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Implacável retrato do colonialismo britânico que marcou a estreia de George Orwell no mundo do romance
Um romance cáustico, acelerado e intemporal, Os Dias da Birmânia de George Orwell, mostra-nos o lado sórdido do Raj britânico, descrevendo em detalhe as misérias, a intolerância e a segregação racial de uma sociedade sem remissão.
Nove décadas depois da sua primeira edição, o romance de estreia de Orwell, baseado na vivência pessoal do autor na Índia britânica, o seu país de origem, é recuperado e publicado em Portugal pela Guerra e Paz Editores. Os Dias da Birmânia chega à rede livreira nacional, numa tradução de Helder Marques, incluída na colecção «Admirável Mundo do Romance», coleção que traz aos leitores clássicos recentes da literatura universal.
Em 1934, George Orwell, uma das vozes mais lúcidas e ricamente matizadas do século xx, denunciou os abusos, as desigualdades e os episódios vergonhosos de um Raj britânico em queda no romance Os Dias da Birmânia, através da voz de James Flory, uma das suas personagens mais complexas e apaixonantes, inspirada na experiência do autor como polícia imperial na Birmânia, atual República da União de Myanmar, durante cinco anos.
No livro, que retrata a degradante sociedade birmanesa dos anos 1920, acompanhamos a tomada de consciência de Flory, um solitário e enfadado comerciante de madeira que começa a ver como fútil o domínio inglês sobre aqueles antigos territórios indianos. Convicção que ganha ainda maior sentido quando o «Clube Europeu», exclusivo para homens brancos, nega a entrada ao Dr. Veraswami, um médico local com o qual tem uma estreita amizade.
A partir desse momento, Flory é invadido por um conflito pessoal que o levará a questionar se será capaz de seguir o que a sua consciência lhe dita e defender o seu amigo. «Mesmo a amizade tem uma existência precária quando todo o homem branco não passa de uma peça na engrenagem do despotismo. A liberdade de expressão é impensável. Todas as outras formas de liberdade são permitidas. É?se livre para ser bêbado, preguiçoso, cobarde, intriguista, fornicador; mas não se é livre para pensar por si próprio.»
Para complicar ainda mais a vida do protagonista, Orwell fá-lo cruzar-se com Elizabeth, uma jovem inglesa, solteira e anti-intelectual, vinda de Paris que encanta Flory com os seus curtos cabelos loiros. Flory vai encontrar nela um escape para a solidão e para as «mentiras» da vida colonial, acalentando a esperança de construir uma vida digna. Terá ele forças para, no meio de tanta angústia, lutar pela sua felicidade e pelo fim da miserável realidade que o rodeia?
Considerado pela jornalista norte-americana Emma Larkin «o único texto importante sobre o país», Os Dias da Birmânia assume-se, praticamente 90 anos depois da sua primeira publicação, como um texto intemporal. Opinião partilhada por Joyce Thompson. Diz a escritora que essa «triunfal intemporalidade» resulta das «observações perfeitas do comportamento humano», assim como da «formidável capacidade de conjuração e uma prosa sem floreados».
Razões de peso para dar nova vida ao romance. Os Dias da Birmânia chega à rede livreira nacional numa edição Guerra e Paz, traduzida por Helder Marques, que reforça a colecção «Admirável Mundo do Romance».
Admirável Mundo do Romance
Os Dias da Birmânia
George Orwell
Ficção / Romance
288 páginas · 15x23 · 18 €