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Alfredo Campos Matos (1928-2023)
Figura multifacetada, o arquiteto Alfredo Campos Matos é uma referência da cultura portuguesa, em especial entre os cultores da obra de Eça de Queiroz e dos companheiros da Geração de 1870.
Há muito amigo do Centro Nacional de Cultura sempre soube ligar a sua competência técnica ao profundo amor à memória de Eça de Queiroz. Foi, assim, um ativista de uma visão dinâmica da herança e do diálogo cultural. E essa memória representou um respeito intransigente pela ideia de que as Humanidades obrigam à compreensão do mundo na sua complexidade. Se foi um arquiteto e urbanista com obra feita de grande qualidade, soube sempre associar a noção de património cultural à ideia de vivência da cultura como sementeira de ideias.
A Campos Matos se deve a edição anotada e organizada da correspondência inédita entre o escritor e sua mulher, Emília de Castro, depositada na Fundação Eça de Queiroz. Ou ainda uma outra, compilando as cartas de amor de Anna Conover e Mollie Bidwell para Eça, desvendando facetas da personalidade do escritor que as biografias tradicionais ainda não tinham ainda mostrado. Em termos de publicações queirosianas, para Campos Matos tudo começou em 1976, com a publicação de Imagens do Portugal Queirosiano, continuando com Dicionário de Eça de Queiroz, obra de vários autores por si coordenada, publicada originalmente em 1988, já na terceira edição, revista e ampliada, sob a chancela da Imprensa Nacional Casa da Moeda, em parceria com a Imprensa Oficial do Governo do Estado de São Paulo e a Academia Brasileira das Letras. Publicou ainda Eça de Queiroz – uma Biografia (Grande Prémio de Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores); Fotobiografia; Diário Íntimo de Carlos da Maia (1839-1930), de 2017; Correspondência de Eça de Queiroz (2 volumes). Dedicaria ainda vários estudos a António Sérgio.
Nascido na Póvoa de Varzim (terra natal de Eça de Queiroz), em 1928, Alfredo Campos Matos não proveio, todavia da área dos Estudos Literários. Licenciado em Arquitetura pela Universidade do Porto, com uma forte tradição fez carreira como arquiteto e urbanista na então designada Direção Geral de Urbanização e foi bolseiro da Fundação Gulbenkian para o estudo das novas cidades e problemas de reabilitação urbana, tendo, nessa qualidade, viajado diversas vezes por países como Suécia e Finlândia, França, Holanda, Alemanha e Inglaterra. Nesse âmbito colaborou numa tarefa pioneira em Portugal, incentivada pelo seu diretor-geral, Sá e Melo, com vista à criação de uma metodologia para classificação e proteção dos centros históricos e respetivas paisagens urbanas. Realizou vários trabalhos na Fuseta (1970), Ferragudo, Praia da Luz, Évora, Olhão (1970), Ponte de Lima. No começo da sua carreira de arquiteto publicou a monografia ilustrada Algumas Considerações sobre Problemas da Arquitetura Contemporânea e Breve História da Arquitetura. Foi autor, na equipa de Costa Lobo, do plano de urbanização do Centro Comercial da base aérea de Beja, em 1964. Nessa mesma equipa realizou estudos de urbanização e trabalhos de arquitetura para Vilamoura, no Algarve.
O Centro Nacional de Cultura homenageia a sua memória e apresenta à família sentidas condolências.