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A maior antologia de poesia de Angola está na rua para contar a história do país

Entre a Lua, o Caos e o Silêncio: a Flor é o título desta obra organizada por Irene Guerra Marques e Carlos Ferreira e que é “a mais abrangente, plural e livre antologia angolana já publicada”, segundo a editora Guerra e Paz.

A antologia recua ao século XVII e estende-se até autores do presente, como Ondjaki_Kaio Elias


A maior antologia de poesia angolana saiu para a rua e pela primeira vez está à venda em Portugal, reunindo o pensamento de poetas que desde o século XVII são o espelho criativo dos vários aspetos sociológicos de Angola. Entre a Lua, o Caos e o Silêncio: a Flor é o título desta obra organizada por Irene Guerra Marques e Carlos Ferreira e que é “a mais abrangente, plural e livre antologia angolana já publicada”, segundo a editora que a publica (Guerra e Paz).

A obra, que reúne nomes como Agualusa, Manuel Rui, Ana Paula Tavares, Lopito Feijóo, Amélia Dalomba ou Ondjaki, vai para as bancas na terça-feira, depois de uma edição não tão completa ter sido publicada em Angola, em 2011.

O poeta Carlos Ferreira, um dos organizadores da obra, sublinha a riqueza dos dados recolhidos para esta edição, que atravessam os “primórdios da literatura angolana” e terminam na última geração de poetas, hoje com 20, 30 anos. “A poesia angolana, como a de qualquer outro país, tem muito a ver com a realidade passada, presente e futura”, disse o escritor à agência Lusa, acrescentando que esta “acompanhou a evolução de todo o processo político e é um espelho criativo dos vários aspetos sociológicos de Angola”.

Para Carlos Ferreira, conhecido por Cassé, há nesta obra um aspeto comum que se identifica ao longo dos séculos visados: “O sentido de profunda angolanidade, sem chauvinismos, integrado no concerto do africano e do universal”.

“A poesia angolana nunca teve características chauvinistas. É uma literatura extremamente patriótica, com profundo sentido de terra, mas ao mesmo tempo aberto às influências de África e do mundo inteiro”, prosseguiu.

As 700 páginas do livro estão divididas em três partes: Formas de arte verbal ou oratura, os precursores (séculos XVII a XIX) e modernidade e contemporaneidade (séculos XX e XXI). Carlos Ferreira considera que em toda a obra se identifica “a crença de que de alguma forma Angola há-de dar a volta aos problemas que vive”.

“Há uma reafirmação muito grande de autonomia literária, da independência dos autores e da sua absoluta liberdade de expressão”, frisou. O autor identifica diferenças com os anos 80 (do século XX), quando em Angola era comum ver qualquer popular com um livro debaixo dos braços.

“Os livros encareceram lá, como em todo o lado, há um acesso mais complicado aos livros, até pelo fraco poder económico das pessoas, mas continua a haver um interesse muito grande e depois temos a compensação, que nem sempre é positiva, de poder fazer a divulgação por PDF, por email, pela net, por essas vias mais contemporâneas”, disse.

Carlos Ferreira acredita que o leitor, ao ler os autores desta antologia, poderão conhecer muito melhor Angola e a evolução do seu processo histórico. "[Dá] um retrato de Angola, que não é o mediático, do dia a dia, que sai no telejornal, de muitas notícias (e algumas fundamentadas) que apresentam a situação crítica que nós vivemos, mas uma outra perspetiva do país, de como o angolano pensa, do que o angolano sente e de como o angolano vive”, comentou.

Além de Carlos Ferreira, participou na organização desta antologia a investigadora Irene Guerra Marques, autora da primeira antologia de literatura angolana (Poesia de Angola), em 1976, e de vários livros e trabalhos nas áreas da linguística e da investigação literária.

O escritor angolano Boaventura Cardoso sublinha nesta obra a “abrangência metodológica séria e notável, a par de uma rigorosa sistematização de dados que suscitam outras leituras socio-históricas”. E acrescenta: “Esta antologia poética vem, certamente, preencher uma lacuna nos estudos literários de Angola”. Na capa deste livro, com as três faces do miolo pintadas à mão, consta uma ilustração do mestre José Rodrigues, autor dos vários desenhos no interior.


por Lusa in Público | 11 de abril de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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