"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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Gonçalo Ribeiro Telles (1922-2020)

Morreu o arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, figura incontornável da arquitetura em Portugal bem como do movimento monárquico. 

Passeio de Domingo no Tejo, em 1981


UM MESTRE DO NOSSO TEMPO.

Sócio número Um do Centro Nacional de Cultura, único fundador ainda vivo, deixou-nos e a melhor palavra que temos neste momento é gratidão. Será para nós sempre um exemplo e uma memória viva.
Gonçalo Ribeiro Telles é uma referência na cultura portuguesa em todos os domínios em que exerceu atividade ou em que fez sentir o seu magistério cívico. Como Arquiteto Paisagista, o seu lugar, ao lado de uma plêiade notável de portugueses, tornou-se um autêntico símbolo. E pode dizer-se que ocupa uma posição central entre os pioneiros e os discípulos. A sua notoriedade tornou-se marcante, uma vez que soube aliar o domínio da sua arte e da sua ciência, a uma constante ação de mobilização de cidadania em torno do equilíbrio ecológico e da conciliação entre a tradição e o progresso. Daí que a sua voz continue a ter de ser ouvida, contra todos os atentados que têm levado à destruição de relações equilibradas entre as pessoas e a natureza. O que Gonçalo Ribeiro Telles sempre nos ensinou foi que a democracia para se consolidar precisa de cuidar da memória e da cultura, como fatores de humanização – de modo que o ser prevaleça sobre o ter e que a dignidade humana seja o denominador comum da vida em sociedade. A parábola dos talentos vem à nossa lembrança, certos de que Gonçalo sempre insistiu em que não podemos enterrar o talento recebido, devendo pô-lo a render com respeito da memória e da cultura. O jardim é a verdadeira metáfora da ação criadora de Deus em diálogo com o homem – por isso o confronto entre os textos e aquilo que nos foi legado pelo Arquiteto Paisagista é um motivo muito especial para compreendermos a cultura como ponto de encontro entre a compreensão da natureza e a capacidade humana de a transformar. «O homem desempenha na modelação da paisagem um papel muito importante; pode ser considerado, neste aspeto, como um autêntico criador de beleza”. Gonçalo Ribeiro Telles, ao defender uma perspetiva humanizadora da sociedade e ao pôr as pessoas em diálogo criador com a natureza, chama-nos a agir e a comprometer-nos – não cedendo à indiferença nem ao conformismo. «Cada geração tem uma parcela relativamente pequena na construção de uma paisagem, podendo, no entanto, ter um papel profundo na distribuição do equilíbrio geral»… O Centro Nacional de Cultura está de luto, a Cultura também. Apresentamos sentidas condolências à sua família, amigos e discípulos.

 

Guilherme d’Oliveira Martins

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