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Robert Gobert em Dicionário de Artistas
Todas as quartas-feiras, o Centro Cultural de Belém disponibiliza um texto inédito de Gonçalo M. Tavares sobre artistas contemporâneos, com leitura de Ana Zanatti.
Dicionário de Artistas (#21)
Para ler em www.ccb.pt e ouvir no spotify do CCB.
Um vestido de noiva é no mundo das coisas materiais a operação inversa das ruínas de uma casa, tal como a sensação de projectar algo para o futuro é oposta à sensação de que tudo já terminou. O vestido de noiva é uma causa, um acontecimento que inaugura; as ruínas são um efeito, se fossem linguagem seriam o ponto final que quase encerra o livro.
Os séculos surgem rodeados por um muro; cada século tenta produzir acontecimentos que tornem incompatíveis os cruzamentos de um tempo com o tempo seguinte. Porém, há sempre uma perna que passa de um século para o outro, como se fosse um resto que, desprezado pelo século anterior, ganha, escondido, forças não imagináveis.
Vejamos, é como se existisse um ralo entre dois séculos, e aquilo que parece desaparecer num determinado tempo, surgisse mais tarde, noutro lado, com diferente intensidade. Aquilo a que chamavas água suja é conhecida agora como água sagrada.