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Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva recebe exemplo raro de pintura assinada pelos dois artistas

Intitulada Le feu d’artifice, é a única obra pintada em colaboração pelo casal de artistas de que a diretora do museu, Marina Bairrão Ruivo, tem conhecimento.

"Le feu d'artifice" (O Fogo de Artifício), a obra data de 1939 e é um guache sobre cartão Artnet Vieira da Silva e Arpad Szenes - Fotografia retirada da página de Facebook do Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva


A Fundação Claude & Sofia Marion doou ao Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, uma pintura que tem a rara particularidade de ter sido criada em colaboração pelo casal de artistas.

Intitulada Le feu d'artifice (O Fogo de Artifício), a obra data de 1939 e é um guache sobre cartão, de formato quase quadrado (74 por 75,5 centímetros), que apresenta, sobre um fundo negro, uma explosão de figuras geométricas e símbolos coloridos, pontuada por estrelas e cometas, com o sol no centro.

“É a única obra que conheço pintada por ambos os artistas. Podem até existir mais, que desconheço, mas são peças muito raras”, sublinhou a diretora do museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, Marina Bairrão Ruivo, que informou a Lusa desta doação.

A fundação inglesa Claude & Sofia Marion, que exerce uma atividade benemérita em várias áreas, da saúde à cultura e à educação, doou também uma outra obra ao museu, Les signes du zodiaque (Os Signos do Zodíaco). As duas obras foram criadas no mesmo ano, tem dimensões semelhantes e ambas são em guache sobre cartão, mas esta última ostenta apenas a assinatura de Vieira da Silva. Também de fundo negro, a paleta de cores a que a artista recorreu para pintar os signos do Zodíaco corresponde à que o casal usou em Le feu d'artifice.

De acordo com Marina Bairrão Ruivo, as obras foram restauradas quando da doação, e estão expostas há alguns meses: “A ideia era fazer uma sessão para as apresentar publicamente, em agradecimento aos mecenas, mas não foi possível devido às circunstâncias da pandemia”.

Criada ainda em vida de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), uma das mais importantes pintoras portuguesas, e instituída por decreto-lei em 10 de maio de 1990, a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, que tutela o museu com o mesmo nome, tem como missão garantir a existência de um espaço, em Portugal, onde o público possa contactar permanentemente com a obra do casal de artistas.

Quando França sofreu a ocupação nazi, na Segunda Guerra Mundial, Vieira da Silva e Arpad Szenes, que viviam em Paris, tentaram regressar a Portugal, mas Salazar, que chefiava o Governo, retirou a nacionalidade portuguesa à pintora e ao marido, cidadão húngaro de ascendência judia.

Vieira da Silva e Arpad Szenes partiram então para o Brasil, onde estiveram exilados entre 1940 e 1947, permanecendo apátridas até 1956, ano em que lhes foi concedida a nacionalidade francesa.

O Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva foi inaugurado a 3 de novembro de 1994, num edifício da Praça das Amoreiras, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa, e apresenta regularmente exposições com a obra do casal ou de artistas com os quais tiveram algum tipo de ligação de amizade.

A Fundação Calouste Gulbenkian custeou as obras de remodelação e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento apoiou o projecto na área da investigação.

A coleção do museu cobre um vasto período da produção de pintura e desenho do casal: de 1911 a 1985, para Arpad Szenes (1897-1985), e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992).

Também foi desejo de Vieira da Silva legar um espaço de investigação aberto ao público, cumprido com a criação do Centro de Documentação e Investigação, que, além de desenvolver pesquisas internamente, tem acolhido investigadores portugueses e estrangeiros.

Na Rua João Penha, junto à praça das Amoreiras e ao museu, está também aberta ao público a antiga casa-atelier da pintora, com uma programação própria de exposições e conferências, acolhimento de atividades propostas pela comunidade e residências para artistas e investigadores.


por Lusa e Público | 26 de janeiro de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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