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A Pessoa e o Sagrado: Um ensaio brilhante e intemporal de Simone Weil

A pessoa humana é sagrada? Para Simone Weil, «há em todo o homem algo de sagrado, mas não é a sua pessoa. Também não é a pessoa humana. É ele, aquele homem, simplesmente».


No ano da sua prematura morte, em 1943, a incansável e plural filósofa francesa escreveu A Pessoa e o Sagrado, um brilhante ensaio que não viu ser publicado em vida, mas que viria a marcar o conceito de «pessoa» por ser um contraponto ao personalismo de Emmanuel Mounier e à ideia impensada do «carácter sagrado da pessoa humana». Agora a obra, tão actual e necessária como há 80 anos, chega finalmente a Portugal, numa edição Livros Vermelhos da Guerra e Paz, com tradução de Rita Sousa Lopes.

«Onde existe um erro grave de vocabulário, é difícil que não haja um erro grave de pensamento.» Contrária ao conceito de «pessoa» defendido pelo personalismo de Emmanuel Mounier, Simone Weil escreveu, em 1943, poucos meses antes da tuberculose lhe roubar a vida, o ensaio A Pessoa Humana É Sagrada?, publicado postumamente pela Gallimard com o título A Pessoa e o Sagrado.

Na obra, a filósofa parte das suas mais essenciais assunções filosóficas – a beleza, a justiça e o mal – para este debate sobre a «pessoa», convocando também o direito e a democracia e isolando?a de qualquer colectividade, partido ou instituição. Depois, centra-se no que é sagrado e conclui que é «aquilo que, num ser humano, é impessoal». Porque o impessoal é a vocação distintiva dos humanos: é essa impessoalidade que nos singulariza perante as outras espécies.

Despertando as mais plurais reflexões, A Pessoa e o Sagrado reaviva os debates que, em Portugal, marcaram a geração da revista O Tempo e o Modo, que marcou os católicos progressistas portugueses, como João Bénard da Costa, Manuel Lucena, Alçada Baptista, Manuel S. Lourenço ou Alberto Vaz da Silva. Tal como gerou  a admiração de grandes pensadores, seus contemporâneos, entre os quais Albert Camus, que a considerou «o único grande espírito do nosso tempo», e Georges Bernanos. Simone Weil foi mesmo proclamada por André Gide como «a santa padroeira de todos os forasteiros».

Oito décadas depois, a obra é finalmente traduzida e publicada em Portugal, país que representou um ponto de viragem do pensamento de Weil. Na Póvoa de Varzim, assistiu a uma procissão católica em 1935. Um cortejo de mulheres de pescadores, vestidas de negro, percorria a praia, em luto, promessas e orações pelos maridos, e esses cantos, «de uma tristeza lancinante», segundo palavras suas, abriram nela a ferida mística que não mais a largaria.

Uma edição Livros Vermelhos, colecção da Guerra e Paz que privilegia teses contra catecismos e o pensamento único, A Pessoa e o Sagrado chega à rede livreira nacional no próximo dia 11 de janeiro, com tradução de Rita Sousa Lopes.  A obra poderá ainda ser adquirida através do site da editora.

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