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Estremoz ganha centro interpretativo dos bonecos Património da Humanidade

Os famosos Presépios de Altar, o “Amor é Cego”, a “Primavera”, os “Fidalgos e Fidalguinhos” ou o boneco da “Rainha Santa Isabel”, com as suas cores vivas e formas únicas, são exemplo das figuras esculpidas pelas mãos habilidosas de quem trabalha o barro e que podem agora ser apreciadas no novo espaço.

Presépio tradicional. Foto: Rosário Silva/RR Foto: Rosário Silva/RR


Estremoz conta com um Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, localizado no Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, na cidade alentejana.

O novo espaço já estava previsto no âmbito do Plano de Valorização e Salvaguarda da Produção do Figurado em Barro de Estremoz, com vista à candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, classificação, recorde-se, atribuída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em dezembro de 2017.

“O objetivo principal do Centro Interpretativo passa por se colocar o foco no presente e futuro do Boneco de Estremoz, sendo que a exposição foi idealizada para ser dinâmica nos conteúdos e apresentação do figurado”, refere, na nota enviada à Renascença, o município do distrito de Évora.

Um dos grandes objetivos do projeto, passa por “valorizar as pessoas e não apenas a sua produção”, tanto mais que são elas as “grandes protagonistas desta história multisecular e que, pelo seu trabalho, nos permitem ainda hoje desfrutar desta tradição artesanal.”

Além da exposição permanente, com duas centenas e meia de bonecos dos diferentes artesãos certificados em atividade, os visitantes “de modo inovador”, vão também poder “experimentar modelar uma figura ao modo de Estremoz”, revelam os promotores do projeto.

“Desta forma, para além do conhecimento teórico, o visitante terá assim oportunidade de conhecer pela prática a especificidade da tradição que é hoje Património da Humanidade”, acrescentam.

O Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, um investimento de 258 mil euros, conta ainda, no piso térreo, com “uma valência inteiramente dedicada à área educativa, desde sempre a grande aposta do Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho.”

A partir desta segunda-feira, passa também a estar operacional, um laboratório de investigação, conservação e restauro dos Bonecos de Estremoz, criado em conjunto com o Laboratório Hércules da Universidade de Évora.

Até ao final de outubro deste ano, a entrada é gratuita, sendo que o novo espaço estará aberto de terça-feira a domingo.

A história dos Bonecos de Estremoz

As primeiras referências ao figurado de Estremoz surgem nos inícios do século XVIII. Por volta de 1770, conhecem-se as denominadas “boniqueiras”, que mais não são do que mulheres que faziam curiosidades e figuras de barro, numa tarefa que não era reconhecida enquanto ofício.

A atividade terá derivado de uma necessidade espiritual, uma vez que as pessoas queriam tem em casa os santinhos da sua devoção, mas devido às dificuldades do dia-a-dia, era impraticável adquiri-los em talha. Numa terra onde o barro era abundante, não foi difícil às mulheres, habituadas a lidar com ele, modelar as imagens que veneravam.

A partir daqui, e dada a expansão do gosto presepista pela “Escola de Mafra”, passou-se às cenas de natividade. Os presépios eruditos que existiam em conventos e casas abastadas, acabaram por ser adaptados à visão popular das bonequeiras.

Assim, no que diz respeito à Sagrada Família, nasceram, por exemplo, os Reis Magos, os Ofertantes regionais e uma vasta coleção, como o “Pastor a comer”, o “Pastor a dormir”, a “Mulher das Galinhas”, o “Pastor com o cabrito às costas”, entre muitos outros. Contudo, são figuras que “sobrevivem”, nos dias de hoje, fora do Presépio.

Em oitocentos, os homens começam a intrometer-se na arte, segundo relato da barrista Georgina, que confirmou a Sebastião Pessanha, no princípio do séc. XX, ter aprendido a arte por intermédio do seu esposo.

Em 1935, José Maria Sá Lemos, Diretor da Escola Industrial de Estremoz, convenceu a artesã Ti Ana das Peles, que apenas sabia modelar “Assobios”, a ensinar o que sabia da arte e a participar no processo de fazer renascer as figuras que já ninguém modelava desde a década passada.

Os famosos Presépios de Altar, o “Amor é Cego”, a “Primavera”, os “Fidalgos e Fidalguinhos” ou o boneco da “Rainha Santa Isabel”, com as suas cores vivas e formas únicas, são exemplo das figuras esculpidas pelas mãos habilidosas de quem trabalha o barro.

Desde 2014 que a Produção de Figurado em Barro de Estremoz integra o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial e, desde dezembro de 2017, é Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.


por Rosário Silva in Renascença | 9 de agosto de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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