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Cabeceiras de Basto quer ver Jogo do Pau considerado Património Cultural Imaterial
Candidatura para a classificação já foi entregue na DGPC. A autarquia também quer criar um Centro Interpretativo do Jogo do Pau no concelho onde há duas freguesias com associações dedicadas à preservação desta arte secular.
Já serviu para defesa pessoal, mas há várias décadas passou a ser encarado como uma atividade de lazer. O jogo do pau é a única arte marcial portuguesa no ativo e do Minho espalhou-se um pouco por todo o país. A Câmara de Cabeceiras de Basto, que conserva esta tradição em duas das suas freguesias, quer agora que passe a ser considerado Património Cultural Imaterial. E para que isso aconteça esta semana já deu o primeiro passo – a candidatura já foi entregue em Lisboa na Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e nos próximos tempos nascerá no concelho um Centro de Interpretação dedicado à modalidade.
O jogo tem como base uma técnica de luta apoiada num pau, ou varapau como há quem prefira chamar, que habitualmente tem a altura de uma pessoa. Vence quem mais vezes atingir o adversário e quem melhor se defender dos golpes. Rivalidades entre adversários aparte, ganha a cultura local onde ainda é praticado se o número de praticantes crescer de forma a preservar esta forma de luta ancestral transformada em jogo no início do século XX.
Foi debaixo desta premissa que o concelho de Cabeceiras de Basto elaborou uma candidatura para classificar esta atividade como Património Cultural Imaterial. Há outros municípios onde também ainda continua a existir, mas, ainda assim, a autarquia decidiu avançar isolada com uma proposta de classificação. Motivo para isso é a existência de duas freguesias com duas entidades dedicadas à promoção da modalidade – a Associação S. João Baptista de Bucos e a Associação Recreativa, Desportiva e Cultural de Abadim.
“São dezenas”, entre Bucos e Abadim, as pessoas que praticam o jogo do pau nas duas associações, afirma o presidente da câmara de Cabeceiras de Basto, Francisco Luís Teixeira Alves, que na terça-feira desceu à capital para entregar a candidatura em mãos na DGPC. Conservam esta tradição os mais velhos, mas também “cada vez mais” os mais novos. Ao contrário do que acontecia tradicionalmente, quando o jogo era praticado apenas por homens, agora, adianta o autarca socialista, também há jovens mulheres a aderir. Esse surgimento de sangue novo dá-lhe a esperança necessária para acreditar que esta arte, proibida durante o Estado Novo, não seja extinta. Pelo contrário, confia poder passar a ser usada como mais um cartão-de-visita do município.
Apoiado nessa crença, o seu executivo encomendou um “estudo científico” sobre esta atividade que serviu de ponto de partida para a candidatura. Participaram na elaboração do documento várias entidades de dentro e fora do concelho: Faculdade de Letras da Universidade do Porto através do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar, Cultura, Espaço e Memória, do ISCET – Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo, da Direcção Regional da Cultura do Norte, as juntas de freguesia e as duas associações de Bucos e de Abadim e, ainda, do Agrupamento de Escolas de Cabeceiras de Basto, da Escola Bento de Jesus Caraça.
Para reforçar a intenção, o autarca socialista afirma estar programada a criação de um Centro Interpretativo do Jogo do Pau, integrado no Museu das Terras de Basto. Fica por decidir em qual das duas freguesias será instalado este núcleo.
Por agora a candidatura foi feita tendo em vista uma classificação em território nacional. Mas de fora do horizonte da autarquia não está a possibilidade de futuramente tentarem ser reconhecidos pela UNESCO, como aconteceu com o fado em 2011, com o cante alentejano em 2014 ou com os Caretos de Podence em 2019. “Quem sabe. Não é um processo fácil porque é um trabalho que leva o seu tempo. Este é um primeiro passo”, afirma. Outros se seguirão mais brevemente. Há um que está na lista de prioridades: “Aperfeiçoar a candidatura para chegar a bom-porto”.
por André Borges Vieira in Público | 25 de abril de 2022
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público