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Assírio & Alvim celebra David Mourão-Ferreira

No dia em que se assinala o 95.º aniversário do nascimento de David Mourão-Ferreira, a Assírio & Alvim anuncia a nova edição da sua Obra Poética, disponível nas livrarias já em março. 


Poeta, ficcionista, ensaísta e professor, David Mourão-Ferreira nasceu há precisamente 95 anos em Lisboa, na Rua Joaquim Casimiro, perto das Janelas Verdes, «sob o signo dos Peixes, numa casa de onde se avistava, até à barra, todo o estuário do Tejo. Nos olhos sobretudo lhe ficou o espectáculo dos barcos que partiam» – havia de recordar.

Depois de frequentar o ensino público, de ter aulas privadas com um professor oposicionista e de alguns anos no Colégio Moderno, David frequentou a Faculdade de Letras, onde viria a ser professor durante larga parte da sua vida. Concluiu o curso de Românicas mas nunca apresentou tese nem chegou a doutorar-se. Não obstante, a relevância atribuída ao seu trabalho levaria a Universidade a atribuir-lhe a categoria de Professor Extraordinário – e «extraordinário» lhe chamaram alunos de muitas gerações, desde 1957 até 1996, o ano em que morreu, com um hiato entre 1963 e 1969 em que o seu contrato não foi renovado, ao que não terá sido estranho o seu apoio em 1958 à candidatura de Humberto Delgado.

A partir de 1965, foi também suspensa a sua colaboração com a RTP, que só seria retomada no tempo da chamada Primavera Marcelista, com o programa Imagens da Poesia Europeia (1969-1974). Entre o verão de 1974 e o verão de 1975, dirigiu o vespertino A Capital. Foi Secretário de Estado da Cultura em governos de Pinheiro de Azevedo, Mário Soares e Mota Pinto – mas não guardou boas memórias da experiência: «certos cargos a que outrora se emprestou parecem-lhe hoje sepultos em caves escuras de um museu de província.»

O seu trabalho de divulgação dos livros, dos autores e da leitura conheceu novos cenários desde que, em 1981, integrou a Fundação Gulbenkian, onde foi responsável pelo serviço de bibliotecas fixas e itinerantes e depois diretor da revista Colóquio/Letras.

O primeiro livro de poemas de David Mourão-Ferreira, A Secreta Viagem, foi editado em 1950, a ele se seguindo 16 livros, quase todos publicados autonomamente. Urbano Tavares Rodrigues, logo em 1950, chamou-lhe «o novo poeta do mistério dos sentidos»; Óscar Lopes elogiou «a mais informada e consciente oficina poética do decénio e a grande vitalidade instintiva»; Eduardo Prado Coelho «a aproximação da música e a celebração da própria poesia como a "síntese impossível" (lugar dos contrários, conjugação da água e do fogo, simbiose da terra e do ar, convocação de todas as memórias)». Vasco Graça Moura considerou-o «um grande poeta europeu cuja obra se inscreve e situa, de pleno direito, na grande tradição criadora ocidental».

Em paralelo, foi com Pedro Homem de Mello e Luiz de Macedo um dos primeiros poetas dos livros a escrever expressamente para Amália Rodrigues, que deu voz a textos como Primavera, Barco Negro, Abandono e Maria Lisboa. Depois da sua morte, as letras que escreveu e poemas dos seus livros continuam a ser muito cantados: Camané, por exemplo, já gravou 11 textos seus.

Escreveu três peças de teatro, só publicando uma delas, O Irmão. No campo da Ficção, publicou quatro recolhas de contos e novelas e o muito lido e premiado romance Um Amor Feliz. Mais extensa é a sua obra no campo do ensaio e da crítica literária: 16 volumes, além de diversos ensaios publicados em separado, a tradução de poesia, a organização de antologias e numerosas conferências. Tem livros publicados em sete línguas.

Dizia com ironia: «Os poetas costumam considerá-lo razoável narrador. Os narradores razoável poeta. E uns e outros, desde que elogiosamente sobre eles tenha escrito, um clarividente ensaísta.» Considerava que na sua escrita «todo o poema, enquanto se elabora, é campo de batalha onde impiedosamente se defrontam a cegueira e a vontade, o acaso e a atenção, a noite e o dia». Eugénio Lisboa alerta: «toda a poesia de Mourão-Ferreira, com todo aquele deflagrar de corpos que fulgem, é minada por rios subterrâneos de uma angústia omnipresente.» Chamar-lhe poeta do amor pode ser cómodo – mas ilude e ignora a densidade dos seus versos.

Em 2019, a Obra Poética de David Mourão-Ferreira já tivera uma edição, dirigida e anotada por Luis Manuel Gaspar e publicada pela Assírio & Alvim, integrando três livros dos anos 90 – Lisboa, Luzes e Sombras, Música de Cama e Rime Petrose que, embora editados em vida do autor, não integravam as edições anteriores. O facto de se encontrar agora esgotada suscita, sempre com a orientação de Luis Manuel Gaspar, uma segunda edição revista e aumentada nos textos de apoio, nomeadamente na Cronologia. Anuncia-se, também para este ano, a reedição das recolhas de ficção Gaivotas em Terra e Os Amantes, bem como do romance Um Amor Feliz.

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