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Lobo Antunes e Câmara de Lisboa decidem destino da biblioteca do escritor
Se houver acordo, o acervo do escritor será instalado numa nova biblioteca municipal em Benfica.
Um dos desejos de António Lobo Antunes é que a biblioteca possa funcionar como um espaço que permita a investigadores nacionais e estrangeiros o estudo da sua obra.
António Lobo Antunes está a negociar com a Câmara Municipal de Lisboa o futuro da sua biblioteca e arquivo literário. O resultado poderá vir a ser a inauguração de uma biblioteca com o nome do escritor português em Benfica, onde Lobo Antunes nasceu há 78 anos.
“Estamos em conversações para que o acervo do escritor vá para a biblioteca municipal de Benfica, um novo equipamento que vai integrar a rede de bibliotecas de Lisboa”, explicou ao PÚBLICO Catarina Vaz Pinto, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa (CML). “Estamos nos primórdios disto tudo e o acordo ainda não está assinado”, sublinha a vereadora, afastando a possibilidade de estar em cima da mesa a criação de um museu dedicado àquele que é considerado o mais influente escritor português vivo, como esta semana escreveu o jornal espanhol ABC.
A notícia do “museu Lobo Antunes” em Benfica foi avançada em Agosto pela revista Sábado, que revelava que o novo espaço cultural com valências de biblioteca ia ocupar parte de “um condomínio de luxo” que está a ser erguido pela construtora Teixeira Duarte. O complexo residencial, explica o site da empresa, situa-se na Avenida Gomes Pereira e integra as antigas instalações da Fábrica Simões, num projeto de reabilitação e ampliação do edifício com mais de 32.000 metros quadrados assinado pelo atelier Broadway Malyan.
O espaço que a biblioteca municipal vai ocupar no empreendimento imobiliário Fábrica 1921, provavelmente 2000 quadrados, resulta das contrapartidas oferecidas pela Teixeira Duarte para a aprovação do loteamento urbano que estão previstas na lei. “Neste momento está em curso uma avaliação inicial da dimensão do acervo”, afirma a vereadora, um trabalho que passa por conhecer os metros lineares que livros, papéis e outros objetos possam ocupar para decidir as várias funcionalidades que a biblioteca possa vir a ter.
A ideia, ou intenção geral, é conseguir guardar no mesmo espaço as dezenas de milhares de títulos da sua biblioteca pessoal, todos os romances do escritor nas várias traduções, os manuscritos originais e ainda alguns objetos que possam fazer sentido exibir num pequeno núcleo expositivo. A essa biblioteca pessoal de obras suas traduzidas acabam de juntar-se dois novos títulos, as primeiras traduções de Lobo Antunes na China: As Naus e O Manual dos Inquisidores. O programa do equipamento irá depender da inventariação dos títulos da biblioteca pessoal de António Lobo Antunes.
Ser ou não ser uma doação
Um dos desejos do escritor é que a biblioteca possa funcionar como um espaço que, através da atribuição de bolsas ou acesso a alojamento, permita a investigadores nacionais e estrangeiros o estudo da sua obra.
As reuniões entre o escritor e a CML ganharam um novo fôlego quando se celebraram os 40 anos de carreira do autor e da publicação em 1979 de Memória de Elefante, o primeiro romance do escritor, concretizam uma intenção antiga. Antes, esteve em cima da mesa a possibilidade de criação de uma biblioteca dedicada a António Lobo Antunes na cidade de Viseu, próxima do local das férias de infância da família, Nelas, onde já há uma biblioteca municipal com o nome do escritor.
Lisboa aparecia, no entanto, como o local mais natural, e ainda com António Costa na presidência da autarquia lisboeta iniciou-se uma conversa entre as duas partes que aponta agora para a localização do espaço em Benfica, o bairro onde Lobo Antunes nasceu a 1 de Setembro de 1942, e onde viveu a sua juventude. O escritor tem transportado para a sua obra as transformações urbanísticas, sociais e humanas de Benfica, que se consolidou como uma espécie de microcosmos dentro do seu universo literário onde se contam 32 romances ecinco livros de crónicas.
Entre os aspetos ainda a decidir e que poderão fazer acelerar ou não o processo, estão o facto de poder ser uma doação, bem como as contrapartidas que a autarquia possa encontrar. É pouco provável que haja novidades antes da próxima legislatura, uma vez que as eleições autárquicas estão previstas para o final do próximo ano.
por Isabel Salema e Isabel Lucas in Público | 13 de novembro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público