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Baltazar Álvares, «grandíssimo arquitecto e traçador»
A investigação levada a cabo por Ricardo Lucas Branco constitui a primeira retrospectiva da obra do arquitecto, sem dúvida uma figura-chave do panorama artístico português do final de Quinhentos – início de Seiscentos.
Baltazar Álvares foi um dos mais importantes arquitectos portugueses de sempre e um dos grandes da Europa do seu tempo. Entre nós, em termos de impacte produzido, provavelmente só a figura de um João de Castilho atingiu envergadura equiparável. O seu legado permaneceu como valiosa fonte de inspiração até ao século XVIII, acrescentando à história do nosso património monumental edifícios do maior significado. Centrado sobre a história da arquitectura conventual portuguesa entre cerca de 1550 e 1640, mas com enfoque na actividade de Baltazar Álvares, a presente monografia assenta, assim, numa metodologia que privilegiou sempre o confronto das diversas fontes documentais coligidas com a análise morfológica do espólio edificado, permitindo acrescentar aos contributos historiográficos mais recentes novos dados, bem como aspectos de natureza biográfica da vida deste notável arquitecto ainda inéditos.
A investigação levada a cabo por Ricardo Lucas Branco constitui a primeira retrospectiva da obra do arquitecto, sem dúvida uma figura-chave do panorama artístico português do final de Quinhentos – início de Seiscentos. A leitura atenta da biografa de Baltazar Álvares levará o leitor a descobrir o meio em que se movimentava, conduzindo-nos pela tratadística e pelo estado da arte que ele e os seus pares teriam em mãos no momento de aplicar à arquitectura um projecto de poder simbólico, ditado por regras e cânones clássicos. No estudo do auge da modernidade imperial que a Monarquia Católica marcou com a sua monumentalidade, Baltazar Álvares ressurge à luz de uma pesquisa criteriosa que liga as fontes ao que resta dos seus projectos. O autor oferece-nos um olhar inovador sobre quatro exemplares centrais na obra do arquitecto: Santo Antão-o-Novo, São Vicente de Fora, São Bento da Saúde e Nossa Senhora do Desterro; recorrendo não só à comparação com conjuntos arquitectónicos da época, como a propostas de reconstituição de elementos entretanto perdidos no tempo e de novos conceitos para aplicar na interpretação da arquitectura no seu contexto histórico.
O traço com que Baltazar Álvares desenhou, projectou e construiu não foram apagados. A sua grandiosidade, de uma linguagem artística fortemente alicerçada na sua formação clássica e na estética de um verdadeiro italianismo português, matizado pela ideologia da Contra-Reforma, testemunha a expressão de um tempo que, por mais ofuscado que tenha sido, permanece inolvidável na imagem da cidade.
Ricardo Lucas Branco é historiador e investigador do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e um reconhecido especialista em História da Arquitectura do período moderno e em Conservação e Restauro do património artístico e arquitectónico. Trabalha desde 1997 em ambas as áreas, tendo exercido funções na Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e na Câmara Municipal de Lisboa, onde foi co-responsável pelo programa de restauro das Igrejas dos Bairros Históricos na Direcção Municipal de Reabilitação Urbana (2003-2006). Foi coordenador da Licenciatura em Conservação e Restauro e docente do Mestrado em Reabilitação Urbana de Interiores na Escola Superior de Artes Decorativas – Fundação Ricardo do Espírito Santo (2008-2018). Trabalha actualmente como Consultor de Arquitectura em Reabilitação Urbana e Conservação Patrimonial, para diversas entidades públicas e privadas. Historiador especialista em reconstituições de edifícios históricos e património arquitectónico desaparecido – Turismo de Lisboa, Museu do Banco de Portugal (2007-2013) – foi nesta qualidade júri arguente de duas teses de mestrado em Arquitectura na Universidade de Coimbra (2012 e 2014).