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Em Famalicão, o cinema é uma família

De volta à Casa das Artes, até 22 de outubro, o Close-up - Observatório de Cinema propõe filmes-concerto, uma retrospetiva da obra de Catarina Mourão, clássicos italianos e uma exposição de Fellini.

A Vida Depois de Yang - tisana futurista do sul-coreano Kogonada, qual viagem emocional pelas memórias de um androide que tocou todo um núcleo familiar.


Na edição anterior do Close-up, o cinema era celebrado enquanto comunidade: 
procurava-se trazer os espectadores de volta à experiência do grande ecrã, combatendo os hábitos sedentários criados pela pandemia. Este ano, no seu 7.º "episódio" (como, em rigor, se designa), o Observatório de Cinema de Vila Nova de Famalicão estreita ainda mais os laços fraternos e chama família a essa comunidade. Com efeito, é através do conceito de família que alguns dos filmes programados refletem o idioma íntimo do cinema.

Caso de A Vida Depois de Yang, uma tisana futurista do sul-coreano Kogonada, qual viagem emocional pelas memórias de um androide que tocou todo um núcleo familiar, mas também dos documentários A Távola de Rocha, de Samuel Barbosa, retrato cúmplice do cineasta Paulo Rocha, e Jane por Charlotte, o testemunho pela câmara de uma exposição mútua entre Jane Birkin e a sua filha Charlotte Gainsbourg, sem esquecer a mágoa do luto no drama italiano As Irmãs Macaluso, de Emma Dante, e o rebuliço cómico à la Kusturica em Gato Preto, Gato Branco.

Como já vem sendo apanágio do Close-up, um dos pontos altos deste festival intimista são os filmes-concerto. Mantendo a tradição, a Casa das Artes será palco de dois momentos-chave: a abertura, dia 15, faz-se com Melodia do Mundo, de Walter Ruttmann, sinfonia visual do estado do mundo em 1929, acompanhado ao vivo pelos Glockenwise, e o encerramento, dia 22, fica por conta de Frankie Chavez e Peixe (projeto Miramar), que dão música a Memorabilia (2021), de Jorge Quintela, um conjunto de filmes de arquivo em 8mm. Pelo meio, no dia 19 (Teatro Narciso Ferreira), há a revisitação de um dos acontecimentos da História do cinema, O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene, marco do expressionismo alemão aqui musicado por Haarvöl.

Precisamente, no capítulo da memória, o Close-up regressa ainda a dois gigantes do cinema italiano, Michelangelo Antonioni e Pier Paolo Pasolini, no ano do centenário deste último. Oportunidade para (re)ver os clássicos modernos O Grito, A Aventura e O Eclipse, do primeiro, e Accattone, Mamma Roma e Passarinhos e Passarões, do segundo. Filmes que dialogam e contrastam com a exposição de outro mestre conterrâneo, Federico Fellini, composta por desenhos, fotografias e cartazes do cineasta, que pode ser visitada até 30 de dezembro no Foyer da Casa das Artes.

Este ano o destaque português é o cinema documental de Catarina Mourão, uma das realizadoras mais sensíveis do nosso panorama, com um olhar que oscila entre o observacional, profundamente atento às pessoas, e o arquivo íntimo (mais uma vez, a família). Para além de uma masterclass, no dia 21, serão exibidos, entre outros, o mais recente Ana e Maurizio, Desassossego, A Minha Aldeia já não Mora Aqui e A Dama de Chandor.

Para os mais novos, as propostas vão de Jacques Tati (As Férias do Sr. Hulot) e Ari Folman (À Procura de Anne Frank) à febre amarela de Mínimos 2. Como sempre, o Close-up recheia-se de um vasto conjunto de convidados para comentar as sessões, e há ainda apresentações de livros no café-concerto da Casa das Artes. Caso para dizer: são oito dias intensos com a família Cinema em Famalicão.


por Inês N. Lourenço in Diário de Notícias | 16 de outubro de 2022
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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