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Milan Knížák em Dicionário de Artistas
À quarta-feira, o Centro Cultural de Belém disponibiliza nas suas plataformas digitais um texto inédito de Gonçalo M. Tavares sobre artistas contemporâneos, com leitura de Ana Zanatti.
Para ler em www.ccb.pt e ouvir no spotify do CCB.
(#31) Dicionário de Artistas
O Verbo, dedicado a Milan Knížák
Por Gonçalo M. Tavares
Biologia é tudo: até o pensamento – certos raciocínios que juraríamos abstractos, isto é: invisíveis e sem centro – até esses raciocínios são biologia: coisa física que muda.
Quando deitados sobre a terra (e nus) os corpos ganham uma imprecisão universal que os afasta da boa organização das cidades e os arrasta para uma massa única, ecológica e má. Estar deitado nu sobre a terra é desaparecer enquanto humano, é conspirar contra certas fórmulas que a ciência da física e da sociologia da amizade construíram, durante séculos. Ser humano, e muito, não é partilhar gastronomias e projectos com outros sujeitos, mas sim possuir uma bondade, ou maldade, mais raciocinada; uma maldade, falemos dela, que pode resultar de cálculos numéricos ou de excelentes fórmulas verbais repetidas em voz alta pelas multidões excitadas ou por um indivíduo isolado.
Digamos que, em relação às outras espécies orgânicas, o humano tem mais argumentos para justificar a sua maldade. Por exemplo, este argumento antigo e sempre actual: fui mau para vos salvar. Qual o outro elemento da natureza capaz de ser tão arguto verbalmente? Não há.