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Porcos Fascistas: Novo livro de Tiago Saraiva
Já chegou às livrarias o livro Porcos Fascistas, um volume de combate da autoria de Tiago Saraiva, professor no departamento de história da Drexel University em Filadélfia.
Trata-se de uma tradução do original em inglês, publicado em 2016, cuja tradução para português tardava. O índice do livro é esclarecedor: a primeira parte, Nação, desdobra-se em Trigo, Batatas e Porcos, enquanto a segunda parte, Império, se expande em Café, Borracha, Algodão e Carneiros. Através da biopolítica, o autor «investiga o melhoramento de plantas e animais como produção de vida fascista». Vale a pena ler alguns dos parágrafos do texto:
Não se trata de substituir os humanos por não-humanos nas explicações sobre as transformações históricas, mas sim de alargar a noção de biopolítica e sugerir que devemos integrar de forma consequente plantas e animais na história, para sermos capazes de compreender o modo como coletivos surgiram e evoluíram.
Esta leitura da natureza como parte da história é profundamente transformadora da perceção do território e dos comportamentos.
Os movimentos fascistas aprenderam com a Primeira Guerra Mundial que a sobrevivência da nação dependia tanto do armamento quanto da alimentação. O argumento era simples: a dependência de cereais baratos provenientes das Américas não tinha apenas empobrecido os agricultores europeus, forçando-os a abandonar os campos; tinha também exposto a vulnerabilidade das nações europeias em caso de guerra. Considerações geopolíticas juntaram-se à experiência concreta da fome para afirmar que a existência da nação orgânica dependia do cultivo do solo nacional. Não houve fascista que não fosse um entusiasta da autarcia alimentar.
O que muitas vezes é entendido como um movimento tradicionalista de regresso à terra, só ganhou sentido por causa da ciência. Como os capítulos do livro esclarecem, foram os organismos tecnocientíficos que possibilitaram o nacionalismo radical de Mussolini, Salazar e Hitler. Um novo tipo de plantas e animais prometia aumentar a produtividade do solo nacional, capaz agora de alimentar a nação e de a libertar dos constrangimentos impostos por grandes potências como o Império Britânico ou os Estados Unidos. As campanhas em larga escala para a produção de alimentos – as primeiras mobilizações de massas dos três regimes – basearam-se em novas variedades de trigo, batatas e porcos produzidas experimentalmente por melhoradores de plantas e animais. Ao descrever as trajetórias históricas de variedades de trigo resistentes à acama, de batatas imunes ao míldio e de porcos enraizados no solo (bodenständig), explora-se aqui o modo como essas campanhas construíram o novo Estado fascista. O objetivo é compreender como o fascismo produziu uma modernidade alternativa a partir do cultivo do solo nacional com organismos tecnocientíficos.
Tiago Saraiva, Porcos Fascistas. Organismos Tecnocientíficos e a História do Fascismo
ISBN: 978–989–8217–56–1.
Dimensões: 15,5 × 24,5 cm, 336 páginas.
Preço: € 30,00
O livro pode ser adquirido nas melhores livrarias, ou online, em www.dafne.pt