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O que nos quis dizer afinal Herman Melville em "Bartleby, O Escrivão?"
Originalmente publicado em 1853, na revista literária norte-americana Putnam's, o conto Bartleby, O Escrivão – Uma História de Wall Street valeu a Herman Melville, escritor que viria a imortalizar-se com o portentoso romance Moby-Dick, uns módicos 85 dólares.
Estaria o autor, na época, longe de saber que aquela sua bizarra história de um anacrónico caso de recusa de trabalho valeria ao mundo uma «Indústria Bartleby» que, desde a redescoberta da obra, em 1924, tem vindo a originar todo o tipo de teorias interpretativas que alimentam os estudos melvilianos. O que nos quis dizer afinal Herman Melville com Bartleby, O Escrivão? Muito provavelmente, nunca saberemos. Certo é que nunca é demais recuperar este admirável e inaudito conto, que, uma vez lido, jamais abandona a nossa vida e o nosso imaginário. Motivos de sobra para que seja agora editado pela Guerra e Paz na sua inconfundível colecão de Clássicos. Numa tradução de Ana Relvas França, Bartleby, O Escrivão – Uma História de Wall Street estará disponível, quer na rede livreira nacional quer nas principais plataformas de distribuição de ebooks, a partir do próximo dia 26 de julho de 2022.
Em Bartleby, O Escrivão, somos guiados por um advogado-narrador que, precisando de mais um par de mãos no seu escritório, procura, com a contratação de um novo colaborador, influenciar positivamente os dois escrivães problemáticos que para ele trabalham: Nippers e Turkey. Encontrado o candidato considerado ideal, é-nos apresentado Bartleby, a personagem que dá título ao conto: um jovem pálido, com um ar de respeitável tristeza que, de imediato, realiza uma quantidade extraordinária de trabalho, como se quisesse devorar a documentação que lhe é confiada.
A aposta no reservado escrivão parecia vencedora, até ao dia em que Bartleby recusa um pedido do patrão dizendo, num tom de voz singularmente suave, mas firme: «Preferia não o fazer.» Essa seria a primeira de muitas recusas que o advogado iria ouvir. É que, ao longo da história, o jovem vai reduzindo cada vez mais a quantidade de tarefas que outrora executava com extrema eficácia e prontidão, repetindo, a cada pedido, sugestão, exigência ou súplica do advogado: «Preferia não o fazer». E mesmo quando questionado, sob ameaça de despedimento, do porquê de tais recusas, apenas responde, com indiferença desarmante: «Não compreende por si mesmo o motivo?»
Aqueles mantras ecoados à exaustão e as cada vez mais insólitas atitudes do trabalhador, primeiro de persistente relutância e depois de completa insanidade, dão corpo a uma narrativa em que a ironia, a surpresa e a sombra da tragédia se cruzam.
Bartleby, O Escrivão encerra em si um mistério que fez dele um dos textos mais estudados em todo o mundo, por estudantes, leitores, académicos como Harold Bloom, e escritores como Jorge Luís Borges. O que quis dizer-nos Melville? O que representa aquele jovem melancólico que decidiu, a dada altura, apenas responder à sua vontade? Porque é que o livro termina com a frase «Ah, Bartleby! Ah, Humanidade!»? Dúvidas que têm vindo a gerar todo o tipo de teorias interpretativas: religiosas, políticas, revolucionárias, fraternais, conjugais, alegóricas, filosóficas, sociológicas, psicológicas, irónico-cómicas, entre tantas outras.
Algumas delas, constam dos textos que nos ajudam a compreender melhor esta obra desta nova edição da Guerra e Paz, nos quais se tenta explicar esta bizarra, mas fascinante obra de Herman Melville.
Clássicos Guerra e Paz
Bartleby, O Escrivão – Uma História de Wall Street
Herman Melville
Ficção / Romance Estrangeiro
80 páginas · 15x23 · 12,00€
Guerra e Paz, Editores