"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

Libertadores Simón Bolívar e José de San Martín "reencontram-se" no Jardim das Comunidades em Almancil

Dois bustos das principais caras da luta pela independência da América do Sul – o venezuelano Símón Bolívar e o argentino José de San Martín – foram inaugurados no Jardim das Comunidades de Almancil, perante centenas de pessoas da comunidade latina do concelho de Loulé, numa festa onde não faltou a música, a dança e até o hino da Venezuela cantado pelos presentes.


Nos dias 26 de junho de 1822, os dois grandes heróis da libertação latino-americana, reuniram-se em Guayaquil, no Equador, para discutir os rumos dos projetos de emancipação da América do Sul, naquela que ficou conhecida como a Conferência de Guayaquil. Passado 200 anos, a 2 de agosto de 2022, na vila de Almancil, este “reencontro” fez-se num momento inaugural que irá perpetuar a ligação dos dois conquistadores e trazer a arte e a memória para este espaço verde almancilense.

“Foram dois heróis, companheiros de luta, duas pessoas que lutaram pela libertação e independência de muitos países da América Latina. Sonharam e materializaram um valor que deve ser cultivado e honrado: a Liberdade”, sublinhou o autarca Vítor Aleixo.

Pedro Félix, autor das obras de arte, aceitou o desafio de recriar a imagem dos dois libertadores. O busto de San Martín foi concebido a partir de uma outra escultura oferecida pela Embaixada da Argentina à Autarquia de Loulé, mas também, através de uma pesquisa, recorrendo a imagens (pinturas e gravuras) e à única fotografia original conhecida do general. No caso de Bolívar, “foi mais fácil pois há várias referências, inclusive uma imagem muito difundida na Venezuela e que mostra aquilo que seria o verdadeiro rosto de Bolívar”, referiu o artista.

Ambas as esculturas foram feitas de barro, passando depois para gesso e, por último, para uma fundição para uma finalização em bronze, um trabalho que “levou cerca de um ano a executar”.

Mas se esta iniciativa teve em vista trazer à memória dois heróis que ficam na história da luta pelo direito à autodeterminação dos povos, são também duas figuras com as quais a população latina se identifica. E nesse sentido, como sublinhou o autarca de Loulé, este é também “um tributo aos portugueses que, um dia, em busca da felicidade, da realização pessoal que a pátria tornou difícil, procuraram ser felizes noutro lugar, nomeadamente nestes dois países”.

Se a emigração louletana para a Argentina é bem mais antiga, remontando ao século XIX e primeiras décadas do século XX, o fluxo migratório que partiu do concelho para a Venezuela foi mais tardio, daí que seja mais pujante e numerosa a comunidade deste país que reside sobretudo em Almancil, “a freguesia mais latina do nosso concelho”, como notou Vítor Aleixo.

Um desses emigrantes é João Barros, o conhecido “Barrinhos”, proprietário de um café nas Escanxinas, onde não faltam as arepas, empanadas ou cachapas, mas que é também um ponto de encontram para os luso-venezuelanos deste concelho e espaço onde se mantêm vivas as tradições dos dois países. Um homem que teve a ideia em trazer para Almancil a imagem do herói venezuelano. “O meu sonho concretizou-se, graças também à Câmara Municipal de Loulé. Foi com muito sacrifício, mas lográmos e estou muito contente”, disse em lágrimas e com as cores amarela, vermelha e azul da bandeira na mão.

E neste momento feliz para venezuelanos e argentinos, que reuniu avós, pais, filhos, netos e bisnetos, marcou presença o Embaixador em Portugal da República Bolivariana da Venezuela, Lucas Rincón, com uma intervenção em que exaltou a memória do “pai da Pátria”. “Fervoroso crente e construtor da grande pátria, estadista, político e estratega militar, negociador e diplomata que marcou o caminho da independência e integração da região para enfrentar o imperialismo e conquistar a paz das nações e o direito dos povos à soberania. Foi um precursor ao gerar relações entre as nações baseadas no respeito mútuo, igualdade, justiça e liberdade para os oprimidos”, disse este diplomata.

Já José Carlos Madeira, representante da comunidade argentina e responsável da Associação Portuguesa de Comodoro Rivadavia, agradeceu ao Município e falou da obra e vida de José de San Martin e do bicentenário do “encontro de heróis”, em Guayaquil.

O Jardim das Comunidades fica assim “mais rico”, aliando agora a arte, a cultura e a história à natureza, mas também o sentimento da diáspora que está em cada esquina de Almancil. “Hoje esta é uma terra acolhedora que dá essa possibilidade a muitos emigrantes e os primeiros são naturalmente os nossos compatriotas que regressam aqui. Este continuará a ser sempre o seu torrão natal”, considerou, por seu turno, o presidente da Câmara de Loulé.

A noite acabou com a música e dança trazido pelo Rancho Alma Algarvia da Associação Portuguesa de Comodoro Rivadavia e pelo Grupo de Danzas Venezolanas Araguaney.

Quem foram os libertadores?

Originário de uma família aristocrática galega, Simón Bolívar nasceu em Caracas, em 1783. Militar e líder político venezuelano, foi o primeiro ilustrado a apoiar na prática a descolonização. Jurou defender a independência da América do Sul quando esteve em Itália e dedicou sua vida à luta contra os espanhóis.

É considerado pelos países da América Latina como um herói, visionário, revolucionário e libertador. Durante seu curto tempo de vida, liderou a Bolívia, a Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela à independência, e ajudou a lançar bases ideológicas democráticas na maioria da América Hispânica. Após triunfar sobre a Monarquia Espanhola, Bolívar participou na fundação da primeira união de nações independentes na América Latina, nomeada Grã-Colômbia, da qual foi Presidente de 1819 a 1830.

José de San Martín nasceu em Yapeyú, em 1778. Este general argentino foi o primeiro líder da parte sul da América do Sul que obteve sucesso no seu esforço para a independência de Espanha. Participou ativamente nos processos de independência da Argentina, do Chile e do Peru.

San Martín é apresentado como um percussor de um nacionalismo hispanista, visando a democracia representativa entre os povos de língua espanhola, o que incluiria a Espanha, que buscava formas de conciliação e negociação em vez de conflitos e guerras.

Ambos lutaram pela independência política da América, mas defenderam projetos políticos diferentes. Bolívar desejava a criação de uma América Hispânica unida, sob regime republicano, enquanto San Martín propunha a formação de novas monarquias, espelhando o modelo político inglês.

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,752,263