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Exposição sobre "Novas Cartas Portuguesas" e a luta das mulheres toma a forma de livro

As “Novas Cartas Portuguesas” e a luta das mulheres contra a ditadura deram origem a uma exposição no Museu do Aljube, que agora resulta num livro a ser publicado no próximo dia 23 pela Tinta-da-China.

Coordenado por Rita Rato, diretora do Museu do Aljube Resistência e Liberdade, e com participação da artista, investigadora e cineasta Luísa Sequeira, o livro “Mulheres e Resistência” conta ainda com textos originais das escritoras Djaimilia Pereira de Almeida e Maria do Rosário Pedreira, recentemente distinguida com o Prémio Literário Casino da Póvoa do Correntes d'Escritas 2023.

Segundo a editora, este é um livro que continua o trabalho de homenagem à luta das mulheres durante a ditadura, iniciado com a exposição homónima do Museu do Aljube, a partir da obra “Novas Cartas Portuguesas”, da autoria de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, que ficaram conhecidas como as “Três Marias”.

A exposição, que esteve patente de maio a dezembro de 2021, contemplou também outras lutas, revisitando a atualidade da luta das mulheres e o contributo daquelas que, com origens e percursos diferentes, inventaram e concretizaram batalhas pelos seus direitos, pela justiça social e pela liberdade, desde os anos de 1930 até ao 25 de Abril de 1974.

“Todos estes processos destacam o papel insubstituível das mulheres ao longo dos 48 anos de resistência ao fascismo e a sua importância na conquista da democracia”, sublinha a editora, acrescentando que este livro “guarda e prolonga, com novos elementos, o registo desta homenagem a todas as mulheres que lutaram”.

O livro “Novas Cartas Portuguesas” foi escrito tomando por inspiração as cartas de amor dirigidas a um oficial francês por Mariana Alcoforado, obra literária do século XVIII, para abordar a situação de Portugal sob a ditadura.

Na altura, a obra constituiu um libelo contra a ideologia vigente no período pré-25 de Abril, que denunciava a guerra colonial, as opressões a que as mulheres eram sujeitas, um sistema judicial persecutório, a emigração e a violência fascista.

Começou a ser escrito em maio de 1971 e foi publicado em abril de 1972, tendo sido banido pelo então regime e as suas autoras levadas a julgamento.

A publicação foi feita com a chancela da Editorial Estúdios Cor, que tinha direção literária de Natália Correia, a única editora que aceitou correr o risco de o publicar e que, mesmo tendo sido instada a cortar partes, insistiu em publicar a obra na íntegra.

Essa primeira edição foi recolhida e destruída pela censura, três dias após ter chegado às livrarias – por ser considerada pelas autoridades fascistas de “conteúdo insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública” -, e as três autoras tiveram de se apresentar na polícia, onde foram sujeitas a interrogatório.

O livro passou fronteiras e foi levado clandestinamente para França, onde foi entregue a Simone de Beauvoir, responsável pela sua divulgação internacional.

O impacto global da obra, em particular nas democracias europeias e nos Estados Unidos, deu-se pouco depois da sua divulgação, acrescido pelo conhecimento público do processo de que as “Três Marias” estavam a ser alvo, com a cobertura do julgamento feita por meios de comunicação internacionais.

Simultaneamente, tiveram lugar manifestações feministas em várias embaixadas de Portugal no estrangeiro e a defesa pública da obra e das autoras por várias personalidades internacionais.

Estas ações fizeram com que o caso fosse votado, em junho de 1973, numa conferência da National Organization for Women (NOW), em Boston, como a primeira causa feminista internacional.

As “Três Marias” chegaram a ir a julgamento, que teve início a 25 de outubro de 1973, e só não foram condenadas porque, após sucessivos incidentes e adiamentos, deu-se a Revolução de 25 de Abril de 1974.


Fonte: Lusa | 2 de março de 2023

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