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Três artistas apresentam obras sobre pandemia e direitos no Museu do Chiado
Exposição "Face à Vida Nua" reúne trabalhos de fotografia e cinema de Luciana Fina, João Pina e Vasco Barata. Abordam o actual momento disruptivo “de medo, insegurança e desigualdade” enfrentado pela Humanidade.
Uma exposição com obras de três artistas sobre contágio e direitos humanos, inspiradas no impacto da pandemia de covid-19, vai abrir ao público na quarta-feira, no Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), no Chiado, em Lisboa.
Face à Vida Nua é o título desta mostra, com curadoria de Emília Tavares, que aborda o actual momento disruptivo “de medo, insegurança e desigualdade” enfrentado pela Humanidade, segundo informação do sítio online do MNAC.
Na exposição, Luciana Fina apresenta um filme realizado no primeiro surto pandémico deste ano, em que se confronta com a devastação da paisagem natural por especulação imobiliária, “quando a pandemia parecia trazer uma nova esperança de repensar a sistémica agressão aos ecossistemas”, segundo um texto do museu.
Por seu turno, João Pina fotografou, no Brasil, os habitantes de um dos mais emblemáticos edifícios modernistas de São Paulo, o Copan, construído em 1966, desenhado pelo arquitecto Óscar Niemeyer, que alberga cerca de 5.000 inquilinos. “Nestes microcosmos da sociedade brasileira, revela-se uma complexidade social e económica endémica, mas também o mesmo desejo global de reinventar a existência”, refere a curadoria da mostra sobre esta obra.
O artista Vasco Barata dedicou-se nos meses da pandemia à prática do desenho, dentro do seu espaço de trabalho, e, neste processo criativo, divagou sobre “as formas híbridas que simbolicamente nos habitam hoje, orgânicas, mutantes, erráticas”, descreve a curadoria. “Os trabalhos aqui apresentados são assim um exercício de comunidade, um acto de respirar em comum, face à ‘Vida Nua’, conceito formulado por Giorgio Agamben, um dos mais polémicos filósofos da actualidade”, acrescenta.
Este conceito remete para a apropriação política da vida de cada pessoa face ao estado de excepção, em que “muitos dos direitos adquiridos, pelo menos em democracia, são suspensos e existe uma captura do corpo pelo exercício do poder”. “É um território indistinto, em que o corpo biológico e o político se fundem e em que acontece a apropriação política da vida quotidiana de cada um. Mecanismo que pode, e tem sido exercido, tanto em regimes ditatoriais como em democracias”, acrescenta.
Remetendo ainda para o campo da filosofia, a curadoria alerta: “O seu perigo, a sua intrínseca violência, como afirmava outro importante filósofo, Walter Benjamin, em plena ascensão desse outro estado de excepção que foi o nazismo, é que nestes estados de excepção, de que a pandemia é agora a causa, a existência fica fora do Direito, tornando-se uma vida exposta, destituída, ou limitada, de direitos pelo próprio direito”.
por Lusa in Público | 6 de dezembro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público