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"Expor no Louvre é um desafio e uma confirmação. Um momento importante no meu percurso"

Pedro Cabrita Reis é o primeiro artista português a expor no Museu do Louvre, em Paris.

© Christophe Guerreiro


Revela, em primeira mão, porque escolheu esculpir em cortiça as "Três Graças", tendo cada um dos três elementos 4,50 m de altura e 500 quilos de peso, numa base em ferro de 400 quilos.

As "Três Graças" foram uma proposta sua ou um pedido específico do Louvre? Se foi uma escolha sua, porquê esta opção?


Foi uma escolha minha. Interessa-me reavaliar temas, mitos e narrativas que fundamentam a História da Arte. As "Três Graças", atravessando a nossa História europeia desde antes da Antiguidade Clássica, não estão fora deste meu inquérito.

Considerada a obra que melhor representa a beleza feminina na arte, pergunto o que representa mais para si?

Representa o desafio de olhar para um tema que foi ao longo dos séculos tratado de forma diferente por diferentes artistas e ao qual eu posso acrescentar uma visão contemporânea.

Irá criar esta peça toda em cortiça, na Corticeira Amorim. Que características (dimensão, material, dificuldade) terá a obra?

É um facto. A Corticeira Amorim decidiu, desde o princípio, associar-se a este meu projeto disponibilizando materiais, espaço e logística. A minha escultura "Três Graças" compõe-se de três elementos autónomos, todos em cortiça, tendo cada um cerca de 4,50 m de altura e aproximadamente 500 kg de peso, estando apoiados sobre uma base em ferro com cerca de 400 kg.

Será a primeira obra desta envergadura?

Não. Sempre lidei naturalmente com as grandes escalas e o espaço público. Veja-se, entre outros, o caso recente da obra "Central Tejo" que realizei a pedido da EDP.

Esta é a sua primeira obra em cortiça? Porquê este material?

Sim. Para além da vontade de incluir novos materiais no meu processo criativo, a cortiça tem, entre outras, a vantagem de ser sustentável e nacional.

O seu atelier será dentro da Corticeira Amorim?

Depois do meu próprio atelier e, de uma outra empresa onde fabriquei, já em cortiça, as maquetes para esta minha escultura, será nas instalações da Amorim que realizarei a fase final da mesma.

Quanto tempo demorará a fazer a obra?

Nesta fase final da execução da escultura, cerca de dois meses.

Com quantas pessoas vai contar na sua equipa para a execução desta obra?

Com uma equipa de cinco assistentes.

Como espera ser recebido, enquanto artista, num ambiente industrial totalmente distinto: um "chão de fábrica" e do operariado?

O mundo do trabalho é-me familiar desde há muito tempo, seja em Portugal, seja fora do país. Fiz, nesse mundo, muitos e bons amigos que, com a sua experiência e entusiasmo, me ajudaram na execução das obras que fui criando, nos lugares por onde passei.

© Cabrita Studio


Foi escolhido pelo Louvre em que contexto?

As "Três Graças" serão apresentadas no quadro da Temporada Portugal - França. O Louvre está indissociavelmente ligado a este projeto bilateral e, nesse quadro, decidiu convidar-me a propor uma obra para o Jardim das Tulherias. Talvez o facto de ter uma obra com visibilidade internacional consolidada possa ter influído nesse convite... Fui convidado diretamente pela presidente do Louvre, Laurence des Cars. Pela minha parte desafiei o João Pinharanda a acompanhar me neste processo, enquanto comissário.

Em que zona do Louvre irá ficar exposta? Em exposição permanente ou temporária?

Será exposta no Jardim das Tulherias. Com inauguração prevista para 14 de fevereiro de 2022, a obra ficará em exposição até ao final da Temporada Portugal - França a 31 de outubro de 2022.

Segundo julgo saber, esta é uma presença inédita, ou seja, nunca nenhum artista português teve presença / expôs no Louvre. Que importância tem para si e para as artes made in Portugal?

O Louvre é um museu que dispensa quaisquer apresentações e, expôr nele, é simultaneamente um desafio e uma confirmação. É, por isso mesmo, um momento importante no meu percurso.

Que marca/que assinatura quer deixar no Louvre com esta obra?

Onde quer que apresentem as suas obras, os artistas deixam, através delas, a irrevogável marca da individualidade do seu olhar. A obra que levarei ao Louvre não será um caso diferente.

Contou com apoio do Ministério da Cultura?

Não. Sua Excelência o Senhor Presidente da República dignou-se conceder o seu Alto Patrocínio a este meu projecto. A Fundação Calouste Gulbenkian associou-se a ele desde a primeira hora. A Corticeira Amorim igualmente, da mesma forma que a Altice, a Engie, a Vinci, a Fidelidade, a Barbot e a ArtWorks. Foi este conjunto de boas vontades e responsabilidade social, protagonizado por empresas do sector privado, que tornou possível a realização do meu projeto.

A cultura define a identidade de um povo. Estará essa identidade em causa pelo parco investimento público e privado realizado na cultura - tantas vezes denunciado pelos artistas - , ao longo das últimas décadas?

Tal como um povo tem muitas identidades, também são muitas e diversas as culturas que o nomeiam. Esta é uma realidade inegavelmente mais profunda e duradoura do que as vicissitudes desse parco investimento público e privado que refere. Os artistas saberão sempre encontrar e defender o lugar da sua criatividade.

Que política para a cultura e as artes deveria o novo governo, que será eleito a 30 de janeiro de 2022, definir como prioritária - a primeira que deveria decidir e aplicar?

Encaro como absolutamente prioritário e urgente aprofundar o encontro entre o governo, o sector privado e o "mundo da cultura e das artes" para debater e, consequentemente, pôr em prática uma efetiva e duradoura política para o sector, para que, desejavelmente, se possa ultrapassar a sempiterna miséria paternalista da subsídio-dependência.


por Rosália Amorim, in Diário de Notícias | 15 de dezembro de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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