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Raro e misterioso pagode chinês em marfim é a nova atração do Palácio Nacional de Queluz
Única peça conhecida em Portugal com estas características e dimensões, cuja origem permanece uma incógnita, continua a ser investigada pela Parques de Sintra.
A mais recente novidade do percurso expositivo do Palácio Nacional de Queluz é uma peça que, ao fim de mais de dois séculos de existência, continua a desafiar os investigadores. Trata-se de um raro pagode chinês em marfim, madeira e osso, de finais do século XVIII, inícios do século XIX, produzido durante a dinastia Qing, cuja via de entrada nas coleções reais permanece um mistério. Certo é que pertenceu à rainha D. Carlota Joaquina, tendo integrado o recheio do seu Palácio do Ramalhão, em Sintra, e que foi transferido para o Palácio Nacional de Sintra, vinte anos após a sua morte, em 1850, por ordem da sua neta, a rainha D. Maria II. Mais de 150 anos depois, a vida desta peça, que é a única conhecida em Portugal com estas características e dimensões, entra numa nova etapa, agora no Palácio Nacional de Queluz, onde, enquadrada num contexto mais próximo do que conheceu no passado, continuará a ser estudada pela Parques de Sintra.
Fruto dos privilegiados contactos de Portugal com o Oriente, o Palácio Nacional de Queluz foi, desde meados do século XVIII, um importante repositório de porcelanas, têxteis, lacas e outras peças descritas em documentos da época. Sabe-se, por exemplo, que, em 1785, ano em que chegou a Portugal vinda de Espanha, a jovem infanta D. Carlota Joaquina tinha no seu quarto de dormir deste Palácio um leito chinês em madeira pintada de branco e dourado, “com muita obra de talha e muito ornatto rico com embutidos e pés apresentando bixos com a lingua de fora”, estando decorado “com dois dizeres chineses em ovado na sua moldura”. Na sequência das muitas vicissitudes históricas, hoje, pouco resta dos objetos orientais mencionados nos inventários, pelo que a exposição do pagode neste palácio, em regime de depósito, permite evocar uma componente do gosto cortesão que marcou a vivência real de Queluz, entre o final do século XVIII e o início do século XIX. Simultaneamente, reforça-se a ligação da peça à rainha D. Carlota Joaquina, colocando-a numa sala que comunica visualmente, tanto com a divisão onde se encontra o grande retrato da monarca, da autoria de João Baptista Ribeiro, como com a Sala de Jantar, cuja mesa exibe um serviço de porcelana inglesa decorado com as iniciais CJPB (Carlota Joaquina Princesa do Brasil), oriundo também do Ramalhão.
A peça é, na verdade, um conjunto arquitetónico à escala miniatural constituído por vários pavilhões ou templos, ladeados por duas torres em forma de pagode, com estrutura em madeira, integralmente revestida a marfim e osso. Desenvolve-se numa sucessão de planos, intercalados por pátios, jardins e escadarias, onde surgem figuras humanas, animais e árvores, entre outros elementos decorativos como pequenas sinetas suspensas nas extremidades dos telhados. O conjunto está protegido por uma estrutura de época em madeira envidraçada que se adapta à volumetria dos três corpos principais e que está assente numa base com colunas clássicas em mogno. Embora existam vários conjuntos deste tipo em coleções públicas e privadas de todo o mundo, nomeadamente, no Museu Nacional de Artes Asiáticas – Guimet, em Paris, que possui uma peça similar ao núcleo central de pavilhões, o pagode de Queluz destaca-se pela dimensão das suas torres. De todos os exemplares congéneres conhecidos, são, de facto, as mais elevadas, atingindo quase dois metros.
Privilegiando as sinergias com um conjunto alargado de instituições das mais diversas áreas, a Parques de Sintra contou com a colaboração do Departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa no complexo processo de desmontagem, embalagem e transporte do pagode do Palácio Nacional de Sintra para o Palácio Nacional de Queluz. No âmbito do programa “Cuidar de Coleções”, seis alunos finalistas do ciclo de Licenciatura em Conservação e Restauro participaram nestas operações, aproveitando a oportunidade para consolidar os seus conhecimentos teóricos através de uma experiência prática em contexto real de trabalho.
A necessidade de dar continuidade ao estudo desta peça motivou também uma parceria com o Centro Científico e Cultural de Macau, a quem a Parques de Sintra solicitou apoio no levantamento e tradução de diversas inscrições gravadas nas placas de marfim que compõem o pagode. O seu conteúdo poderá revelar novas pistas e, finalmente, desfazer o mistério que subsiste até hoje quanto à datação e ao motivo da entrada desta peça nas coleções reais. A tradição oral refere uma oferta do Senado de Macau, mas a falta de suportes documentais nunca permitiu provar esta teoria, nem esclarecer se a miniatura representa um edifício religioso ou, eventualmente, o palácio do Imperador, pelo que são muitas as interrogações que continuam a pairar sobre o enigmático pagode chinês.
Sobre a Parques de Sintra - Monte da Lua
A Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A. (PSML) é uma empresa de capitais exclusivamente públicos, criada em 2000, no seguimento da classificação pela UNESCO da Paisagem Cultural de Sintra como Património da Humanidade. Não recorre ao Orçamento do Estado, pelo que a recuperação e manutenção do património que gere são asseguradas pelas receitas de bilheteiras, lojas, cafetarias e aluguer de espaços para eventos.
Em 2019, as áreas sob gestão da PSML (Parque e Palácio Nacional da Pena, Palácios Nacionais de Sintra e de Queluz, Chalet da Condessa d’Edla, Castelo dos Mouros, Palácio e Jardins de Monserrate, Convento dos Capuchos e Escola Portuguesa de Arte Equestre) receberam cerca de 3,7 milhões de visitas, 90% das quais por parte de estrangeiros. Recebeu, em 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021, o World Travel Award para Melhor Empresa em Conservação.
São acionistas da PSML a Direção Geral do Tesouro e Finanças (que representa o Estado), o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, o Turismo de Portugal e a Câmara Municipal de Sintra.
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