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Já pode ser proprietário de uma relíquia do Museu de São Roque
A Santa Casa da Misericórdia entrou esta quarta-feira no mercado de venda de arte digital. É lançada plataforma Artentik onde poderão ser compradas cópias autenticadas do espólio da Misericórdia. Os pagamentos são feitos em criptomoeda.
Um relicário do presépio, uma pintura de Nossa Senhora da Conceição, uma estátua de São Francisco Xavier são três dos treze bens que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) vai primeiro disponibilizar na plataforma digital Artentik.
Com a criação desta página de internet, a SCML vai entrar no mercado de venda de arte digital, através da tecnologia NFT. Estas letras são a sigla da expressão inglesa “Non Fungible Tokens”, ou seja, “Tokens Não Fungíveis” – um novo mercado que está a crescer a nível mundial de venda de cópias autenticadas de certos bens.
Em entrevista à Renascença, o Provedor da SCML, Edmundo Martinho confessa que todo este mundo é novo para si, e que tem exigido “um processo de aprendizagem muito rápido”. No site, que entra este dia 1 de dezembro em funcionamento apenas serão permitidas compras com criptomoeda.
Segundo o Provedor, “este projeto Artentik visa dois objetivos: um é dar a conhecer o património artístico e religioso à escala do mundo e ao mesmo tempo conseguir uma rentabilização deste património”. A ideia é disponibilizar cópias dos bens do espólio da Misericórdia, nomeadamente bens do Museu de São Roque, através da tecnologia NFT.
“Este mundo dos NFT – Non Fungible Tokens – tem vindo a crescer de forma inesperada”, admite Edmundo Martinho. “A arte digital, neste sentido global, tem vindo a crescer e entendemos que a Santa Casa deveria aproveitar e colocar-se na linha da frente para lançar uma plataforma com estas caraterísticas”, acrescenta o responsável.
Quem adquire um NFT fica proprietário de uma imagem encriptada única, explica Edmundo Martinho. Em declarações à Renascença o Provedor afirma: “Significa que destes bens será produzido um número limitado de cópias digitais que nunca mais poderá voltar a ser reproduzido. Se fizemos um lançamento de vinte cópias de um bem físico, nunca mais poderemos voltar a fazê-lo, para proteção de quem compra nestas condições”.
Com preços que podem ir dos 100 euros aos 200 mil euros, a SCML dá assim acesso global a bens do seu acervo com mais de 500 anos de história. “Isto significa que a pessoa fica proprietária, com registo permanente e indelével – porque tudo isto se passa no domínio do blockchaine – de uma cópia autenticada, feita em condições técnicas irrepreensíveis”, indica o Provedor da SCML.
Para já a SCML disponibiliza um número limitados de peças, mas admite poder vir a alargar as vendas, “disponibilizando todo o espólio”, dependendo da procura. “Teoricamente todos os nossos bens podem vir a ser disponibilizados. Temos um programa e um calendário pré-estabelecido e que será adaptado à resposta dos utilizadores, mas vamos começar com três tipos de bens”, explica Edmundo Martinho.
“Primeiro teremos pinturas que têm a ver com São Francisco Xavier. É uma coleção de pinturas de André Reinoso que celebra a vida de São Francisco e que são dos séculos XVI e XVII; depois teremos alguns artefactos, relicários e peças de joalharia que têm grande impacto. E depois algumas relíquias. A Santa Casa dispõe de uma das coleções mais vastas e valiosas de relíquias e neste primeiro lançamento vai sair uma das relíquias que tem valor religioso e emocional”, explica o Provedor.
Neste novo mercado, a SCML vai também dar a mão a outras entidades. Nomeadamente a Manicómio que junta artistas com problemas de saúde mental que também vai poder através desta plataforma disponibilizar as suas obras. Dia 1 de dezembro foi colocada à venda uma peça digital criada de propósito para este site. Trata-se de “uma obra de grande valor estético e artístico”, refere o Provedor.
Mas a SCML “está aberta a todas as entidades e projetos”, diz Edmundo Martinho que quer assim que na plataforma digital outros “grupos com deficiência, refugiados ou grupos que estão normalmente distantes destes meios”, possam assim dar a conhecer o seu trabalho e tirar rendimento dele.
Tem, contudo, de haver uma partilha de um “conjunto de valores”, sublinha o Provedor. Segundo Edmundo Martinho, um dos objetivos desta entrada neste mercado emergente da arte digital, tem também a ver com o “melhor cumprir as funções” da SCML, obtendo para isso mais financiamento para a missão.
por Maria João Costa in Renascença | 1 de dezembro de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença