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Serralves 2022. Da escultura de Rui Chafes ao pavilhão do japonês Ikeda

A obra de Rui Chafes, Prémio Pessoa 2015, estará em destaque no museu e na Grande Exposição Anual no Parque de Serralves. Agenda para este ano reforça ponte atlântica com o Brasil e contempla ainda uma "loucura" arquitetónica para mostrar o trabalho de Ryoji Ikeda.

"Burning in the forbidden sea", 2011, escultura de Rui Chafes  © Direitos reservados Obra do artistia visual japonês Ryoji Ikeda será exposta num pavilhão temporário a partir de maio  © Direitos reservados Libanês Tarek Atoui registou sons de cais e portos de todo o mundo  © Direitos reservados

Prémio Pessoa em 2015, o escultor lisboeta Rui Chafes é um nome central da programação do Museu de Serralves para 2022, apresentada sob o lema "Renovar o Passado, Contruir o Futuro", num ano que ficará ainda marcado pelo arranque da construção da nova ala poente do museu, projeto de Álvaro Siza para a expansão física do edifício. As obras "começam dentro de poucos dias", anunciou Ana Pinho, presidente da Fundação Serralves.

O japonês Ryoji Ikeda, o libanês Tarek Atoui, os brasileiros José Leonilson e Rivane Neuenschwander, o francês David Douard ou a portuguesa Ana Jotta são outros dos nomes cujas obras vão passar pelos diversos espaços de Serralves ao longo do próximo ano, bem como novas abordagens à coleção Miró, cedida ao município do Porto por 25 anos e em depósito na Fundação Serralves.

Assentando em cinco eixos que definem a essência de Serralves, as propostas para 2022 valorizam o trabalho de artistas portugueses, promovem a mostra da coleção permanente do museu, reforçam o posicionamento internacional, valorizam a multidisciplinaridade e inovação e estreitam a comunhão entre o museu e o parque envolvente. "Se uma exposição combinar vários destes eixos, estamos a fazer bem o nosso trabalho", resumiu Philippe Vergne, o curador francês que desde 2019 exerce funções como diretor do museu de Serralves.

Sucedendo a Ágora, exposição do norte-americano Mark Bradford que transita do final de 2021 e se estenderá ainda até junho deste ano (tal como , a mostra da obra do escultor Rui Chafes chega a Serralves em julho, integrada numa das estratégias fundamentais do museu, a de "promoção e dinamização da arte contemporânea nacional", salientou Philippe Vergne.

Instalada no museu, no espaço atualmente ocupado por Ágora, a exposição terá prolongamento para o Parque de Serralves, "onde a obra de Chafes responderá ao ambiente natural e aos ciclos da natureza". Aí, entre os pontos de atração, estará a reapresentação de uma colaboração antiga de Rui Chafes com a bailarina e coreógrafa Vera Mantero, "Comer o coração", apresentada na Bienal de São Paulo em 2004 - uma enorme escultura em ferro na qual a bailarina executa uma dança, suspensa no ar, com pinturas em todo o corpo.

"Trata-se de uma mostra que abrange uma retrospetiva dos seus mais de 30 anos de carreira até aos seus trabalhos mais atuais, incluindo um conjunto de esculturas especificamente pensadas para o Museu e o Parque de Serralves", referiu Vergne.

A aposta mais "ousada" da programação de Serralves para este ano, contudo, chega em maio, com a "folly arquitetónica" encomendada ao japonês Ryoji Ikeda - um pavilhão temporário concebido em colaboração com o arquiteto portuense Nuno Brandão Costa e que durante um ano (até maio de 2023) vai concentrar uma amostra do mundo artístico de Ikeda, "uma lenda da música e da arte experimental", como descreveu o diretor do Museu de Serralves.

Para Ryoji Ikeda trata-se de um regresso ao Porto, "agora na pele de artista visual, depois de ter estado aqui como músico".

De acordo com o dossier apresentado por Serralves, este pavilhão (Micro/Macro) será "uma verdadeira extensão da forma como Ikeda compõe e estrutura som, imagem e luz". E uma "experiência totalmente envolvente" sobre o trabalho do nipónico, que cria uma "visualização de dados" a partir de informação extraída de fontes tão diversas quanto a NASA, o Projeto do Genoma Humano ou dado de física quântica.

Brasil em dose dupla

A reforçar uma "relação duradoura com o panorama e a história da arte do Brasil", o Museu de Serralves terá este ano em destaque dois nomes fortes da cena artística brasileira. Em março, chega "a primeira grande restrospetiva em solo europeu" da obra de José Leonilson, figura de relevo da chamada geração brasileira da década de 80 do século passado e que morreu com 36 anos, em 1993, pouco depois de um diagnóstico positivo de HIV. A sua estética introspetiva "acaba por refletir as angústias, a doença e a finitude do ser humano".

Depois de Leonilson, chega em setembro "a primeira exposição individual em Portugal" de Rivane Neuenschwander, mineira (Belo Horizonte) que foi artista residente no Royal College of Art, em Londres, e cuja "obra de forte pendor político e social" convida "a audiência a interagir", descreve Philippe Vergne.

Mas as novidades chegam já a partir de fevereiro, com a mostra de Tarek Atoui, artista libanês que criou uma "meditação escultural" a partir de registos sonoros em cais e portos de todo o mundo, num projeto que arrancou precisamente no Porto há sete anos.

De resto, Serralves 2022 faz-se também da programação do Parque, onde as árvores e os fungos estarão em destaque, e da Casa de Cinema Manoel Oliveira, onde a relação do realizador com a escritora Agustina Bessa-Luís será tema central, destacando-se ainda uma restrospetiva dedicada a Agnès Varda.


por Rui Frias in Diário de Notícias | 25 de janeiro de 2022
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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