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Parabéns Aniki-Bobó! 80 Anos!

Tolentino de Mendonça, Irene Flunser Pimentel, Maria João Madeira e Valter Hugo Mãe protagonizarão uma série de conversas, a que se juntam uma exposição e um ciclo de cinema sobre este histórico filme, numa iniciativa que irá celebrar, na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, os 80 anos desta obra seminal do Cineasta.

EXPOSIÇÃO, CICLO CINEMA E DE CONVERSAS
ANIKI-BÓBÓ - 80 ANOS
DE 02 NOV A 18 DEZ
Auditório da Casa do Cinema Manoel de Oliveira

A 18 de dezembro de 1942, estreava no Cinema Éden, em Lisboa, Aniki-Bóbó, a primeira longa-metragem de Manoel de Oliveira. O filme não teve a receção que se esperava, nem por parte de alguma crítica (que o considerou subversivo), nem por parte do público (que afluiu escassamente às salas para o ver), o que fez com que o realizador tivesse ficado catorze anos sem filmar. De facto, só em 1956 conseguiria realizar o documentário O Pintor e a Cidade e seriam necessárias três décadas para voltar às longas de ficção, com O Passado e o Presente, estreado em 1972.

Entretanto, Aniki-Bóbó adquiriu o estatuto de “clássico” tendo-se tornado no mais acarinhado e popularizado dos filmes de Oliveira. Isso terá resultado, em grande medida, da trama infantil que adapta o conto de Rodrigues de Freitas, "Os Meninos Milionários", e da escolha dos atores-crianças que o protagonizam.

Em 2022 celebram-se, portanto, os 80 anos dessa estreia. Para assinalar a data, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira apresentará uma exposição documental no foyer do seu auditório a partir do acervo do realizador, onde se darão a ver documentos de trabalho e de divulgação relacionados com o filme.

Paralelamente, propõe-se ainda um ciclo de conversas em torno do legado histórico e estético de Aniki-Bóbó (com a participação de historiadores, escritores e cinéfilos de diferentes áreas) e um ciclo de cinema que pretende estabelecer relações entre esse filme seminal da obra de Manoel de Oliveira e a sua obra posterior, bem como averiguar referências e ecos temáticos com outros autores, colocando-o igualmente em diálogo com o cinema mundial.

No dia do aniversário, a 18 de dezembro, será apresentada uma sessão especial do filme.

  • C I C L O   D E   C O N V E R S A S

02 NOV | QUA | 19H00
IRENE FLUNSER PIMENTEL

Historiadora e escritora 

Irene Flunser Pimentel é licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, mestre em História Contemporânea (século XX) e doutorada em História Institucional e Política Contemporânea, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC, da Universidade Nova de Lisboa). Elaborou diversos estudos sobre o Estado Novo, o período da II Guerra Mundial, a situação das mulheres e a polícia política durante a ditadura de Salazar e Caetano. É autora e co-autora de diversos artigos em revistas de referência e de mais de uma vintena de livros.

De entre os vários prémios, destacam-se: História das Organizações Femininas do Estado Novo, prémio Carolina Michaelis, 1999; A História da PIDE, prémio especial da revista Máxima, 2008; Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Em Fuga de Hitler e do Holocausto, prémio Adérito Sedas Nunes, atribuído pelo Instituto de Ciências Sociais, 2007; prémio Pessoa, atribuído pelo Expresso e a Unysis, 2007, Holocausto, prémio da Fundação Calouste Gulbenkian/Academia Portuguesa de História de «História da Europa», 2021.

Recebeu em 2015 a insígnia de Chevalier de la Légion d’Honneur pela sua extensa obra académica e investigação precursora sobre a ditadura portuguesa.

 

15 NOV | TER | 19H00
JOSÉ TOLENTINO DE MENDONÇA

Cardeal, escritor e teólogo 

José Tolentino Calaça de Mendonça iniciou os estudos de Teologia em 1982 e foi ordenado padre em 1990, tendo sido nomeado, em 2011, consultor do Conselho Pontifício da Cultura.

Poeta, ensaísta, sacerdote e professor, é autor de numerosos livros, que o tornaram conhecido pelos portugueses dos mais diversos quadrantes, tendo estudado Ciências Bíblicas em Roma e vivido em Lisboa, onde foi professor e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, a instituição que escolheu para o doutoramento em Teologia Bíblica.

Foi criado cardeal em 05 de outubro de 2019 pelo Papa Francisco, desempenhando até setembro de 2022 as funções de arquivista e bibliotecário do Vaticano. Atualmente é prefeito do novo Dicastério para a Cultura e a Educação, criado no âmbito na renovação da Cúria Romana.

Entre as várias funções eclesiásticas que exerceu, foi publicando uma vasta obra de poesia, ensaio e teatro, distinguida com vários prémios, de entre os quais o Prémio Cidade de Lisboa de Poesia (1998), o Prémio Pen Club de Ensaio (2005), o italiano Res Magnae, para ensaio (2015), o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE (2016), o Grande Prémio APE de Crónica (2016) e o Prémio Capri-San Michele (2017). Em 2020, venceu o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, pelo seu contributo enquanto divulgador da cultura e dos valores europeus.

23 NOV | QUA | 19H00
MARIA JOÃO MADEIRA

Programadora da Cinemateca Portuguesa 

Licenciou-se em Comunicação Social na Universidade Nova de Lisboa em 1992, depois de fazer jornalismo na rádio. Trabalha na Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema desde 1993, integrando a equipa de Programação a partir de 1998 e aí desenvolvendo atividades de conceção e organização de retrospetivas e ciclos temáticos, produção de textos e catálogos. Tem publicado textos sobre cinema em diversas edições e mantido uma atividade regular de tradução, sobretudo de filmes

28 NOV | QUA | 19H00
VALTER HUGO MÃE

Escritor, editor e artista plástico 

valter hugo mãe é o nome artístico do escritor Valter Hugo Lemos. Além de escritor é editor, artista plástico e cantor português. Nasceu na cidade angolana outrora chamada Henrique de Carvalho, atual Saurimo.

Passou a infância em Paços de Ferreira e em 1980 mudou-se para Vila do Conde. Licenciou-se em Direito e fez uma pós-graduação em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Em 1999 fundou com Jorge Reis-Sá a Quasi edições. Em 2001, ainda na Quasi, co-dirigiu a revista Apeadeiro e em 2006 fundou a editora Objecto Cardíaco.

Em 2007 recebeu o Prémio Literário José Saramago, durante a entrega do qual o próprio José Saramago considerou o romance o remorso de baltazar serapiã oum verdadeiro "tsunami literário".

Para além da escrita tem-se dedicado ao desenho, com uma primeira exposição individual inaugurada em maio de 2007, no Porto, e à música, tendo-se estreado como voz do grupo O Governo em janeiro de 2008, no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

  • C I C L O   D E   C I N E M A 

05 NOV | SÁB | 17H00
ZÉRO DE CONDUITE
Jean Vigo
FR | 1933 | 41 min. 

Zéro de conduite, o mais celebrado dos filmes de Jean Vigo, retrata as falhas e limitações do sistema educativo francês dos anos 1930, através de um grupo de rapazes que se rebela contra o seu repressivo professor, o que não deixa de ter afinidades com as tendências anarquistas do próprio realizador. O filme viria a ser uma forte influência para Manoel Oliveira na realização de Aniki-Bobó, em especial no que respeita à inocência, socialmente consciente, com que se retrata a infância. Como recordaria mais tarde o realizador português, “vi Zéro de conduite […], mas já depois de ter realizado o meu primeiro documentário Douro, Faina Fluvial, numa posterior viagem, aliás a primeira que fiz a Paris, em que pude ver dele todos esses filmes que só conhecia por leituras, na Cinemateca, graças a Madame Meerson Merson [1902-1993, companheira de Henry Langlois, fundador e diretor da Cinemateca Francesa], assim como filmes de outros realizadores, impossíveis de serem vistos em Portugal, naquela época.” Esta visão retrospetiva da obra de Vigo seria marcante para Oliveira, não só na realização de Aniki-Bóbó, como, anos mais tarde, na realização do documentário Nice… À propos de Jean Vigo (1983) sobre o realizador francês e a sua relação (cinematográfica) com a cidade de Nice.

LITTLE FUGITIVE
Ray Ashley, Morries Engel, Roth Orkin
USA | 1953 | 80 min. 


Se há filme norte-americano que influenciou a Nouvelle Vague francesa, esse filme é Little Fugitive. Em boa verdade, Les Quatre cents coups (1959), de François Truffaut, resulta do impacto que Zéro de conduite e Little Fugitive tiveram sobre ele (“A Nouvelle Vague nunca teria existido se não fosse o jovem norte-americano Morris Engel, que nos mostrou o caminho da produção independente”). Realizado por um conjunto de fotógrafos de rua – além de Engel, o filme é coassinado pela fundamental fotógrafa e fotojornalista Ruth Orkin, responsável também pela montagem, e por Raymond Abrashkin; quanto a Ray Ashley, além da realização e produção escreveu o argumento –, este filme reinventou uma relação com o exterior (do estúdio), com os atores (não profissionais) e com a cidade (neste caso Nova Iorque), aproveitando a singeleza de um olhar infantil e a inovação de uma pequena câmara portátil para enveredar por um périplo urbano através dos bairros de Brooklyn e Coney Island. Lennie, o irmão mais velho de Joey, prega-lhe uma partida que envolve ketchup e uma pistola de brincar. Acreditando ter cometido um homicídio e receando ser levado pela polícia, Joey apanha o comboio e passa dois dias à deriva, entre atrações de feira e uma noite ao relento.

  

19 NOV | SÁB | 17H00
A CAIXA
Manoel de Oliveira
PT | 1994 | 100 min. 

A Caixa é uma adaptação da peça de teatro homónima de Vicente Sanches. Rodado nas Escadinhas de São Cristóvão, na Mouraria (em Lisboa), diariamente atravessadas por uma multidão apressada, o filme trata esse espaço como um mundo fechado, um microcosmos de crueldade e sobrevivência. A Caixa é, no seu tom sarcástico, uma comédia negra. Das personagens castiças que o povoam, Manoel de Oliveira dirá que podem ser vistas como se fossem as crianças de Aniki-Bóbó (1942) em adultos e, do mesmo modo, podermos olhar para as figuras de O Gebo e a Sombra (2012) como estas mesmas personagens em velhos. Três tempos históricos – o início dos anos 1940 e a Guerra; o período que se seguiu à adesão de Portugal à CEE; a crise que se viveu na primeira década do século XXI; e um mesmo olhar crítico de Manoel de Oliveira sobre as contradições que, ao longo do seu século, foram marcando o imaginário da atualidade.

20 NOV | DOM | 17H00
O GEBO E A SOMBRA
Manoel de Oliveira
PT, FR | 2012 | 95 min. 


O Gebo e a Sombra foi a última longa-metragem realizada por Manoel de Oliveira e a sua primeira aproximação à obra dramática de Raul Brandão. Interrogado sobre necessidade de fazer um filme sobre a crise que se abatera em Portugal e a pobreza que esta gerara, Oliveira terá respondido, “Esse filme seria extremamente difícil de realizar, a menos que fosse um documentário onde pudesse mostrar diferentes formas de pobreza. E então lembrei-me da peça do Raul Brandão, O Gebo e a Sombra, que lida com pobreza e honestidade.” Gebo trabalha como contabilista para sustentar a família, Doroteia, a mulher, e Sofia, a nora (apesar da sua idade avançada e de esse trabalho lhe dar pouco sustento financeiro). A existência daquelas três pessoas é triste e monótona, girando à volta da ausência de João, o filho, que ninguém sabe onde está ou por que razões partiu. Até que, sem que já ninguém o esperasse, João regressa. Como escreveram António Preto e Mathias Lavin, nos Cahiers du Cinéma, aquando da estreia do filme, “Manoel de Oliveira disse uma vez que as personagens de A Caixa (1994) podiam ser as crianças de Aniki Bóbó (1942) em adultas, são porventura estas mesmas figuras que reaparecem em O Gebo e a Sombra, agora em velhas. É, efetivamente, à luz desses dois filmes que a mais recente realização de Oliveira pode ser entendida.”

 

26 NOV | SÁB | 17H00
THE NIGHT OF THE HUNTER
Charles Laughton
USA | 1955 | 93 min. 


Alto, com boa presença, e com as palavras “amor” e “ódio” tatuadas nos dedos das mãos, o Reverendo Harry Powell (Robert Mitchum) passeia-se pelo campo pregando o Evangelho, enquanto vai deixando atrás de si um rasto de mulheres assassinadas. Para ele, a palavra do Senhor tem mais a ver com condenar almas do que propriamente salvá-las. Agora os seus olhos estão postos em 10 mil dólares, cujo paradeiro é conhecido apenas por duas crianças. Um filme de terror com qualidades próximas dos contos de fadas de Grimm, onde em vez de um ogre há um serial killer e os dois irmãos em fuga estão à guarda de uma estranha mother goose (Lilian Gish), cortejada pelo assustador Reverendo. Esta única incursão de Charles Laughton na realização (do que resultou um completo fracasso comercial à época) é reconhecida de forma unânime como um dos mais importantes filmes da história do cinema. Um extraordinário film noir que faz a ponte, de passagem obrigatória, entre o cinema clássico e o moderno, com uma nova exploração da iluminação expressionista. Ponte essa que Aniki-Bóbó já anunciava, no modo como fazia conviver tanto a influência expressionista com os temas e as preocupações do que viria, pouco depois, a ser o neorrealismo italiano.

 

05 DEZ | SÁB | 17H00
EN RACHÂCHANT
Danièle Huillet, Jean-Marie Straub
FR | 1982 | 7 min. 

Baseado no conto de Marguerite Duras “Ah! Ernesto!” (publicado em 1971), En rachâchant retrata, em apenas sete minutos, um rapazito teimoso e precoce, com os seus óculos de massa e lentes fundas, que concretiza o sonho de todos os seus amigos e colegas de turma: mandar à merda o professor, e tudo o que ele representa (a escola, a pedagogia, o ensino centralizado, a família, o estado, a nação). Uma comédia subversiva que tem pontos afinidades com Aniki-Bóbó, nomeadamente com a sequência da sala de aula. Apesar de no filme de Manoel de Oliveira o confronto com a autoridade ser mais sub-reptício, a paródia à figura do educador é igualmente crítica, o que não deixou de causar incómodo junto dos setores mais conservadores aquando da sua estreia.

 

LES QUATRE CENTS COUPS
François Truffaut
FR | 1959 | 99 min. 

Antoine Doinel tem catorze anos. Na escola, não para de arranjar problemas com a professora, que o castiga por ter escrito nas paredes da sala de aula. Em casa, os pais são indiferentes à sua presença e não sabem o que fazer com ele durante as férias. Antoine faz gazeta à escola com o colega René e surpreende a mãe nos braços do seu amante. A vida de Antoine parece que será vivida sob o signo da mentira e do desenrasque. Filmado a preto e branco e em formato panorâmico, Les Quatre cents coups, de François Truffaut, é um dos atos fundadores do cinema moderno. Parcialmente autobiográfico, conta a história de um adolescente mal-amado, que comete pequenos delitos e é friamente mandado pelos pais para um reformatório, de onde acaba por fugir, numa célebre cena, tão realista quanto simbólica. Em completa oposição ao cinema francês de então, o filme instaura uma nova relação com os atores, com o espaço e com a narrativa (inspirando-se em Little Fugitive e Zéro de conduite). A primeira longa-metragem de François Truffaut (que tinha então 27 anos – e Jean-Pierre Léaud apenas 14) aborda as questões de uma infância solta e revoltada, como o fizera Manoel de Oliveira (então com 34 anos) em Aniki-Bobó, também esta a sua primeira longa-metragem.

 

16 DEZ | SEX | 19H00
SCIUSCIÀ
Vittorio De Sica
IT | 1946 | 87 min. 


Roma, 1945, a guerra chegou ao fim. Duas crianças desfavorecidas, Giuseppe e Pasquale, dedicam-se ao mercado negro para concretizarem o seu sonho: comprar um cavalo. São rapidamente apanhados e enviados para uma prisão de menores, onde reina a crueldade e a violência. Testemunho direto da miséria social que inundou a Itália do pós-guerra, situando-se deliberadamente longe do cinema de estúdio e valendo-se de atores e cenários escolhidos pela sua aparente simplicidade, Sciuscià antecipa, em dois anos, o filme mais emblemático de Vittorio De Sica, Ladri di biciclette (Ladrões de Bicicletas). Se Ossessione (1943), de Luchino Visconti, é tido como o primeiro filme neorrealista italiano (apesar de ter sido proibido pela censura, tendo apenas sido mostrado depois do fim da guerra), Sciuscìa e Roma città aperta (1945) sairiam logo depois, impondo os nomes de De Sica e Rossellini como as outras duas figuras de proa desse movimento. Vários foram os críticos e historiadores que argumentaram que Aniki-Bóbó é um título precursor do neorrealismo italiano – dada a coincidência temporal, o foco no olhar infantil, o trabalho com não-atores e a preocupação em filmar uma história de pobreza em exteriores reais – apesar de ser hoje consensual que Aniki-Bóbó partilha mais semelhanças com movimentos estéticos como o expressionismo e o realismo poético.

 

17 DEZ | SÁB | 17H00
VERTIGO
Alfred Hitchcock
USA | 1958 | 128 min. 

John Ferguson (James Stewart) é um ex-polícia que sofre de vertigens. Contratado para seguir a sua mulher (Kim Novak), acaba por desenvolver uma paixão obsessiva por ela. Só que nem tudo é o que parece, como a tradução portuguesa dá a entender: A Mulher que Viveu Duas Vezes. Duas mulheres que são uma só e um homem que numa procura recriar a imagem que tem da “outra”. A obra-prima de Alfred Hitchock é uma celebração funesta e perversamente necrófila do amor romântico que avança em estado febril até à eclosão da tragédia. Em 2012, na sondagem da revista Sight & Sound, que só acontece uma vez por década, o filme foi considerado o melhor de toda a história do cinema.

Os filmes de Hitchcock foram fundamentais para Manoel Oliveira, em particular, Rebecca (1940). Estreado em Portugal em janeiro de 1941, quando Manoel de Oliveira se preparava para rodar Aniki-Bóbó (que estrearia no final do ano seguinte), o filme marcou profundamente o realizador português. Como viria a lembrar, “Rebecca é um filme ardiloso, muito bem concebido e estruturado. Esse […] [filme] influenciou-me muito, antes de eu fazer o Aniki-Bobó.” Acrescentado “É claro que o meu filme não se parece nada, […] com o do Hitchcock.” E se, de facto, esses dois filmes não se parecem, já o mesmo não pode ser dito de Vertigo e Aniki: a mesma obsessão de um homem/rapaz por uma mulher/rapariga e o mesmo mecanismo de substituição do objeto do desejo por uma espécie de duplo totémico (no caso de Oliveira, literalmente uma boneca), a mesma recorrência da queda como representação da culpa, a mesma dimensão psicanalítica, o mesmo entrelaçamento entre sonho e realidade, a tematização do olhar como forma de posse e o espaço da montra como súmula erótica dos desejos, irrealizáveis, das personagens.

 

18 DEZ | DOM | 17H00
ANIKI-BÓBÓ
Manoel de Oliveira
PT | 1942 | 71 min. 

Aniki-Bóbó é a primeira longa-metragem de ficção de Manoel de Oliveira, que só três décadas depois, com O Passado e o Presente (1972) voltaria a esse formato. Este longo hiato deveu-se, em parte, à má receção que o filme à época da sua estreia, tanto por parte de alguma crítica especializada (que o considerou subversivo), como pelo público (que não afluiu às salas para o ver). Aniki-Bóbó tornou-se, entretanto, no mais querido e popularizado dos filmes do realizador. Isso resulta, em grande medida, da trama infantil que adapta o conto de João Rodrigues de Freitas, "Os Meninos Milionários", e da escolha dos atores-crianças que o protagonizam. Eduardinho é o mais destemido e o líder do grupo de crianças que passa o dia entre a escola e as ruelas junto à Ribeira, Carlinhos é louro e sensível; ambos disputam Teresinha, a única menina do grupo. Filmado no verão de 1940, para aproveitar as férias escolares, Aniki-Bóbó seria rodado no Porto, em Gaia e também em Lisboa, no estúdio da Tobis Portuguesa (para todas as cenas de interiores e para a famosa cena do telhado). Esta sessão acontece no exato dia em que se comemoram os 80 anos da estreia do filme, exibido pela primeira vez a 18 de dezembro de 1942 no Cinema Éden, em Lisboa.

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