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"Serpentário" estreia a 25 de novembro nos Cinemas
A longa metragem "Serpentário", realizada por Carlos Conceição, estreou no Festival de Berlim e granjeou prémios ao longo do ano que se seguiu.
Entre os quais o de melhor primeira longa no DocLisboa, o de melhor filme no SiciliaQueer, melhor filme e melhor montagem no FilmMadrid, melhor realizador em Pontevedra, bem como uma menção honrosa de Melhor Filme no Festival Nouveau Cinema em Montreal e o prémio do público em Burgas na Bulgária. O filme integrou ainda a programação das mais importantes mostras não competitivas europeias, como por exemplo a Viennale.
Até à data, quatro salas exibirão o filme do cineasta português, que vai estrear nos cinemas no dia 25 de novembro: Cinema City Alvalade, Cinema Trindade, Cinema City Setúbal e Cinema City Leiria. O realizador marcará presença em duas sessões especiais em Alvalade e uma no Cinema Trindade, no Porto. Mais informação e mais salas serão reveladas em breve.
"A minha família já estava em Angola há 3 gerações quando a guerra os fez partir em 1975, após 15 longos anos de guerra civil. Apesar de nunca terem estado em Portugal, as circunstâncias ditaram que passassem a ser vistos como portugueses. Assim, antes e depois da independência angolana em 1975, foram-se exilando - muitas vezes fugindo apenas com a roupa do corpo. Toda a minha família fugiu para Portugal, exceto a minha mãe e o meu pai, que sempre acreditaram e alimentaram a esperança no novo país em que Angola se estaria a tornar. Nasci 4 anos depois da "ponte aérea", já dentro de uma nova guerra civil. Na verdade, houve várias: uma guerra partidária, outra com a África do Sul, mais a Guerra Fria, os espiões, as bombas, o estalinismo, a pobreza... Não havia muito para uma criança crescer, principalmente nenhuma das utopias que definiam os meus pais e, como tal, faltava-me o sentido de pertença em Angola. Foi o cinema que me ajudou a forjar o passado através de imagens. A guerra terminou em 2002, no mesmo ano em que me fui embora e entrei na escola de cinema em Lisboa. Deixei para trás um país física e culturalmente devastado. Não voltei a Angola durante 10 anos.
Quando regressei para filmar o "Serpentário", as memórias tinham-se tornado filmes na minha cabeça. A guerra tinha sido um rito de passagem entre a ligação cortada com a história e a reinvenção das suas texturas e cores. O passado tornou-se uma aventura, um western, um filme de catástrofe, ao mesmo tempo que eu via o meu eu mais jovem a tentar fazer as pazes com uma terra que o traiu. Não me sinto representado no cinema feito em África.
A minha é uma narrativa africana muitas vezes inédita: o conto dos sem terra, dos fantasmas errantes que procuram eternamente por si mesmo no meio das poeiras da memória. Mas havia uma parte de Angola que ainda se sentia como se estivesse em casa. Não um lugar, mas um sentimento. Tivemos de nos perder sozinhos na paisagem para a procurarmos. Não havia outra forma de fazer este filme. É um documentário sobre a procura desse sentimento.
Enquanto eu preparava o filme, a minha mãe disse-me que estava a pensar em adotar um tipo de papagaio que tem uma esperança de vida surpreendentemente longa. Ela pediu-me para pensar sobre a proposta durante alguns dias: só o faria se eu estivesse disposto a tomar conta do pássaro no dia que ela morresse."
- Carlos Conceição
Biografia
Carlos Conceição, natural de Angola, é licenciado em cinema pela ESTC de Lisboa, e em Literatura Inglesa do Romantismo. A sua primeira curta-metragem, “Carne” (2010), foi premiada com o prémio Novo Talento no Indie Lisboa em 2010, enquanto “Versailles” (2013) competiu no prestigiado Festival de Locarno. Ambos os filmes “Boa Noite Cinderela” (2014) e “Coelho Mau” (2017) estrearam em competição no Festival de Cannes com ótimas reações de público e crítica. "Coelho Mau" veio ainda a ganhar diversos prémios internacionais e o prémio Sophia de melhor curta-metragem portuguesa. Também foi alvo de retrospetivas integrais na Cinemateca Francesa em Paris e no Festival de Cinema de Amiens, bem como no Curtas Vila do Conde.
Filmes
“Vampiro” (2005), “O Meu Alien” (2008) , “Duas Aranhas” (2009), “Carne” (2010), “O Inferno” (2011), “Versailles” (2013), “Boa Noite Cinderela” (2014), “Segredo de Matar” (2014), “Acorda, Leviatã” (2015), “Coelho Mau” (2017), “Serpentário” (2019), “Um Fio de Baba Escarlate” (2020)