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A Monstra regressa às salas e traz 400 filmes de 46 países
Entre esta quarta-feira e dia 27, o festival de animação de Lisboa mostra a sensação Flee e estreia uma das melhores curtas portuguesas recentes, O Homem do Lixo.
É esta quarta-feira que a Monstra se solta por Lisboa. A 21.ª edição do Festival de Animação de Lisboa abre oficialmente às 19h30 no cinema São Jorge com Belle, a nova longa-metragem do mestre japonês Mamoru Hosoda, onde a linguagem tradicional do anime encontra o novo mundo das redes sociais. O filme, que tem estreia comercial já esta quinta-feira, pode também servir de “norte” para um festival que se viu obrigado a navegar pelas águas virtuais com a pandemia na sua edição de aniversário, em 2020, e que este ano usa como tema o contraste analógico/digital. Até ao próximo dia 27, o festival ocupa os cinemas São Jorge e Cinema City Alvalade e a Cinemateca Portuguesa (Palácio Foz e Barata Salgueiro), prolongando-se numa dezena de exposições por vários espaços da capital.
Belle não é a única longa-metragem “de peso” a merecer ante-estreia no festival: também Flee – A Fuga, de Jonas Poher Rasmussen, nomeado para três Óscares da Academia, será mostrado no festival em antecipação à estreia portuguesa a 7 de abril (Cinema City Alvalade, quinta-feira 17, às 20h). Já vencedor dos Prémios Europeus de Cinema para melhor documentário e melhor longa-metragem de animação, Flee trabalha e transfigura, à imagem de Valsa com Bashir de Ari Folman, uma vivência pessoal – no caso, a de um refugiado afegão na Dinamarca, amigo de infância do realizador. É mais uma prova de que, ao contrário do que a “avalanche” de títulos que chegam semanalmente às salas, o cinema de animação não se destina só aos miúdos.
Prova maior disso são os dez títulos escalados para a Competição SPA Vasco Granja de curtas-metragens portuguesas (sexta-feira 25 às 22h no São Jorge), onde a animação é tratada como um espaço de exploração formal e narrativo. É uma coleção heterogénea de títulos onde reencontramos O Teu Nome É, de Paulo Patrício, que descobrimos no Curtas Vila do Conde de 2020 mas onde se destacam, desde logo, duas curtas em estreia. Uma é A Boneca de Kafka, do português radicado em Barcelona Bruno Simões, tocante fantasia animada por computador à volta dos últimos dias do autor de A Metamorfose, a que o malogrado Filipe Duarte (que morreu em 2020, com 46 anos) dá voz.
A outra é uma das melhores curtas portuguesas dos últimos anos: O Homem do Lixo, de Laura Gonçalves, co-autora do belíssimo Água Mole (que esteve na Quinzena dos Realizadores de Cannes em 2017) e que prolonga aqui o método de construir a imagem a partir de gravações de som. O que daqui sai é um comovente exercício de história oral à mesa de uma reunião familiar, que invoca o “fantasma” de um tio já falecido com uma delicadeza ao mesmo tempo lúdica e táctil.
400 filmes, 46 países
Homenageando o icónico divulgador da animação mundial na televisão, a competição SPA Vasco Grança não é o único concurso do festival, que premeia ainda longas-metragens, curtas-metragens, curtas de estudantes, Curtíssimas (máximo de dois minutos de duração) e Monstrinha (filmes para crianças e famílias). A programação 2022 dá especial destaque ao cinema de animação búlgaro, exibindo 80 filmes entre os quais, em estreia mundial, a longa To Put It Mildly de Anri Koulev, realizador que estará presente em Lisboa. Ao todo, o festival exibe 400 filmes de 46 países.
Em paralelo, a Monstra organiza nada menos do que uma dezena de exposições, valendo a pena falar do olhar sobre os bastidores de rodagem da longa em stop-motion de Nuno Beato Os Demónios do Meu Avô, Do Outro Lado da Câmara (patente desde fevereiro no Museu da Marioneta), e para as efemérides dos dez anos do estúdio BAP (na Sociedade Nacional de Belas-Artes) e dos 30 anos da produtora Animanostra (Galeria de Santa Maria Maior).
A programação completa da Monstra pode ser consultada quer no site oficial do festival em www.monstrafestival.com, quer através da app para telemóveis disponível para sistemas Android e iOS.
por Jorge Mourinha in Público | 16 de março de 2022
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público