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Esta é a Fotografia do Ano da World Press Photo
A fotógrafa canadiana Amber Bracken venceu o prémio de Fotografia do Ano da World Press Photo, com uma imagem que, pela primeira vez na história do concurso, não inclui qualquer figura humana.
De acordo com informação disponível no 'site' oficial da World Press Photo, "Escola Residencial Kamloops", de Amber Bracken para o jornal norte-americano The New York Times, venceu o prémio de Foto do Ano.
"Pela primeira vez na história de 67 anos da World Press Photo, a Foto do ano é uma fotografia onde não aparecem pessoas", destaca aquela instituição.
A fotografia de Amber Bracken, na qual se vê uma série de cruzes de madeira, onde estão penduradas peças de roupa, "recorda as crianças que morreram na Escola Residencial Indígena Kamloops, instituição criada para acolher crianças indígenas, após a identificação de pelo menos 215 sepulturas não identificadas em Kamloops, na província canadiana de British Columbia".
O júri decidiu atribuir o prémio à fotografia "Escola Residencial Kamloops" por considerar que esta "resume uma história global de opressão colonial, que deve ser abordada para se enfrentar os desafios do futuro".
"Esta [foto] vencedora representa o despertar de uma história vergonhosa que está finalmente a ser abordada no Canadá. É uma imagem perfeita que captura uma luz rara, e é ao mesmo tempo assustadora, cativante e simbólica. A imagem sensorial oferece um momento tranquilo de reconhecimento, com o legado global de colonização e exploração, enquanto amplifica as vozes das comunidades das Primeiras Nações [populações nativas do Canadá] que exigem justiça. A imagem encoraja-nos a responsabilizar governos, instituições sociais e nós mesmos", considerou o júri.
A World Press Photo recorda que as escolas residenciais surgiram no século XIX, "como parte de uma política de assimilação de pessoas de várias comunidades indígenas na cultura ocidental, e predominantemente cristã".
Ao longo dos anos, "mais de 150 mil crianças passaram por estas escolas e, pelo menos, 4.100 morreram, na sequência de maus-tratos, negligência, doença ou acidentes".
A fotógrafa Amber Bracken considera que "a história colonial não é história antiga [...], esta é uma história viva, com qual os sobreviventes ainda estão a lidar".
"Se queremos falar sobre reconciliação ou 'cicatrização', precisamos de manter e honrar o coração que ainda existe ali", referiu Amber Bracken.
Já a presidente do júri, a fotógrafa Rena Effendi, disse, sobre a foto, que "este é um momento tranquilo de avaliação global da história da colonização, não só no Canadá, mas em todo o mundo".
Amber Bracken, cujo trabalho se tem focado nas comunidades indígenas, é a quinta mulher a vencer o prémio de Foto do Ano.
Além da Foto do Ano, foram também anunciados os vencedores das categorias de Reportagem do Ano - "Salvando florestas com fogo", do australiano Matthew Abbott, para a National Geographic -, e Projeto de Longo Prazo - "Distopia Amazónica", do brasileiro Lalo de Almeida para o jornal Folha de São Paulo, e "O sangue é uma semente", da equatoriana Isadora Romero.
Matthew Abbott retratou uma técnica ancestral dos aborígenes australianos, de fazerem queimadas para protegerem as zonas que habitam, "através de uma prática conhecida como queima fria, na qual os incêndios se espalham lentamente, queimando apenas vegetação rasteira, e removendo o que alimenta as chamas maiores".
O júri decidiu atribui o prémio de Reportagem do Ano a "Salvando florestas com fogo" porque "é orientado para soluções e apresenta conhecimento que deve ser partilhado com o mundo, para se enfrentar as consequências da crise climática mundial".
O projeto "Distopia Amazónica", de Lalo de Almeida retrata "as realidades, social, política e ambiental do Brasil sob presidência de Bolsonaro".
O júri decidiu premiar o projeto "porque demonstra de forma poderosa os efeitos de abuso da terra pela humanidade e liga estas realidades a uma narrativa globalmente compreensível sobre a crise climática".
"O sangue é uma semente", de Isadora Romero, é um projeto vídeo, que junta fotografia digital e analógica, "que questiona o desaparecimento de sementes, migração forçada, racismo, colonização, e a consequente perda de conhecimento ancestral".
Este ano, a World Press Photo adotou um novo modelo de concurso, tendo os quatro vencedores dos prémios principais sido escolhidos entre os 24 vencedores dos prémios regionais, que tinham sido anunciados em março.
O júri do World Press Photo 2022 escolheu as fotos que marcaram o ano, entre 64.823 imagens de 4.066 fotógrafos, provenientes de 130 países.
Os vencedores dos prémios regionais são 24 fotógrafos de 23 países: Argentina, Austrália, Canadá, Colombia, Bangladesh, Brasil, Equador, Egipto, França, Alemanha, Grécia, India, Indonésia, Japão, Madagascar, México, Países Baixos, Nigéria, Noruega, Palestina, Rússia, Sudão e Tailândia.
por Lusa e Diário de Notícias | 7 de abril de 2022
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias