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Livros, exposições e cinema assinalam centenário de Cruzeiro Seixas
Um dos mais importantes protagonistas do movimento surrealista em Portugal, o poeta e artista morreu a 8 de novembro, a menos de um mês de completar cem anos.
A chegada às livrarias do segundo volume da Obra Poética, o lançamento de uma edição fac-similada de Eu Falo em Chamas, novas exposições e a exibição do filme Cartas do Rei Artur assinalam esta quinta-feira o centenário do nascimento de Cruzeiro Seixas. O último dos surrealistas portugueses, que morreu a 8 de novembro, em Lisboa, deixou um vasto trabalho nas artes plásticas e visuais, e foi também um poeta prolífico.
Assinalando a efeméride que o artista não chegou a festejar, a Porto Editora fará chegar às livrarias o segundo volume da sua Obra Poética, que Isabel Meyrelles, organizou para a coleção Elogio da Sombra, dirigida pelo escritor Valter Hugo Mãe. O primeiro volume desta antologia fora já lançado em junho.
Num texto citado pela editora, Valter Hugo Mãe aponta que na “vasta obra” poética de Cruzeiro Seixas “se encontra um surrealismo pleno, a relação mais indomável que ao espírito humano revela, sobretudo, o que tem de inexplicável e, ainda assim, profundamente necessário”.
“A elogio da sombra repõe agora os volumes organizados por Isabel Meyrelles e que, atónito, há umas décadas, encontrei inéditos na casa do mestre, ainda na carismática casa da Rua da Rosa [em Lisboa]. Mais adiante, daremos à estampa um quarto volume recolhendo os poemas dispersos”, adianta Valter Hugo Mãe.
Por seu turno, a Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, detentora do original da obra Eu Falo em Chamas, publicada em 1986, vai assinalar a data com o lançamento de uma edição fac-similada daquele objeto (que o Público também está a distribuir). Ao longo do dia, dará ainda a ouvir a poesia de Cruzeiro Seixas nas suas redes sociais.
Contactado pela agência Lusa, o ensaísta espanhol Perfecto E. Cuadrado, coordenador do Centro Português do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda, comenta que nesta obra a poesia de Cruzeiro Seixas surge “maravilhosamente ilustrada com os seus desenhos”.
“Não podemos festejar os seus cem anos com a presença dele, mas, mesmo assim, vamos assinalar a data lançando a edição fac-similada desta magnífica obra reveladora da sua paixão pelo simbolismo e pelo pensamento mágico”, apontou o especialista.
De acordo com Cuadrado, o centro que dirige vai organizar, em 2021, duas exposições dedicadas à obra de Cruzeiro Seixas que deverão ter lugar em Lisboa e em Paris, no quadro do projecto de internacionalização do trabalho daquele artista e do surrealismo português.
Em 1999, Cruzeiro Seixas doou o seu acervo artístico à Fundação Cupertino de Miranda, que tem vindo a salvaguardar, exibir e publicar a obra deste nome fundamental do surrealismo em Portugal, autor de um vasto trabalho no campo do desenho e pintura, mas também na poesia e na escultura.
Dando continuidade ao ciclo de celebrações do centenário do nascimento do artista, também a Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA) inaugura na quinta-feira o núcleo Cadavres Exquis da exposição Cruzeiro Seixas – Fazedor Nada Perfeito, com curadoria de Carlos Cabral Nunes.
Esta exposição contará com um conjunto de 60 obras realizadas por Cruzeiro Seixas, em parceria com outros artistas portugueses e estrangeiros, como Alberto Trindade, Alfredo Luz, Fernando José Francisco, Liudvika Koort, Mário Cesariny, Valter Hugo Mãe, Mário Botas e Sophia Zhong, entre outros.
A exposição reúne um conjunto de esculturas, desenhos, jóias, colagens, serigrafias e livros-objeto de Cruzeiro Seixas e estará aberta até dia 30 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 12h às 19h.
Iniciado a 19 de setembro, o ciclo de celebrações dos 100 anos de Cruzeiro Seixas passará igualmente pelo espaço expositivo da Associação Mutualista Montepio (Atmosfera m), com a inauguração da exposição Construir Cem Nadas Perfeitos, numa produção da Perve Galeria.
Também na quinta-feira, pelas 17h30, a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema exibirá o filme Cruzeiro Seixas – As Cartas do Rei Artur, da realizadora Cláudia Rita Oliveira, com produção de Miguel Gonçalves Mendes. Na presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca, serão então apresentadas as próximas iniciativas do programa de comemorações do centenário do artista, que decorrerá até 3 de dezembro do próximo ano.
A vida e a obra de Cruzeiro Seixas serão também evocadas numa iniciativa da Universidade de Évora, Teatro das Imagens – Cruzeiro Seixas, a Poética do Engano. As atividades vão ter lugar a partir das 15h30, junto da Biblioteca Geral, no Colégio do Espírito Santo, com a instalação de duas obras do artista João Francisco Vilhena.
Em outubro, Cruzeiro Seixas tinha sido distinguido por Graça Fonseca com a Medalha de Mérito Cultural, pelo seu contributo para a cultura portuguesa.
por Lusa e Público | 2 de dezembro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público