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Paisagens sem história celebra obra de Maria Judite de Carvalho no Teatro São Luiz
Mariana, Água parada e Uma conversa são as três leituras encenadas a apresentar no teatro lisboeta. Um programa a evocar o centenário do nascimento da escritora.
Paisagens sem história é o título do ciclo de leituras encenadas a partir de obras da escritora Maria Judite de Carvalho (1921-1998), que começou este sábado no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, com base no conto Tanta Gente, Mariana.
“Dar alguma visibilidade à escrita e obra de Maria Judite Carvalho, que toca particularmente” a atriz e encenadora Cristina Carvalhal, foi um dos motivos que a levou a idealizar a iniciativa, que também dirige, e que ganhou “ainda mais sentido” por este ano se assinalar o centenário de nascimento da autora, como disse à agência Lusa.
Mariana, Água parada e Uma conversa são as três leituras encenadas, a apresentar no teatro lisboeta, com a segunda e terceiras a decorrerem nos dias 26 e 30 deste mês, respetivamente.
Apesar de ter descoberto a obra de Maria Judite de Carvalho “há muito pouco tempo, apeteceu-me muito pô-la em palco e divulgá-la”, sublinhou Cristina Carvalhal. Para a actriz e encenadora, ler a escritora é “mergulhar num imenso caldeirão de coisas sem nome, porque tratadas com extremo pudor, e que parecem explicar-nos, como a copa de uma árvore espelha as suas raízes escondidas na terra”.
Tanta Gente Mariana, conto publicado em 1959, está na base da primeira leitura que, tal como as duas seguintes, decorrerá na Sala Bernardo Sassetti, no Jardim de Inverno do São Luiz, onde, num dos janelões, está colocado um desenho com um rosto de mulher, uma instalação de Adriana Molder, artista plástica que “foi convidada para visitar o universo” da escritora de Os Armários Vazios.
A primeira leitura incidirá também sobre algumas crónicas que Maria Judite de Carvalho escreveu para revistas e jornais, acrescentou Cristina Carvalhal. Momentos “informais”, com “pequenas brincadeiras” e pequenos gestos de encenação, acrescenta a atriz e encenadora sobre o ciclo, sublinhando que, na segunda leitura, serão lidos excertos de “várias obras”, incluindo um momento da escrita de Maria Judite de Carvalho “que é assim mais surrealizante ou mais próximo da ficção científica”. “É sempre uma escrita muito marcada pela solidão, por uma voz interior muito triste, como acho que ela era, dizem que ela era”, frisou Cristina Carvalhal.
A terceira leitura será “mais curta”, já que contará com a presença de Inês Fraga, neta da escritora e estudiosa da sua obra, que estará à conversa com o elenco.
Várias atrizes em palco
As três leituras têm diferentes intérpretes, à exceção de Cristina Carvalhal e de Madalena Palmeirim, que se ocupará da música, presentes em todas elas. Na primeira leitura, vão estar as actrizes Cucha Carvalheiro, Maria Rueff e Sofia de Portugal; na segunda, estarão Manuela Couto, Nuno Nunes e Sílvia Filipe; na terceira, Cucha Carvalheiro e o Bruno Huca.
“Pequenas canções, pequenas brincadeiras e pequenos gestos de encenação” marcarão as leituras para as quais Cristina Carvalhal afirmou ter querido levar “um humor muito fino e uma ironia às vezes muito feroz”, característicos da autora de A Janela Fingida. Cada leitura terá uma duração de 50 a 60 minutos.
Cristina Carvalhal afirmou que a ideia é fazer também com que o público “entre no universo” dos autores. No caso de Maria Judite de Carvalho, “o que é mais ou menos conhecido, é que era uma mulher muito discreta, que também pintava e desenhava”. A família defende “que, se não fosse ser casada com Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013), que a incentivou muito a publicar, teria dado a mesma importância à escrita que deu à pintura e ao desenho, já que pintava de forma amadora”.
Autora de contos, novelas, uma peça de teatro e poesia, diz-se também que “Maria Judite de Carvalho andava muito de transportes públicos, porque era uma grande observadora e seria aí que ia colher muita inspiração para a sua obra”.
As leituras deste sábado e de dia 30 realizam-se às 16h00; a de dia 26, às 19h00.
Maria Judite de Carvalho nasceu em 18 de setembro de 1921, em Lisboa, cidade onde morreu, em 18 de janeiro de 1998, aos 76 anos. Vencedora de vários prémios, entre os quais o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, com Palavras Poupadas, em 1961, e, em 1965, com Seta Despedida, a escritora também conquistou o Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora, o Prémio Máxima e o Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários. Com Este Tempo, livro publicado em 1991, venceu o Prémio da Crónica da Associação Portuguesa de Escritores.
Em 10 de Junho de 1992, a escritora foi condecorada pela Presidência da República como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
por Lusa e Público | 24 de outubro de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público