Memória de Rapariga
Autora: Annie Ernaux
Tradução: Maria Etelvina Santos
Páginas: 160
PVP: 16,65€  

SOBRE A AUTORA

Annie Ernaux
Nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional. Em 2022, Annie Ernaux foi distinguida com o Prémio Nobel de Literatura. 
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