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Manuel S. Fonseca recorda a Luanda da sua infância e adolescência num livro pessoalíssimo
Um retrato doce de Luanda, de Angola, de 1959 a 1976, Crónica de África conta-nos, com um pingo de nostalgia, como foram as vivências de quem teve a felicidade de crescer nos trópicos.
São aventuras carregadas de magia, histórias de «quase delinquência», de um tempo que Manuel S. Fonseca sabia que haveria de acabar, mas que permanece eterno na sua memória. Afinal, como diz Pedro Norton no prefácio da obra, «Todas as infâncias felizes se fazem de eternidade. À do Manel, acompanha-a um prato de búzios.» Um livro para quem nunca esquecerá África, mas também para quem sonha conhecê-la, Crónica de África chega agora à rede livreira nacional, estando, desde já, disponível em pré-venda, através do site da Guerra e Paz Editores e das principais plataformas de comercialização de ebooks.
A este livro, o escritor Eugénio Lisboa chamou «a esbeltíssima narrativa, um documento precioso de um lugar e de uma época», dizendo, depois de lhe dedicar o poema África Minha, que «É um daqueles livros raros, dos quais, após a leitura, apetece dizer o que dizia Montherlant dos livros da grande Colette: “C’est ça!”»
Há caranguejos indolentes e candengues a cair dos ramos das mangueiras, há um Dois Cavalos em fogo e Debra Winger a cantar A Banda, de Chico Buarque, no Bairro Operário. Há a voz rouca do kota Elias diá Kimuezo, o cantor de Ressurreição. Nas páginas desta Crónica de África, de Manuel S. Fonseca, autor, editor, de quem se conhecem ligações ao cinema e à televisão, há uma declaração de amor à Luanda dos anos 1960 e 1970, que que o viu crescer. Tinha cinco anos quando chegou a Angola e conta-nos: «O meu pai tinha então uma motorizada e um bandolim. E foi assim que eu comecei a ser feliz em Angola».
Nesta obra pessoalíssima, o autor convida-nos a visitar os lugares onde foi feliz. Mergulha connosco na Ilha de Luanda e no Mussulo. Guia-nos pelo musseque Sambizanga e pelas ruas da Vila Alice, bairros míticos de Luanda. Leva-nos, pela mão, num «arrepio nostálgico de Bob Dylan», à Missão de São Paulo, para nos apresentar a Dona Emília, professora primária que o imaginou a chegar a Papa e, depois, devidamente trajado com os seus calções curtos, às salas do Liceu Salvador Correia, «o mais bonito liceu do mundo» ao qual declara um amor perene, citando Nelson Rodrigues: «Sempre escrevo que todo "amor é eterno e, se acaba, não era amor."».
Convida-nos para aventuras carregadas de ternura, histórias de magia, sonho e um pingo de nostalgia. Convida-nos a reviver, à boleia de um Austin A40 Devon, uma adolescência repleta de histórias de «quase delinquência», mas também de inocência como a de um chimpanzé que bebe Coca-Cola ou a dos miúdos que saltaram de um segundo andar de pára-quedas. Tudo isto em dói capítulos inspirados pela vida, entre uma lágrima e muito riso, e um terceiro sobre a independência de Angola, que conta o primeiro réveillon revolucionário: «A carne talvez fosse fraca, o sal seria um veneno, mas nunca o molho pareceu tão bom.»
No prefácio, Pedro Norton fala-nos da amizade «rija» que mantém com Manuel S. Fonseca e do facto de lhe conhecer boa parte da infância, apesar de não se terem cruzado naqueles tempos da Vila Alice. Diz-nos Norton que «o que é verdadeiramente raro é ter amigos que nos convidam para uma infância que não vivemos. Que nos abrem as portas a memórias muito suas e que, com uma generosidade que é só deles, querem que as façamos nossas. O Manel é um amigo desses.» Agora, tal como Pedro Norton, também os leitores poderão passar pelas portas que o autor abriu.
Este é o quinto livro que Manuel S. Fonseca publica com a chancela da Guerra e Paz, depois de nos cantar os 1001 termos do falar de Luanda no Pequeno Dicionário Caluanda, de nos falar da Revolução de Outubro «sem edulcorantes», de nos apupar com O Pequeno Livro dos Grandes Insultos e de nos surpreender com Que Salazar Era o Salazar de Fernando Pessoa?.
Crónica de África
Manuel S. Fonseca
Não-Ficção / Crónica
182 páginas · 15x23 · 16,00 €
Nas livrarias a 22 de fevereiro de 2023