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Joana Alegre: "Quis assumir a música como um elemento central da minha vida"
Começou o ano no Festival da Canção e termina-o com um novo álbum, o segundo. Joana Alegre chamou-lhe Centro, para sublinhar o papel da música na sua vida. A produção é de Luísa Sobral, que canta um dos temas com ela.
Chega esta semana às lojas, em CD, o segundo álbum de Joana Alegre, vários meses depois da sua participação no Festival RTP da Canção com Joana do Mar (que ficou em 7.º lugar na final). É esta, aliás, a canção que abre um disco onde o mar está presente noutros temas, como Mar adentro ou Guarda do mar. Depois da sua estreia discográfica com Joan & The White Hearts, em 2016, onde só três das 13 canções eram cantadas em português (Cavalos brancos, com um poema do seu pai, Manuel Alegre, Aqui e Terra do nim), sendo as restantes em inglês, o novo álbum (Centro), é todo ele cantado na sua língua materna.
A produção do disco, que já foi apresentado ao vivo no Olga Cadaval, em Sintra, no dia 30 de outubro, é de Luísa Sobral, que tem um dueto vocal com Joana em Canção do instante. Além de Joana Alegre (voz, guitarra, ukelele) e Luísa Sobral, participaram nas gravações Vicente Palma (piano, teclados e harmónio), Mário Delgado (guitarra, guitarra eléctrica e bandolim), Carlos Miguel Antunes (bateria e percussão), Sara Vidal (harpa), Emiliana Silva (violino), Nuno Gonzalez (contrabaixo e baixo elétrico) e um coro composto por três vozes: Gabriel De Rose, Carolina Picoito e Francisco Sequeira.
“Grande parte das canções já estavam compostas e relativamente pensadas, em termos do que eu gostava que fosse o som”, diz agora Joana Alegre ao PÚBLICO. “A minha grande dificuldade, ao longo destes três, quatro anos, era encontrar alguém que, do ponto de vista da produção, percebesse essa linguagem.” E esse alguém acabou por ser a cantora e compositora Luísa Sobral, que ao ver as participações de Joana no programa televisivo The Voice Portugal, na RTP, decidiu contactá-la. “Nós já nos conhecíamos dos tempos do jazz”, lembra Joana. “Depois daquela aventura do The Voice, a Luísa mandou-me uma mensagem a dizer que queria trabalhar comigo. Encontrámo-nos, mostrei-lhe as canções, ela gostou muito e começámos a trabalhar. Porque também havia aqui um espaço comum, ouvíamos muito as mesmas coisas, tínhamos gostos semelhantes e foi tudo muito fácil a partir daí, houve um entendimento imediato.” Isto em finais de 2019. E foi também Luísa Sobral quem convenceu Joana a concorrer com Joana do Mar ao Festival da Canção.
Junção de grandes músicos
Quanto ao disco, entenderam-se: “Ela não só correspondeu como superou as expectativas, porque é uma pessoa incrível, com o seu próprio génio criativo. E ainda acrescentou mais aos arranjos que eu tinha pensado. Introduziu, por exemplo, o harmónio, que era um instrumento em que eu não tinha pensado. Pensei na harpa, no violino, mas no harmónio não. E ele acabou por estar muito presente, em quase todas as canções do disco.” A escola dos músicos foi praticamente metade-metade, diz Joana: “Eu sabia que queria ter o Vicente, a Sara Vidal e a Emiliana Silva. E a Luísa sugeriu o Mário Delgado, o Nuno Gonzalez e o Carlos Miguel Antunes. Foi uma junção feliz, com grandes músicos.
”A gravação foi feita já durante a pandemia. Começou em novembro de 2020, com alguns acrescentos tardios (algumas linhas de violino e harpa, por exemplo) e a voz final (até aí, fora usada só voz-guia) foi gravada já em janeiro de 2021. Todas as canções do disco são, letra e música, da autoria de Joana Alegre e numa delas Luísa quis também juntar a sua voz. “Ela foi-se entusiasmando com muitas das canções e quis experimentar, a dada altura, cantar comigo a Canção do instante. Experimentámos, eu gostei muito, e ficou”.
Um processo de reencontro
O título do disco, Centro, não corresponde ao título de nenhuma das canções do disco, mas tem uma explicação. “Eu tinha um título original que achei muito literário, porque era simplesmente ‘Canções’. Eu tinha uma série de títulos alternativos, mas achava que era tudo muito pretensioso. O meu pai gostou muito de ‘Canções’, que achava uma coisa meio camoniana, mas eu ainda não estava contente com essa escolha. A dada altura, fui convidada para falar de saúde mental numa conferência sobre temas da actualidade, e tocar canções deste disco mais relacionadas com esse tema. E, de imediato, as que achei mais apropriadas tinham a palavra ‘centro’ [Cicatriz e Canção do instante]. Então senti que aquela era a palavra, o título do álbum, porque ele foi um processo de reencontro, de centramento, na fase da vida em que fui escrevendo estas canções, nesta coisa de voltar à música. Quis assumir a música como um elemento central da minha vida. Daí o Centro.”
por Nuno Pacheco in Público | 17 de novembro de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público