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“Próxima Paragem” é o novo disco dos Senza e o single do lançamento evoca a luta de Mandela

O terceiro álbum da dupla que tem protagonizado espetáculos por todo o mundo não prescinde da identidade lusófona e mantém os cruzamentos étnicos que vêm conquistando diferentes públicos, mas na sonoridade dos Senza há agora mais rap e novos elementos eletrónicos, o que resulta numa experiência musical de maior modernidade e sofisticação.


Parcialmente produzido durante a pandemia, o disco “Próxima Paragem” confirma a maturidade artística de Catarina Duarte e Nuno Caldeira, insiste na mensagem com conteúdo e reflete sobre temas da agenda mundial como a instrumentalização dos média, a identidade de género e a influência da cor da pele na progressão social. Depois do tema “Sozinha no Mundo”, com a participação especial de Carlão, o segundo single do disco é “Bailarina do Soweto”, composto a partir do contacto dos músicos com a realidade do bairro sul-africano onde viveu o líder anti-apartheid Nelson Mandela (1918-2013).

“Próxima Paragem” é o novo disco dos Senza e chega hoje às plataformas digitais, com nove faixas que Catarina Duarte e Nuno Caldeira começaram a criar no período de confinamento pandémico e acabaram de produzir já no espírito de recuperação de 2022. Nos próximos dias, o disco chega também às lojas físicas, envolto numa capa de tons quentes em que a lista de novas canções tanto reflete um conteúdo amadurecido pela introspeção proporcionada pelo isolamento social – é o que acontece em “Sozinha no Mundo” e “Som Misturado” – como expressa a celebração vibrante da liberdade recuperada – manifestada em “Cor” e “Alma a Céu Aberto”.

Sendo o terceiro disco dos Senza, o álbum antecipa no respetivo título a nova etapa que preconiza para a carreira da dupla: em sentido figurado, “Próxima Paragem” é o rumo musical a seguir, que Nuno Caldeira diz agora “mais arrojado e contemporâneo”; em sentido literal, é cada destino geográfico de uma agenda de concertos que, como realça Catarina Duarte, está apostada em “acabar com a má memória dos cancelamentos impostos pela covid” e, até final do ano, inclui passagem por diversas cidades portuguesas e também por palcos na Índia.

“Se nos discos anteriores nos focámos sobretudo em experiências e episódios das viagens que fizemos, neste dedicámo-nos mais a uma reflexão sobre a sociedade atual e sobre os temas que ainda precisam de soluções. Foi efeito da paragem forçada que tivemos em 2020 – o confinamento exerceu uma influência forte nas nossas opções e acreditamos que quem ouvir estas novas músicas vai identificar-se connosco, porque passou pelo mesmo, sentiu as mesmas angústias, passou a valorizar coisas diferentes”, defende Nuno Caldeira.

Catarina Duarte admite que o teor da mensagem pode, por vezes, ser “pesado”, mas considera que as composições, o leque de instrumentos utilizados e o ecletismo dos arranjos finais têm o mérito de fazer a música valer por si mesma. “Falamos de migrações, dos desafios de mestiçar culturas, dos média, da desigualdade de oportunidades devido à cor da pele, de orientação sexual e identidade de género. Também cantamos sobre a Namíbia, sobre o bairro do Soweto e sobre o Brasil. Mas usamos sonoridades de várias proveniências e agrada-nos o exotismo destas misturas. O disco convida a reflexões profundas, é verdade, mas tem também uma leveza própria que resulta do seu tom luminoso, do seu caráter urbano e dançável”, explica a cantora.

Novo single foi lançado no Dia Internacional de Nelson Mandela

“Bailarina do Soweto”, o segundo single do disco “Próxima Paragem”, foi lançado por altura do Dia Internacional de Nelson Mandela, que a Organização das Nações Unidas assinala a 18 de julho para recordar o líder que, após 27 anos de prisão pelo seu ativismo na luta anti-apartheid, foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz em 1993 e acabaria por ser eleito presidente da África do Sul. “Em 2018, quando fizemos a tournée pela África austral, demos um concerto em Joanesburgo e depois fomos ao Soweto, visitar a casa-museu do Mandela. Foi aí que ficámos a saber de um projeto local de dança incrível, que tem meninas com muito talento, mas que, por terem nascido numa zona onde ainda só há oportunidades para pessoas com cor de pele mais clara, enfrentam sucessivas dificuldades a vários níveis, principalmente em termos de internacionalização artística”, conta Catarina Duarte. “Isto só prova que, tantos anos depois, o apartheid ainda existe e continua enraizado”, lamenta Nuno Caldeira. E é por isso que a letra dos Senza refere: “Vim do ghetto, do secreto / A nossa história não tem amuleto / … Vim do entulho, do cimento / Tenho nas pernas a nossa cura / … E mesmo sem o futuro risonho de sonho que todos querem / Seremos donas de nós”.

À parceria com Carlão juntou-se a da estrela namibiana Elemotho
O primeiro single do álbum “Próxima Paragem” a ser tornado público, em setembro de 2021, foi “Sozinha no Mundo”, que, além das vozes de Catarina Duarte e Nuno Caldeira, conta também com a de Carlão, o rapper fundador da icónica banda de hip-hop Da Weasel. A canção escrita pelos Senza fala de tecnologias e de comodismo, confronta vícios digitais com experiências físicas, e Carlos Nobre reviu-se nesse alerta, acabando por criar para o tema os seus próprios versos. É dele, portanto, o recado: “Caminha no parque, brinca na estrada /… Destino é romance, faz a tua chance…. / Faz-te fera”.

Outra colaboração especial do disco “Próxima Paragem”, só agora revelada, é a do artista Elemotho, na faixa com o nome do seu país, “Namíbia”. Os músicos portugueses conheceram o cantor no Festival de Jazz de Windhoek, onde os três atuaram, e, ao fim de alguns dias de relacionamento, decidiram colaborar na criação de um tema inspirado por interesses partilhados. Foi assim que nasceu a canção entoada em três línguas: por um lado, no Português dos músicos que se sentiram tocados pela travessia do deserto do Namibe; por outro, no idioma Setswana, que é a língua nativa do deserto do Kalahari, do qual o artista africano é originário; e ainda em Inglês, para que uma maior audiência participe da partilha. “A esposa do Elemotho é galega e até poderíamos ter explorado as raízes que temos em comum, mas o que nos impressionou mesmo foi aquela paisagem do Kalahari e prometemos que haveríamos de escrever uma canção sobre o deserto – sobre aquela terra de tal aridez e vastidão que nos faz sentir pequeninos”, explica Nuno Caldeira.

Essas e outras reflexões estão já a ser cantadas ao vivo na tournée nacional que os Senza têm a decorrer até final de 2022, com concertos em cidades como Lisboa, Aveiro, Évora, Proença-a-Nova, Coimbra e Santa Maria, nos Açores. Os espetáculos que a dupla deu nos últimos meses em palcos dos Estados Unidos, Panamá, Alemanha, França e Argélia já tiveram o revenge feeling que seria de esperar após dois anos de confinamento, restrições e cancelamentos, mas a dupla garante que tem ainda muito mais entusiasmo com que se vingar. “Escolhemos o caminho da música com o coração e com honestidade. Isso significa que pomos sempre o melhor de nós em palco e, depois de tanto tempo parados, contra a vontade, temos muito coração para dar ao vivo”.

Sobre os Senza:
Com percursos pessoais ligados a Coimbra, Castelo Branco e Aveiro, a dupla formada por Catarina Duarte e Nuno Caldeira surgiu de um gosto partilhado por música e viagens. A sua estreia discográfica deu-se em 2016 com o álbum “Praia da Independência”, logo reconhecido como “Disco Antena 1”, e em 2018 seguiu-se “Antes da Monção”, que mereceu ampla cobertura na imprensa portuguesa. Com base nesse dois LP, os Senza protagonizaram diversos concertos em Portugal e realizaram já várias tournées internacionais que os levaram a países como Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Bulgária, México, África do Sul, Namíbia, Zimbabué, Índia, Brasil, Estados Unidos, China, Quénia, Timor, Panamá e Argélia. Foi no âmbito dessas digressões que, privilegiando sempre a Língua Portuguesa, subiram ao palco de salas icónicas como o Joe’s Pub e integraram o cartaz de eventos emblemáticos da world music como o HIFA - Harare International Festival of the Arts (no Zimbabué), o Whindoek Jazz Festival (na Namíbia) e o Lusitoland Festival (na África do Sul).  Em dezembro de 2022 vão também atuar no Udaipur World Music Festival, na Índia.

A experiência e maturidade refletida nessa carreira internacional e na sonoridade distintiva da dupla, cujas composições revelam uma identidade marcadamente lusa e ainda assim imbuída de exotismo e transversalidade cultural, justificam que o seu trabalho venha contando com a parceria de artistas como Rão Kyao, Júlio Pereira, Carlão e o namibiano Elemotho.

Numa estratégia altruísta de partilha do conhecimento adquirido nessa troca de experiências, conhecimentos e valores, os Senza assumem ainda uma missão pedagógica apostada em formar novos públicos para a música portuguesa e em despertar nessas plateias um maior interesse pelas linguagens musicais de outras culturas e latitudes. Através de um programa regular de parceria com rádios regionais portuguesas, em regime de voluntariado, a dupla já visitou assim mais de 100 emissoras através das quais deu a conhecer instrumentos musicais característicos dos países que inspiraram os seus álbuns, tonalidades próprias das diferentes sociedades e etnias com que vêm contactando, e os valores sociológicos que, em cada território, determinam a respetiva criação artística e fruição cultural.


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