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Roteiros

Baixo Sabor prepara rota de pinturas murais com exemplares dos séculos XVI e XVII

A Associação de Municípios do Baixo Sabor (AMBS) tem em curso a criação de uma rota de pinturas murais, que remontam aos séculos XVI e XVII, que vai percorrer quatro concelhos deste território, incluindo 23 igrejas e capelas.

Capela de Santa Bárbara, Felgar (foto © CM Torre de Moncorvo)

O projeto "História a Fresco - Rota da Pintura Mural” vai incidir nos concelhos de Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, onde os especialistas têm colocados a descoberto, após a remoção da talha dos altares, “importantes exemplares desta arte”.

Em declarações prestadas hoje à agência Lusa, o presidente da AMBS, Eduardo Tavares, disse que se trata de um importante projeto supramunicipal que abrange quatro concelhos do Baixo Sabor, onde estão centradas expectativas de recuperação dos exemplares do património cultural religioso.

“Estes trabalhos foram iniciados da melhor forma, com a descoberta de pinturas a fresco muito interessantes, datadas do século XVI, no concelho de Alfândega da Fé. Depois, os trabalhos seguiram Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Torre de Moncorvo, onde também houve agradáveis surpresas”, explicou o responsável.

Nas 23 igrejas e capelas que fazem parte deste projeto da AMBS, 10 terão intervenções de conservação e restauro em estruturas retabulares e 16 em pintura mural a fresco.

“Para a parte final estará prevista a criação de um centro interpretativo, para valorizar este tipo de arte e criar um circuito de visitação aos Lagos do Sabor", concretizou Eduardo Tavares.

De acordo com a técnica de património da AMBS Lília Pereira da Silva, este projeto prevê ações distintas, uma que contempla pequenas intervenções de requalificação dos edificados, outra de conservação e restauro de estruturas retabulares e pinturas murais.

Lília Pereira da Silva acrescentou ainda que os altares que forem desmontados, para dar visibilidade às pinturas murais, serão depois conservados e montados nas laterais dos templos cristãos.

A previsão da AMBS é que as pinturas murais a fresco sejam todas intervencionadas por equipas especializadas em conservação e restauro de pintura mural, com as intervenções a arrancar em março.

Segundo a especialista, as igrejas e capelas com pintura mural a fresco dos séculos XVI e XVII foram sendo identificadas por várias entidades, incluindo a diocese de Bragança-Miranda, desde a década de 80 do século passado.

No final, a Rota pretende “de forma didática, intuitiva e com recurso às novas tecnologias explicar ao visitante tudo o que envolve a pintura mural: as técnicas, as formas, a estética, as várias oficinas a laborar no território e os significados das pinturas murais a fresco”.

“Estes frescos funcionavam como verdadeiras bíblias, gosto de usar a expressão ‘paredes que catequizam’. De facto, num meio rural dos séculos XVI e XVII, onde a população era maioritariamente analfabeta, a pintura mural, relatando episódios bíblicos quase em forma de banda desenhada, ajudou e muito a catequizar a população”, explicou.

A título de exemplo, em Sendim da Ribeira, Alfândega da Fé, por trás do retábulo-mor pode-se agora visualizar no centro da parede uma pintura a fresco datada de 1593 e que contém várias cenas da liturgia. Já em Castro Roupal, no concelho de Macedo de Cavaleiros, as pinturas descobertas têm uma inscrição com a datação de 1533.

“Temos muita esperança naquilo que podemos encontrar na Capela de Nossa Senhora da Esperança de Torre de Moncorvo, é uma capela edificada num sítio arqueológico e que ainda preserva a totalidade do reboco antigo”, separam os especialistas No concelho de Mogadouro começaram os trabalhos de desmontagem dos altares de uma capela em São Martinho do Peso, que está a levantar algumas dúvidas, porque a parede se encontra totalmente picada e as pinturas muito danificadas, mas tudo indica que seja do século XVI.

Este é um projeto multidisciplinar que envolve vários técnicos especialistas nas áreas da história da arte, arqueologia, antropologia, conservação e restauro, engenharia e arquitetura. Esta rota de turismo cultural, onde serão investidos cerca de 900 mil euros, prevê-se que esteja concluída em setembro.


Fonte: Lusa | 25 de fevereiro de 2023

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