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"Nomadland" é o vencedor da noite dos Óscares
A 93.ª cerimónia dos Óscares decorreu entre a estação de comboios Union Station, na baixa de Los Angeles, e o Dolby Theatre, em Hollywood, com restrições devido à pandemia de covid-19.
O filme "Nomadland - Sobreviver na América" foi o vencedor da 93.ª edição dos prémios da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas, dos EUA, tendo conquistado na noite de domingo os Óscares de Melhor Filme, Melhor Realização e de Melhor Atriz, Frances McDormand.
Dirigido por Chloé Zhao, teve como produtores Frances McDormand, Peter Spears, Mollye Asher, Dan Janvey e a própria Chloé Zhao. Para o Óscar de Melhor Filme estavam ainda nomeados "Mank", "Uma miúda com potencial", "O Pai", "Judas and the Black Messiah", "Minari", "Sound of Metal" e "Os 7 de Chicago".
Nas contas para esta edição, o filme "Mank", de David Fincher, somou dez nomeações, enquanto "Nomadland - Sobreviver na América", de Chloé Zhao, foi indicado para sete estatuetas, entre as quais a de Melhor Realização, conquistado pela cineasta.
A realizadora chinesa Chloé Zhao, primeira mulher asiática a vencer o Óscar de Melhor Realização e a segunda mulher a conquistá-lo, depois de Kathryn Bigelow, em 2020, com "Estado de Guerra", disse que "é fabuloso ser uma mulher em 2021", no rescaldo da vitória.
"Sou extremamente afortunada por poder fazer o que gosto", afirmou Chloé Zhao, nos bastidores da cerimónia de entrega dos Óscares, que decorreu esta madrugada em Los Angeles. "Se esta vitória ajudar mais pessoas como eu a viverem os seus sonhos, sou muito agradecida por isto", afirmou.
"Um dos momentos mais felizes para mim esta noite foi quando a Frances ganhou", contou Chloé Zhao aos jornalistas. "As pessoas podem não saber tudo o que ela fez, como produtora e como atriz, quão aberta e vulnerável foi e quanto me ajudou a fazer este filme", afirmou. "E como ajudou os nómadas a sentirem-se confortáveis nas gravações. Ela é 'Nomadland'".
O filme conta a história de uma mulher (Fern, interpretada por McDormand) que viaja pela América como nómada, vivendo numa caravana, trabalhando em empregos temporários e sobrevivendo na estrada, na sequência da crise económica de 2008.
A história baseia-se num livro de não ficção e o filme, que contou com nómadas da vida real, provocou uma alteração de perspetivas para a própria Chloé Zhao.
"Há muitas coisas que mudaram para mim. Penso que preciso de menos coisas para viver, sem dúvida", afirmou. "Podia ter apenas algumas coisas".
A realizadora, questionada várias vezes sobre a importância de ser a primeira asiática a vencer este Óscar e apenas a segunda mulher, depois de Kathryn Bigelow, não quis encaixar-se num formato específico.
"Para os realizadores asiáticos, para todos os realizadores, temos de ser fiéis a quem somos e contar as histórias a que nos sentimos ligados", disse. "Não devemos sentir que só há um certo tipo de histórias que temos para contar".
Zhao também fez menção à confiança que lhe foi incutida desde criança e que lhe permitiu sonhar alto.
"Tive a sorte de ter pais que sempre me disseram que quem eu sou é suficiente, e eu sou a minha arte", disse. "Tento sempre manter-me fiel a mim mesma e rodear-me de pessoas talentosas e que me apoiam".
O produtor Peter Spears, que partilhou o Óscar de Melhor Filme com Zhao, Frances McDormand, Mollye Asher e Dan Janvey, falou de como a pandemia alterou o curso deste projeto.
"A possibilidade de terminar este filme no meio da pandemia e depois estreá-lo na pandemia foi um esforço hercúleo e algo que nunca pensámos que íamos ter de fazer", afirmou Spears nas entrevistas de bastidores.
"Nesse processo, parece que o momento era o certo e a história que contámos tocou as pessoas - uma história sobre comunidade e a nossa humanidade partilhada", considerou. "Teve um significado mais profundo do que se tivesse saído antes".
Frances McDormand conquista o terceiro Óscar da carreira
Chloé Zhao levou a estatueta de Melhor Realização superando David Fincher por "Mank", Lee Isaac Chung por "Minari", Emerald Fennell por "Uma miúda com potencial", e Thomas Vinterberg por "Mais uma rodada".
Pelo desempenho em "Nomadlan", Frances McDormand conquistou o Óscar de Melhor Atriz.
Este é o terceiro Óscar conseguido pela atriz, em três nomeações para melhor atriz, depois de "Fargo" (1996) e "Três Cartazes à Beira da Estrada" (2018).
Ao longo da carreira, McDormand teve igualmente três nomeações para melhor atriz secundária, em "Terra Fria" (2005), "Quase Famosos" (2000) e "Mississippi em Chamas" (1988).
Para o Óscar de Melhor Atriz estavam nomeadas Carey Mulligan ("Uma miúda com potencial"), Frances McDormand ("Nomadland"), Viola Davis ("Ma Rainey: A mãe dos blues"), Vanessa Kirby ("Pieces of a Woman") e Andra Day ("The United States vs. Billie Holiday").
O Óscar de Melhor Ator foi atribuído a Anthony Hopkins pelo desempenho em "O Pai", de Florian Zeller.
Na representação masculina estavam indicados Chadwick Boseman (a título póstumo por "Ma Rainey: A mãe dos blues"), Riz Ahmed ("Sound of Metal"), Gary Oldman ("Mank") e Steven Yeun ("Minari"), além do protagonista de "O Pai".
O britânico Anthony Hopkins, que não esteve presente na cerimónia, conquistou o segundo Óscar de Melhor Ator, 30 anos após a sua distinção pelo papel em "O Silêncio dos Inocentes", de Jonathan Demme.
O desempenho no filme de Florian Zeller já tinha garantido a Hopkins a distinção dos BAFTA, os prémios da academia britânica de cinema e televisão.
Glenn Close perde para a atriz Yuh-Jung Youn
A primeira atriz coreana a receber um Óscar de Melhor Atriz Secundária, Yuh-Jung Youn, disse nos bastidores da cerimónia que não acredita em competição, depois de ter batido Glenn Close e Olivia Colman na categoria de representação.
"Não acredito em competição, especialmente na nossa indústria", disse a atriz de 73 anos, que foi distinguida pelo papel de Soonja no filme "Minari". "Estamos a comparar diferentes filmes e diferentes papéis", afirmou.
A vitória de Yuh-Jung Youn significou que Glenn Close, que estava nomeada na mesma categoria pelo papel de Mamaw em "Hillbilly Elegy", voltou a não ser galardoada. Foi a oitava vez que Close foi nomeada para um Óscar sem nunca vencer.
Yuh-Jung Youn disse que teve "sorte" esta noite. Com uma extensa carreira na Coreia do Sul, este foi o primeiro filme americano em que a atriz participou, o que tornou a vitória ainda mais relevante.
"Tive uma longa carreira e tentei construí-la passo a passo. Não acredito nisso do sucesso da noite para o dia", afirmou.
A estatueta foi entregue por Brad Pitt, que, apesar de ser um dos produtores executivos de "Minari", não conhecia Yuh-Jung Youn pessoalmente.
"Sr. Brad Pitt, finalmente, é um prazer conhecê-lo", disse a atriz quando foi ao palco receber o Óscar.
Nos bastidores, Yuh-Jung Youn elogiou Brad Pitt por ter pronunciado o seu nome corretamente e disse que foi um momento único, por ele ser uma superestrela que admirou desde sempre.
"Ainda não estou em mim", partilhou a atriz. "Não me façam muitas perguntas", gracejou.
Mas Yuh-Jung Youn também aproveitou o momento para dar a sua opinião sobre o contexto de vitórias históricas que esta noite representou.
"É muito bom bom entender-nos uns aos outros. Devemos abraçar-nos uns aos outros", afirmou a atriz, lamentando a categorização das pessoas - e dos vencedores - por cores.
"Não é bonito dividir as pessoas assim", considerou. "Se juntarmos todas as cores, isto fica mais bonito. Até o arco-íris tem sete cores, e eu não gosto de dividir".
Muitas questões enfatizaram o facto de esta ser uma noite histórica de várias formas - a primeira vez que uma atriz coreana venceu um Óscar de representação, a primeira mulher não branca a vencer Melhor Realização (Chloé Zhao), as primeiras afro-americanas a vencer o Óscar de Melhor Caracterização (Mia Neal e Jamika Wilson).
"Somos todos seres humanos iguais, temos o mesmo coração quente", disse Yuh-Jung Youn. "É uma oportunidade de partilharmos as nossas histórias".
Este foi o único Óscar para "Minari", realizado por Lee Isaac Chung, que chegou aos prémios desta madrugada com seis nomeações, incluindo Melhor Filme.
Daniel Kaluuya conquistou o Óscar de Melhor Ator Secundário, pelo desempenho em "Judas and the Black Messiah", do líder dos Blanck Panther Fred Hampton.
Sacha Baron Cohen, pelo desempenho em "Os 7 de Chicago", Leslie Odom, Jr., por "One Night in Miami...", Paul Raci, por "Sound of Metal", e Lakeith Stanfield, também por "Judas and the Black Messiah", eram os outros quatro candidatos.
A cerimónia da 93.ª edição dos Óscares, adiada de fevereiro para abril, por causa da pandemia, decorre no tradicional Dolby Theatre, com audiência, e no edifício da estação de comboios Union Station, em Los Angeles.
Lista completa dos vencedores da 93.ª edição dos Óscares, os prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos:
Melhor filme:
"Nomadland - Sobreviver na América"
Melhor Realização:
Chloé Zhao - "Nomadland - Sobreviver na América"
Melhor ator:
Anthony Hopkins - "O Pai"
Melhor ator secundário:
Daniel Kaluuya - "Judas and the Black Messiah"
Melhor atriz:
Frances McDormand - "Nomadland: Sobreviver na América"
Melhor atriz secundária:
Yuh-Jung Youn - "Minari"
Melhor argumento adaptado:
"O Pai"
Melhor argumento original:
"Promising Young Woman - Uma miúda com potencial"
Melhor filme internacional:
"Another Round" - Dinamarca
Melhor filme de animação:
"Soul - Uma aventura com alma"
Melhor curta-metragem de animação:
"If Anything Happens I Love You"
Melhor documentário:
"My Octopus Teacher"
Melhor documentário em curta-metragem:
"Colette"
Melhor curta-metragem:
"Two Distant Strangers"
Melhor cenografia:
"Mank"
Melhor direção de arte:
"Mank"
Melhor montagem:
"Sound of Metal"
Melhor caracterização:
"Ma Rainey: A mãe dos blues"
Melhor guarda-roupa:
"Ma Rainey: A mãe dos blues"
Melhor banda sonora original:
"Soul - Uma aventura com alma", Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste
Melhor canção:
"Fight For You" - "Judas and the Black Messiah"
Melhor montagem de som:
"Sound of Metal"
Melhores efeitos visuais:
"Tenet"
por Lusa e Diário de Notícias | 26 de abril de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias