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"De Profundis": a queda e redenção de Oscar Wilde
Longo, intenso, implacável, De Profundis é o título do livro com a carta que o genial escritor irlandês Oscar Wilde escreveu em 1897, para o seu amante, o jovem lorde Alfred Douglas, enquanto cumpria os últimos meses de sentença na prisão londrina de Reading.
Acusado, dois anos antes, de sodomia, numa Inglaterra vitoriana para a qual a homossexualidade era crime punido por lei, Wilde acusa o amante de o abandonar no silêncio do cárcere e revela como o amor que sentia por Alfred se transformou em amargura. Mas De Profundis é mais do que isso. É uma preciosa peça literária, de culpa e redenção, em que o autor do O Retrato de Dorian Gray expurga os seus demónios. É um texto imprescindível para compreender verdadeiramente a figura ímpar de Oscar Wilde. Censurada até 1962, a carta é agora, 60 anos depois, recuperada pela Guerra e Paz, numa tradução de Maria Valente que enriquece a coleção de Clássicos da editora.
«Nós vemo-lo aqui como o espectador da sua própria tragédia. A sua tragédia foi grandiosa. É uma das tragédias que permanecerão para sempre na história romântica.» Talvez esta descrição do escritor e caricaturista britânico Max Beerbohm seja a mais certeira story line já escrita sobre De Profundis, carta de amor amargurado que Oscar Wilde escreveu ao homem que o levou à ruína. «Das profundezas do abismo», Wilde acusa Alfred Douglas, carinhosamente tratado por Bosie, de egoísmo, superficialidade, parasitismo, cobiça, extravagância, birras, mesquinhez e negligência, depois de o jovem nobre o ter abandonado, à sua sorte, na prisão, onde cumpriu dois anos de pena por um crime que, à luz dos nossos dias, não poderíamos compreender.
Tudo começara em 1895 – ano do zénite da carreira do génio irlandês, com a estreia da peça A Importância de Ser Earnest –, quando, em apenas três meses, Wilde passaria do Olimpo às grades da prisão, como um preso comum. Tudo porque John Sholto Douglas, marquês de Queensberry e pai do seu amante, o acusou de sodomia, para o afastar do jovem aristocrata. Uma vertiginosa queda, descrita no livro A Intransigente Defesa da Arte: Transcrição de Um Julgamento Sórdido, que a Guerra e Paz também recuperou recentemente na coleção «Livros Negros».
Bosie morreria para o seu amado em De Profundis, mas também o excêntrico, faustoso e egocêntrico Wilde terá morrido depois daquele texto, dando lugar a um novo homem. Num monólogo dramático, o autor acaba por fazer uma auto-análise do seu carácter e das suas falhas, que culminará numa transformação espiritual ao longo do próprio processo de escrita. Catártica, a missiva apresenta-nos um novo e introspetivo Wilde, que reflete com convicção sobre a arte, o amor, o perdão e o significado de Cristo, descobrindo que, longe do prazer e das extravagâncias, «o segredo da vida é o sofrimento». Talvez por isso, o seu amigo Robert Ross, a quem o autor confiou a carta assim que saiu da prisão, tenha retirado o título De Profundis dos Salmos (130,1): «Das profundezas a Ti clamo, Senhor.»
As primeiras edições de De Profundis em livro foram manipuladas, sofrendo cortes e adulterações, e a verdadeira essência do manuscrito, entregue por Ross ao Museu Britânico sob a condição de que ninguém poderia ter acesso ao mesmo durante 50 anos, só seria revelada em 1962, altura em que Rupert Hart-Davis comparou pela primeira vez o texto com o manuscrito e publicou a carta conforme o original em The Letters of Oscar Wilde. A Guerra e Paz recupera agora essa versão não censurada da carta, numa tradução de Maria Valente.
A obra chega à rede livreira nacional, com as frias grades de Reading na capa. Além do texto integral, a edição «Clássicos Guerra e Paz» inclui uma nota introdutória com uma contextualização da obra.
Clássicos Guerra e Paz
De Profundis
Oscar Wilde
Ficção / Romance Estrangeiro
136 páginas · 15x20 · 14,00€
Nas livrarias a 26 de julho de 2022
Guerra e Paz, Editores