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Guimarães: "Lufada" de música fresca nos jardins do Vila Flor

O ciclo de concertos iniciado em 2020 volta a realizar-se este verão, com três espetáculos em que o regresso à cultura ao ar livre é o destaque.

Duo Bruno Santos & Ricardo Toscano. Foto: A Oficina


Os concertos ao ar livre vão voltar a partir deste mês de junho aos jardins do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), num ciclo promovido pel'A Oficina, que gere e promove um vasto número de espaços culturais na cidade de Guimarães. Os concertos inseridos no ciclo "Lufada" arrancam na sexta-feira, dia 25.

O "Lufada" vai levar os concertos de Ricardo Toscano e Bruno Santos (dia 25 de junho), Bruno Pernadas (2 de julho) e Surma (9 de julho), aos jardins do CCVF; além do ciclo, A Oficina promove um concerto marcado para esta sexta-feira, de Júlio Resende, na 'blackbox' do Centro Internacional das Artes José de Guimarães.

Em entrevista à Renascença, a diretora artística d'A Oficina, Fátima Alçada, afirma que o regresso do "Lufada", depois de uma "ótima receção" ao ciclo de 2020, mantém o mesmo sentimento da primeira edição, que nasceu em tempos de pandemia.


O "Lufada" surgiu no ano passado numa reação muito imediata e muito emocional ao primeiro confinamento e a esta necessidade de voltarmos aos espaços exteriores. Aliás, o nome não é inocente nesse sentido: era quase uma lufada de ar fresco que estávamos todos a precisar bastante, de podermos estar no espaço exterior, a sentirmo-nos em segurança e poder estar em eventos culturais. Achamos que correu muito bem e a ideia foi repetir esta "Lufada", até porque continuamos a precisar de lufadas de ar fresco, com um conceito muito similar, com concertos ao final do dia, ocupando os vários locais dos jardins do Vila Flor e com entrada gratuita", explicou a promotora.

O ciclo de concertos surge numa altura em que a situação pandémica na região de Guimarães está mais estável - o concelho não faz parte nem dos concelhos em fases anteriores de desconfinamento, nem está em risco de ultrapassar a linha vermelha dos 120 casos por 100 mil habitantes a cada 14 dias.

Ainda assim, admite Fátima Alçada, criar o ciclo de concertos numa altura de pandemia é trabalhar "com um tão grande grau de incerteza".

"Nós, na área cultural, estamos muito habituados, infelizmente, a trabalhar com incertezas: de financiamento, de respostas, a incerteza é uma palavra que faz bastante parte do nosso dia-a-dia. Mas os tempos que temos vivido no último ano e meio superam toda esta experiência que já tínhamos", disse a diretora artística.

Para Fátima Alçada, que descreve que "a incerteza de reabrir ou não reabrir, a incerteza dos horários, das lotações, se é permitido ou não ao ar livre", obrigam a um trabalho "em cima de ovos". "Nunca sabemos se vai correr bem ou não, porque as respostas estão sempre a ser alteradas".

Programação passa do palco fechado para o jardim aberto

O ciclo juntará nos espaços exteriores do CCVF três nomes portugueses, com o nome mais reconhecível a ser Surma, artista que tem apresentado o álbum "Antwerpen" pela Europa e participou no Festival da Canção de 2019.

Além da artista de Leiria, vão ser apresentados os projetos de Bruno Pernadas, um nome já conhecido no mundo do jazz português, e o duo de Bruno Santos e Ricardo Toscano. Bruno Pernadas vai a Guimarães apresentar o novo álbum de 2021, "Private Reasons"; já as sessões nos quintais lisboetas de Bruno e Ricardo vão saltar para o palco, assim como as músicas até agora ouvidas apenas em vídeos.

A diretora artística d'A Oficina refere que "a lógica de programação para este "Lufada" tem a ver muito com esta ideia do que poderíamos apresentar num contexto de espaço público reservado, porque é um jardim, com muitos recantos".

Portanto, os projetos escolhidos pela programação acabaram por se manter, mesmo com incertezas quanto à localização, com Fátima Alçada a explicar que "a ideia norteadora para esta programação foi muito apresentar projetos que nós apresentaríamos num contexto de auditório, mas passá-los para um ambiente controlado e em espaço público, e que nós achamos que se adapta a estes formatos específicos aos nossos jardins."

Gratuitidade em tempo de crise é exceção a pensar no público

Todos os concertos agendados terão uma entrada gratuita, mas é necessário bilhete para controlar a lotação que ficará entre os 130 e os 150 lugares.

A gratuitidade dos concertos numa altura de gravíssima crise na cultura é, salienta Fátima Alçada, uma situação excecional e a pensar na frágil situação financeira que atravessam muitos portugueses.

"Este é um caso muito particular. Este ano, estamos a assumir uma continuidade de gratuitidade porque vem num contexto muito particular de pandemia e percebemos que as pessoas, e felizmente não são todas, também estão num contexto de fragilidade económica muito grande. E foi a pensar nisso que extraordinariamente nós temos o "Lufada" de acesso gratuito. É mesmo a pensar exclusivamente nisto", vinca.

Para a diretora artística, a cultura deve ser paga; ciclos de concertos completamente gratuitos, defende, não são benéficos "para ninguém, porque isso de alguma forma acaba por desvalorizar um trabalho imenso e intenso, seja de artistas, de técnicos, de produtores, como se todos trabalhássemos gratuitamente, o que não acontece".

O primeiro concerto do ciclo de concertos do "Lufada" será então no dia 25 e os bilhetes podem ser levantados uma hora antes do concerto, nas imediações do Vila Flor. Todos os concertos estão agendados para as 19h30.


por Hélio Carvalho in Renascença | 22 de junho de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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