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Parques de Sintra divulga estudo inédito que revela alcance internacional das coleções de arte do rei D. Fernando II

Apaixonado pelas artes e ávido colecionador, D. Fernando II, o Rei-Artista, marcou definitivamente o panorama cultural português do século XIX.


Agora, um estudo inédito, divulgado pela Parques de Sintra, vem revelar que o seu legado enquanto colecionador de arte extravasou fronteiras e ganhou dimensão internacional, estando, hoje, presente em alguns dos mais importantes museus do mundo, como o Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque, ou o Victoria and Albert Museum, de Londres. A investigação foi realizada por Hugo Xavier, historiador da arte, museólogo e conservador do Palácio Nacional da Pena, que, entre 2016 e 2021, analisou ao pormenor um inventário de 1866, no qual o próprio rei descreve um total de 224 peças de ourivesaria, marfim e esmalte da sua coleção, que atualmente se encontram dispersas. As conclusões do estudo são apresentadas no e-book de acesso livre “Propriedade Minha”: ourivesaria, marfins e esmaltes da coleção de D. Fernando II, a mais recente publicação do projeto editorial da Parques de Sintra “Coleções em Foco”, que, nesta edição, contou com o apoio da Fundação Casa de Bragança.

Foi precisamente a Fundação Casa de Bragança a primeira instituição a divulgar a existência do inventário manuscrito por D. Fernando II, quando, em 1952, publicou a obra do investigador Ernesto Soares, dedicada à atividade artística do rei (El-Rei D. Fernando II Artista), que continha a transcrição de uma página dispersa do documento. No entanto, o paradeiro do inventário completo permaneceu desconhecido até 2015, altura em que foi identificado pelo conservador Hugo Xavier entre a documentação doada ao Palácio Nacional da Pena por uma descendente da Condessa d’Edla. Neste documento de 1866, composto por 21 folhas em papel de carta, o monarca descreve e classifica 224 peças dos núcleos de ourivesaria, marfins e esmaltes da sua coleção, fazendo, por vezes, apreciações técnicas e estéticas acerca das mesmas e acrescentando curiosas anotações sobre o uso que dava a alguns objetos, bem reveladoras dos seus hábitos. Refere, por exemplo, uma pequena salva quadrada de prata que pertenceu ao escritor Almeida Garrett: “serve-me ha muitos annos para recolher a cinza dos charutos”. Assinala também as proveniências, tanto dos objetos que comprou, como dos que lhe foram oferecidos, e, de forma a clarificar que estas peças eram suas e não da coroa, escreve no final de cada comentário “Propriedade Minha”.

Dada a inegável relevância deste documento, Hugo Xavier dedicou-se ao seu estudo exaustivo durante os últimos cinco anos e concluiu que D. Fernando II foi, efetivamente, um colecionador de arte de referência internacional, que reuniu um extenso e variado conjunto de obras de grande qualidade. Na publicação “Propriedade Minha”: ourivesaria, marfins e esmaltes da coleção de D. Fernando II, agora lançada, o investigador explora temas como a caracterização da coleção, a forma como se encontrava exposta, os agentes de mercado a quem o rei recorria ou a dispersão ocorrida após a sua morte, disponibilizando ainda a transcrição integral do inventário elaborado pelo rei. Para tal, foram desenvolvidas pesquisas no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na Biblioteca da Ajuda, na Biblioteca Nacional de Portugal e no Arquivo do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança, onde se conservam os “Livros de Caixa” e demais registos de despesas de D. Fernando II.

A investigação permitiu também identificar várias peças mencionadas no inventário, há muito dispersas por diferentes coleções públicas e privadas, nacionais e estrangeiras ou em parte incerta. Em Portugal, o núcleo mais significativo conserva-se no Palácio Nacional da Ajuda, com ramificações nos acervos do Palácio Nacional da Pena, Museu Nacional de Arte Antiga, Museu-Biblioteca da Casa de Bragança, Museu Calouste Gulbenkian, Museu Nacional de Soares dos Reis, entre outros. A nível internacional, há vários museus de renome que têm no seu acervo peças que pertenceram a D. Fernando II, com destaque para o Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque; o J. Paul Getty Museum, de Los Angeles; o Victoria and Albert Museum, de Londres; e o Louvre de Abu Dhabi.

Esta obra, que vem ampliar substancialmente o conhecimento sobre a faceta de colecionador do rei D. Fernando II, é o quarto número da série de monografias digitais “Coleções em Foco”. Trata-se de uma iniciativa editorial da Parques de Sintra, inédita a nível nacional, cujo objetivo é viabilizar o acesso fácil e gratuito aos resultados mais recentes do trabalho de investigação desenvolvido nos Palácios Nacionais de Sintra, de Queluz e da Pena, com vista a promover a partilha e a disseminação do conhecimento. As monografias que integram esta coleção são disponibilizadas online, gratuitamente, de acordo com o movimento Open Access. Este número já está disponível no site da Parques de Sintra para download, em português.

Sobre "Coleções Em Foco"
Iniciativa editorial digital da Parques de Sintra, que tem por objetivo a publicação e divulgação de investigações e estudos recentes sobre objetos, personagens, vivências e temas que envolvam os acervos dos Palácios Nacionais de Sintra, Queluz e Pena – com especial destaque para as coleções reais – ou outros acervos ligados à vida da família real nestes espaços, bem como a recuperação de memórias esquecidas ou dispersas do tempo da monarquia relativas a estes três antigos Palácios Reais.

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