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África e a sua diáspora no epicentro da Bienal de Arquitetura de Veneza

“Descolonização e descarbonização” são temas sobre os quais se estrutura a 18.ª Exposição Internacional de Arquitetura – Bienal de Veneza, a decorrer de 20 de maio a 26 de novembro, com África como epicentro e “O Laboratório do Futuro” por lema.

Com representações oficiais de 63 países, sendo Portugal e Brasil os únicos lusófonos presentes, de acordo com a apresentação da mostra realizada hoje, em Veneza, a Bienal conta ainda com 89 participantes nas exposições e nos projetos especiais de “O Laboratório do Futuro”, na maioria de África e da diáspora africana, entre os quais o Banga Colectivo, gabinete de arquitetura de Luanda e Lisboa, e o ateliê brasileiro Cartografia Negra.

“Esta será a primeira [edição] a experimentar no terreno um caminho para alcançar a neutralidade carbónica, ao ponto de a exposição se estruturar nos temas da descolonização e descarbonização”, disse hoje o presidente da Bienal, Roberto Cicutto, na abertura da apresentação da mostra.

A curadora desta edição, Lesley Lokko, arquiteta de origem ganesa, nascida na Escócia, reforçou a amplitude de temas a serem abordados numa edição que quer como “O Laboratório do Futuro”, com o continente africano como "protagonista”, porque, “se há um lugar neste planeta onde todas as questões de equidade, raça, esperança e medo convergem e se juntam, é África".

“Desde o início”, no ano passado, quando Lesley Lokko assumiu a curadoria e apresentou o tema desta edição, “ficou claro que ‘O Laboratório do Futuro’ representaria a ‘mudança’”, disse hoje a arquiteta, recordando como a montagem da mostra impôs o debate “sobre recursos, direitos e riscos”.

“Os holofotes caíram sobre África e a diáspora africana, aquela cultura fluida e emaranhada de descendentes que se espalha pelo globo. O que queremos dizer? Como mudará alguma coisa aquilo que dizemos? Como irá interagir e influenciar o que outros dizem?”, questionou a curadora.

“Costuma dizer-se que a cultura é a soma total das histórias que contamos a nós mesmos, sobre nós mesmos. Embora seja verdade, o que falta na declaração é qualquer reconhecimento” de que “o alcance e poder” da “voz dominante [...] ignoram grandes áreas da humanidade, a nível financeiro, coletivo e conceptual”, afirmou Lokko, para sublinhar que “é neste contexto que as exposições [da Bienal] importam”.

Para Lokko, o objetivo é que esta edição não traduza uma história única e se revele “um caleidoscópio deslumbrante e conflituoso de ideias, contextos, aspirações e significados”.

O “Laboratório do Futuro” é composto por seis exposições, divididas entre os temas “Força Maior” e “Ligações Perigosas”.

Os projetos do primeiro vão concentrar-se no Pavilhão Central, privilegiando arquitetos africanos ou da diáspora, como Diébédo Francis Kéré, do Burkina Faso, Kabage Karanja, do Quénia, David Adjaye, da Tanzânia, Guillaume Koffi, da Costa do Marfim, e Christian Benimana, do Ruanda.

O Arsenal, outra das principais áreas da Bienal, acolherá “Ligações Perigosas” da arquitetura a outras disciplinas, através de profissionais dos cinco continentes, como Serge Attukwei Clottey, do Gana, Paulo Tavares e Glória Cabral, do Brasil, o francês Léopold Lambert, do projeto Funambuliste, aos quais se juntam, em “participação especial”, o cineasta e arquiteto israelita Amos Gitai, o fotógrafo James Morris, do País de Gales, e o “poeta da arquitetura” Lionheartfelt, de Londres.

Os “projetos especiais” da curadora, que abordam temas desde alimentação, agricultura e alterações climáticas, até questões de género, geografia e memória, contam com 30 participantes, como o gabinete Black Females in Architecture, de Londres, e Cartografia Negra, do Brasil, além do Banga Colectivo, incluído nos valores emergentes (“Convidados do Futuro”).

A colaboração da Bienal com o Museu Victoria & Albert de Londres traduzir-se-á na exposião “Modernismo Tropical: Arquitetura e Poder na África Ocidental”, atravessando símbolos do passado colonial, testemunhando em simultâneo a ruptura com esse passado, disse o diretor do museu britânico, Tristram Hunt, na apresentação de hoje.

A representação oficial portuguesa, apresentada na semana passada, é feita pelo projeto “Fertile Futures”, com curadoria de Andreia Garcia, que aborda a escassez de água doce e a busca de soluções para a gestão sustentada de recursos hídricos, com base em sete casos nacionais: “o impacto da Gigabateria na bacia do Tâmega; a quebra da convenção no Douro Internacional; a extração mineira no Médio Tejo; a imposição de interesses na Albufeira do Alqueva; a anarquia no perímetro de rega do Rio Mira; a sobrecarga das lagoas na Lagoa das Sete Cidades e o risco de aluviões nas Ribeiras Madeirenses”.

A pré-abertura da 18.ª Bienal de Arquitetura de Veneza acontecerá nos dias 18 e 19 de maio, e a entrega dos prémios às representações nacionais será feita na abertura, a 20 de maio.


Fonte: Lusa | 21 de fevereiro de 2023

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