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Antiga escola primária dá lugar a Centro Interpretativo do Barco Rabelo
A velha escola da Rede transformou-se numa homenagem ao barco rabelo e aos homens do rio Douro. O espaço abre as portas aos visitantes na quarta-feira e a entrada é gratuita.
Há 12 anos deixou de ter alunos e, por isso, encerrou. Podia ser o fim de uma estrutura por onde passaram, ao longo de mais de 50 anos, muitos dos habitantes da localidade e onde aprenderam a ler e a escrever. Mas não. A antiga escola primária da Rede, em Mesão Frio, acaba de ganhar vida nova. Foi transformada em um Centro Interpretativo do Barco Rabelo. Um projeto da autarquia que manteve toda a estrutura original da escola, localizada junto à Estrada Nacional (EN) 108.
A escola primária foi dividida em quatro espaços que, segundo o presidente da autarquia, Alberto Pereira, querem prestar “homenagem às embarcações que antigamente transportavam o vinho da região do Douro para o Porto e aos homens do concelho que cruzavam o rio”.
Assim, ao chegar ao centro interpretativo o visitante vai encontrar logo na receção produtos da região, desde o vinho, artesanato e biscoitos tradicionais.
Depois, nas antigas salas de aula, masculina e feminina, que foram unidas, está “o espaço da exposição do que é o centro interpretativo”, conta o presidente da autarquia, Alberto Pereira.
O centro interpretativo fica completo com um pequeno auditório para projeção de filmes dedicados ao barco rabelo e ao Douro e instalações sanitárias.
“Nós, aqui, tentamos traduzir a história de um povo, a história dos nossos habitantes, de barqueiros, arrais e marinheiros, aqueles grandes homens que outrora fizeram o transporte deste líquido generoso da nossa região, desde o Alto Douro até Vila Nova de Gaia”, explica o autarca, acrescentando que quiseram “reproduzir como se construíam esses barcos rabelos, as partes que o constituem e os utensílios que os marinheiros usavam a bordo das suas viagens”.
Por isso, no espaço principal do centro interpretativo pode ver-se um rabelo desenhado na parede, com a descrição dos elementos que caracterizavam esta embarcação.
Já no centro da sala foram recriadas algumas das partes que constituem o barco, como a vela, a espadela (remo longo à popa) ou a sirga, um mecanismo de corda através da qual a embarcação era puxada por homens ou juntas de bois nos sítios de pouco vento ou caudal curto.
Há também pipas de vinho do Porto, utensílios usados pelos marinheiros a bordo, como a buzina que servia para anunciar a chegada do barco e chamar os homens ou os boieiros (que tinham as juntas de bois), uma imagem da Senhora da Boa Viagem, fotografias e réplicas de um rabelo e de uma barca.
O espaço presta também homenagem às barcas de passagem que, “em quatro pontos do concelho, Porto de Rei, Barqueiros, Rede e Granjão, faziam o transporte de pessoas, bens e animais entre as margens do rio”, conta o presidente da autarquia, lembrando que “o Douro tinha pouquíssimas pontes e as pessoas passavam de uma margem para a outra através dessas barcas”.
O Centro Interpretativo do Barco Rabelo representa um investimento de cerca de 250 mil euros e contou com financiamento do programa Provere – Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos.
O espaço abre as portas aos visitantes a partir desta quarta-feira, 02 de dezembro, e a entrada é gratuita.
Os rabelos do Douro
O rabelo, que agora se homenageia no concelho de Mesão Frio, era o tipo de barco apropriado para navegar em águas pouco profundas, com excelente desempenho nas zonas de fortes rápidos. As características de construção da embarcação reportam-nos para a época dos Vikings, derivando o nome rabelo da configuração do barco, com a sua imensa espadela, em forma de rabo.
A embarcação era um barco de rio de montanha, com fundo chato, tendo como leme uma peça comprida e grossa em forma de pá ou remo, quase do seu tamanho, a que se dava o nome de espadela.
Na saga dos rabelos, merecem destaque pela coragem e determinação com que se entregaram ao rio Douro, o arrais - mestre ou proprietário da embarcação, os mareantes - marinheiros, e os barqueiros - que andavam nas barcas.
Na sua era de glória, nos séculos XVIII e XIX, chegou a haver 2. 500 rabelos a cruzar o Douro. Só a localidade de Barqueiros, em Mesão Frio, segundo documentação histórica, contava, em 1796, com 54 arrais e 293 marinheiros.
Os rabelos desciam o rio carregados de vinho e, no regresso, traziam bens que não eram produzidos na região, como sal ou peixe.
A última navegação comercial de rabelos terá acontecido em 1964, embora haja quem afirme que terá sido em 1965.
Atualmente, os barcos rabelos são utilizados pelos turistas para passeios no rio Douro.
por Olímpia Mairos in Renascença | 1 de dezembro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença