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Obra maior do modernismo espanhol é recuperada pela Guerra e Paz Editores

Uma história de amor e morte, Sonata de Estio, de Ramón del Valle-Inclán, génio da literatura espanhola do século XX, conta-nos as memórias do Marquês de Bradomín, «um admirável Don Juan», «feio, católico e sentimental», que busca consolo numa peregrinação romântica.


Publicada pela primeira vez em 1903, a obra é, em conjunto com outras três Sonatas de Valle-Inclán, uma das mais notáveis do modernismo na literatura espanhola. Valle?Inclán corrigiu insistente e continuadamente a sua obra, pelo que, a partir da edição de 1923, Sonata de Estio é também marcada pela criação de um novo conceito literário: o esperpento. Amplamente aplaudida e traduzida ao longo do último século, a obra tem estado, porém, afastada dos escaparates portugueses desde 1948. Situação agora colmatada pela Guerra e Paz Editores, que recupera este clássico da literatura hispânica numa nova tradução, de Pedro Ventura. Sonata de Estio chega à rede livreira nacional, às principais plataformas de ebooks e ao site da editora.

Em Sonata de Estio, o Marquês de Bradomín viaja para esquecer amores desafortunados. Chegado ao México, palco central da obra, o protagonista apaixona-se pela crioula Niña Chole, que decide seguir pelo país. Descobre então que a bela crioula tenta escapar ao próprio pai, o temido general Bermúdez, com quem mantém uma relação incestuosa e que seria capaz de matar ambos se os encontrasse juntos. Uma prosa lírica vibrante, que se lê num fósforo, esta é uma das quatro Sonatas em que Valle-Inclán nos apresenta as jornadas incríveis do Marquês. 

Cada uma das Sonatas assume o título de uma estação do ano (Outono, Estio, Primavera e Inverno) e corresponde a um livro, uma etapa da vida e a um cenário diferente. Para o poeta espanhol multipremiado Luis Alberto de Cuenca, antigo secretário de Estado da Cultura e director da Biblioteca Nacional de Espanha, «na literatura espanhola dos últimos cento e cinquenta anos, não há nada comparável às Sonatas de Don Ramón del Valle-Inclán». Marcadas também pelo recurso ao esperpento, um conceito literário criado por Valle-Inclán, as Sonatas revelam uma crítica à modernidade espanhola, ou à falta dela, através da deformação da realidade, acentuando os seus elementos mais grotescos e sórdidos e caricaturando certas situações e personagens à beira do absurdo e do grotesco. 

Há muito afastada da rede livreira nacional, Sonata de Estio, de tradução desafiante, pelo elevado nível de originalidade, tem agora uma nova edição, integrando a inconfundível coleção «Clássicos Guerra e Paz». Além do romance, esta edição inclui uma nota introdutória do tradutor, Pedro Ventura, e um ensaio de José Ortega y Gasset sobre a obra, em que o filósofo espanhol sublinha o «consolo e recreio» que a leitura do romance propicia: «Os personagens de Sonata de Estio não têm de lutar com os pequenos inconvenientes que, para aproveitar a vida ao máximo, são as severas e enrugadas fabulações da moral contemporânea, sendo assim a sua leitura amável e proporcionando ao ânimo consolo e recreio. Nestas ficções bem achadas repousam os nervos da tristeza circundante.»

A obra inclui ainda uma fotografia de Villa Eugenia, em A Pobra do Caramiñal, na Galiza, cedida pelo Museu Valle?Inclán para esta edição. Nela se vê a casa onde Valle-Inclán preparou a edição de 1923 de Sonata de Estio, a primeira marcada pelo esperpento, há praticamente100 anos. 

Uma leitura apaixonante, Sonata de Estio é a primeira das Sonatas de Valle-Inclán publicada pela Guerra e Paz. 

Sonata de Estio
Ramón del Valle-Inclán
Ficção / Romance Estrangeiro
136 páginas · 15x23 · 14 €

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