UM MESTRE DO NOSSO TEMPO.
Sócio número Um do Centro Nacional de Cultura, único fundador ainda vivo, deixou-nos e a melhor palavra que temos neste momento é gratidão. Será para nós sempre um exemplo e uma memória viva.
Gonçalo Ribeiro Telles é uma referência na cultura portuguesa em todos os domínios em que exerceu atividade ou em que fez sentir o seu magistério cívico. Como Arquiteto Paisagista, o seu lugar, ao lado de uma plêiade notável de portugueses, tornou-se um autêntico símbolo. E pode dizer-se que ocupa uma posição central entre os pioneiros e os discípulos. A sua notoriedade tornou-se marcante, uma vez que soube aliar o domínio da sua arte e da sua ciência, a uma constante ação de mobilização de cidadania em torno do equilíbrio ecológico e da conciliação entre a tradição e o progresso. Daí que a sua voz continue a ter de ser ouvida, contra todos os atentados que têm levado à destruição de relações equilibradas entre as pessoas e a natureza. O que Gonçalo Ribeiro Telles sempre nos ensinou foi que a democracia para se consolidar precisa de cuidar da memória e da cultura, como fatores de humanização – de modo que o ser prevaleça sobre o ter e que a dignidade humana seja o denominador comum da vida em sociedade. A parábola dos talentos vem à nossa lembrança, certos de que Gonçalo sempre insistiu em que não podemos enterrar o talento recebido, devendo pô-lo a render com respeito da memória e da cultura. O jardim é a verdadeira metáfora da ação criadora de Deus em diálogo com o homem – por isso o confronto entre os textos e aquilo que nos foi legado pelo Arquiteto Paisagista é um motivo muito especial para compreendermos a cultura como ponto de encontro entre a compreensão da natureza e a capacidade humana de a transformar. «O homem desempenha na modelação da paisagem um papel muito importante; pode ser considerado, neste aspeto, como um autêntico criador de beleza”. Gonçalo Ribeiro Telles, ao defender uma perspetiva humanizadora da sociedade e ao pôr as pessoas em diálogo criador com a natureza, chama-nos a agir e a comprometer-nos – não cedendo à indiferença nem ao conformismo. «Cada geração tem uma parcela relativamente pequena na construção de uma paisagem, podendo, no entanto, ter um papel profundo na distribuição do equilíbrio geral»… O Centro Nacional de Cultura está de luto, a Cultura também. Apresentamos sentidas condolências à sua família, amigos e discípulos.
Guilherme d’Oliveira Martins