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Uma Temporada no Inferno: edição bilingue do clássico de Rimbaud reforça coleção "Livros Negros"
Um dos grandes livros da poesia mundial. Uma Temporada no Inferno é uma obra fortemente autobiográfica, marcada pelo grande escândalo literário do fim do século XIX, em França: a curta mas intensa e conturbada relação de Rimbaud com Paul Verlaine, que influenciou profundamente a poesia de Arthur Rimbaud.
Inserida no simbolismo francês, Uma Temporada no Inferno viria a assumir-se como um clássico absoluto da poesia e influenciou autores surrealistas como André Breton e Mário Cesariny de Vasconcelos. Um século e meio depois, a obra, que marca o enigmático «suicídio poético» de Rimbaud, é recuperada pela Guerra e Paz, numa edição bilingue (português e francês), com tradução do poeta João Moita e um texto de apresentação do editor Manuel S. Fonseca. Disponível na rede livreira nacional a partir de dia 22 de novembro de 2022, Uma Temporada no Inferno será incluída na coleção «Livros Negros», que soma qualidade literária a um pendor de controvérsia ou de escândalo.
«Venha, querida grande alma, nós chamamo?lo, nós esperamo?lo.» Quando, em setembro de 1871, o jovem Arthur Rimbaud, a um mês de completar 17 anos, bateu à porta de Paul Verlaine, a convite do poeta maior do simbolismo francês, este não imaginava a vertigem de poesia, boémia e absinto em que mergulhariam juntos. A relação de ambos viria a superar as barreiras da experimentação poética, e o escândalo gerado pelas extravagantes aparições públicas dos dois amantes levou-os a abandonar Paris. Foram esconder esse cortejo de paixão, vício e violência, primeiro na Bélgica, depois em Londres. Passar-se-iam meses de sexo nómada, estadas turbulentas, de corpos e espíritos rebeldes e inquietos, de separações e reconciliações, até à rutura total, após Verlaine balear o seu amante num pulso.
Não seria a última vez que se voltariam a ver, mas, rejeitado, Rimbaud – o adolescente Casanova, como um dia Verlaine lhe chamou – quis libertar-se daquela longa visita ao Inferno, expurgando num último livro as suas memórias e inquietações, antes de partir numa viagem de absoluto silêncio pelo deserto africano. Nascia assim Uma Temporada no Inferno.
Na obra, de cuja primeira edição, em 1873, Rimbaud teve acesso a apenas sete exemplares, «a miragem da explicação autobiográfica torna-se obsidiante: como escapar à tentação de ver na “Virgem louca” a silhueta de Verlaine? Como escapar a ver nos demónios, satanás, infernos de cada verso, o turbilhão de alucinações que assombrou e aterrou o ainda tão novo Rimbaud, a sua tendresse de apenas 18 anos? Como não ver que, nos versos deste Inferno, se transfiguram as nuvens de loucura, de convulsão que, de maio de 1872 a julho de 1873, geraram uma tempestade extrema no íntimo da criança perdida em Londres?» Uma coisa é certa: «com o absinto e com Verlaine, a poesia de Rimbaud mudou. Há um Rimbaud pré?Verlaine, até “Le Bateau ivre”, e há o Rimbaud de que este livro é exemplo, introspetivo e existencial, subversivo na forma e na sua quase sempre esplêndida opacidade.»
A todas as dúvidas, soma-se a do «suicídio poético». O que levou Rimbaud, com apenas 19 anos, a decidir não mais publicar? Na nota que apresenta esta edição, Manuel S. Fonseca explica que, «em novembro de 1873, em Charleville, Rimbaud terá queimado alguns dos seus papéis. Mas não queimou a sua obra e não são evidentes e muito menos inequívocos os sinais de que tenha renunciado à literatura. Fez, é certo, o mais célebre “suicídio poético” da história da literatura, mas há sinais de que não renunciou à poesia que tinha escrito e à obra que deixou, mito de que é responsável uma vigilante irmã, Isabelle, em modelo politicamente correto do século XIX.»
Sobre o silêncio de Rimbaud, João Moita, que assina a tradução desta nova edição da Guerra e Paz, sublinha numa nota final que o poeta «disse quem era, ao que tinha vindo e como falhara. Descreveu o Inferno e deu-lhe o seu verdadeiro nome: esperança. E depois calou-se. Rimbaud não foi precoce, nós é que somos tardios. E eloquentes. Muito para lá do nosso tempo. É por isso que não somos Rimbaud.»
Um clássico absoluto da poesia do século XIX, que o próprio Rimbaud designou como «livro negro» numa carta para Ernest Delahaye, Uma Temporada no Inferno só poderia ser editado pela Guerra e Paz na coleção «Livros Negros», que soma qualidade literária a um pendor de controvérsia ou de escândalo. A obra estará disponível, quer na rede livreira nacional, quer no site da editora.
Uma Temporada no Inferno
Arthur Rimbaud
Ficção / Poesia
128 páginas · 15x20,5 · 13,00€
Guerra e Paz, Editores