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"A Mão e a Luva"
Em 1874, o genial escritor brasileiro Machado de Assis, que o poeta norte-americano Allen Ginsberg apelidou como o «outro Kafka» e que a escritora nova-iorquina Susan Sontag considerou «o maior escritor que a América Latina alguma vez gerou», juntou-se à crescente moda do folhetim, importada de França, e publicou, em 20 números do jornal O Globo, o seu surpreendente, satírico e disruptivo segundo romance: A Mão e a Luva.
Na época, «Um Perfil de Mulher», subtítulo escolhido pelo autor, dizia muito sobre o livro que atribuiu a Guiomar, a protagonista da obra, um estatuto raro até então em personagens femininas. Rapidamente se percebeu que a qualidade dos textos merecia que, no mesmo ano, a obra fosse editada em livro. E assim foi. Hoje, quase 150 anos depois, A Mão e a Luva é revisitado pela Guerra e Paz Editores, numa edição «Clássicos Guerra e Paz».
Nas páginas de A Mão e a Luva acompanhamos a bonita história romântica de Estevão, um rapaz que se apaixona perdidamente por Guiomar, uma rapariga pobre, apadrinhada por uma velha senhora rica, que na obra apenas nos é apresentada como «baronesa». O problema é que Estevão não é o único pretendente à mão da bela jovem e terá de a disputar com o seu amigo Luiz e com Jorge, um sobrinho da baronesa. Os problemas não se esgotam neste triângulo, e o autor, o brilhante escritor brasileiro Machado de Assis, concede a Guiomar um papel raro na literatura do seu tempo: a de heroína que terá a única e definitiva palavra na escolha do seu futuro. E qual dos cavalheiros escolherá? Estevão, o tolo? Luiz, o homem de espírito, ou Jorge, o calculista? Só a leitura poderá esclarecer a curiosidade dos leitores.
Surpreendente, a obra, publicada pela primeira vez em 1874, começa por nos levar no encanto do romantismo, para depois nos brindar com uma ironia pungente e uma deliciosa sátira à sociedade brasileira do século XIX, na qual «zomba dos românticos». E mais: segundo o escritor norte-americano Philip Roth, «Machado de Assis sublinha, nos momentos mais cómicos, o sofrimento fazendo-nos rir. Tal como Beckett, ele é irónico quanto ao sofrimento». Ingredientes que têm vindo a levantar uma discussão: terá este sido o primeiro romance realista brasileiro? Certo é que Machado de Assis é, para muitos, o maior escritor da literatura brasileira e para o crítico literário Harold Bloom «uma espécie de milagre»; definitivamente, é o precursor do realismo brasileiro. Debata-se tudo o resto.
É tempo de trazer aos leitores portugueses A Mão e a Luva, numa edição «canarinha» da Guerra e Paz, que, além da obra integral, conta com uma nota prévia de Maria José Batista, com um perfil assinado pelo ilustre escritor brasileiro José Veríssimo e com uma tradução do próprio Machado de Assis do ensaio satírico De l’amour des femmes pour les sots (Queda Que as Mulheres Têm para os Tolos) do escritor belga Victor Hénaux.
Um título da coleção Clássicos Guerra e Paz, A Mão e a Luva estará disponível na rede livreira nacional, nas principais plataformas de ebook e no site da editora, a partir do próximo dia 17 de maio de 2022.
A Mão e a Luva
Machado de Assis
Ficção / Romance Lusófono
192 páginas · 15x23 · 15 €