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Cinanima homenageia Jiri Trnka e Florence Miailhe e marca os 75 anos do fim da Segunda Guerra
Festival de Cinema de Animação de Espinho decorre até 15 de novembro, mas este ano exclusivamente em exibição online, devido às restrições decorrentes do Estado de Emergência. Programação reconhece bom momento de produção na animação portuguesa.
Uma homenagem ao checo Jiri Trnka (1912-1969), um nome marcante na história da animação de marionetas, uma retrospetiva da obra da francesa Florence Miailhe (Paris, 1956), que estará em Espinho também como membro do júri internacional para as curtas-metragens, e uma mostra a assinalar os 75 anos do final da Segunda Guerra Mundial são destaques da 44.ª edição do Cinanima, que vai decorrer até ao próximo dia 15 de novembro.
Inicialmente, a direção do festival tinha previsto fazer sessões presenciais com os filmes das secções competitivas e seis programas dirigidos ao público mais jovem. Mas a declaração, no início desta semana, do Estado de Emergência obrigou à mudança de planos.
Assim, a organização decidiu cancelar todas as sessões presenciais. “O festival online decorrerá como estava previsto [através da plataforma cinanima.kinow.tv], com a exibição da totalidade da sua programação”, avisa a direção do Cinanima, num comunicado emitido este domingo, lamentando a situação criada e manifestando a esperança de que “a edição de 2021 sirva para o reencontro de todos os amantes do cinema de animação, de Portugal e do mundo”.
Nas secções competitivas, as quase cem obras selecionadas parecem não denotar ainda as marcas da pandemia que assola o mundo. Nos dois programas da competição internacional, o Festival de Cinema de Animação de Espinho vai exibir 68 filmes, entre curtas, quatro longas – Up We Soar, de Yan Ma (Canadá); Zero Impunity, de Nicolas Blies e Stéphane Hueber-Blies (Grécia); The Nose or the Conspiracy of Mavericks, de Andrey Khrzhanovskiv (Rússia); e Fritzy, a Revolutionary Tale, de Mathias Bruhn e Ralf Kukula (Alemanha) – e uma série de filmes de estudantes, incluindo produções de escolas, que “o júri de seleção considerou bastante interessantes, tanto pela quantidade como pela qualidade e pela diversidade temática e estética”, nota António Santos.
Ainda que “todos sejam candidatos” aos vários prémios do Cinanima, o diretor do festival, António Santos, chama a atenção para duas das curtas da competição internacional como sinal da qualidade desta secção que é “a marca identitária” do Cinanima. São eles Altötting, do alemão Andreas Hykade, que aqui regressa às suas memórias de infância numa história em volta da devoção da “Virgem Negra”, uma estátua da mãe de Deus numa aldeia da Baviera; e Last Supper, do polaco Piotr Dumala, também inspirada num tema religioso, a recriar a Última Ceia de Leonardo da Vinci num perturbador jantar de homens com música contemporânea em fundo.
O elã da animação portuguesa
A animação portuguesa está representada por uma seleção de 28 títulos: nove candidatos ao Prémio António Gaio; 19 ao Prémio Jovem Cineasta Português.
“Apareceram muitos filmes, incluindo muitos de escolas”, constata António Santos, em declaração ao PÚBLICO. “Há um elã grande na produção, mesmo se muitos deles precisam ainda de alguma afinação”, diz. Mas entre os candidatos ao Prémio António Gaio há obras “de grande qualidade técnica e artística”, acrescenta o diretor, nomeando, a título de exemplo, a primeira-obra de Alexandra Ramires, Elo, já premiada este ano no festival de Chicago (Estados Unidos), no Animatou, em Genebra (Suíça), e no Curtas Vila do Conde.
A abertura do 44.º Cinanima vai fazer-se, na noite de segunda-feira (21h), no Centro Multimeios, com a referida homenagem a Jiri Trnka. Será exibida a longa-metragem As Velhas Lendas Checas, um clássico de 1952, já apresentado mais do que uma vez no festival de Espinho, mas agora numa versão restaurada, que inclui algumas sequências não editadas na versão original, realça António Santos.
Outro regresso ao Cinanima será o da francesa Florence Miailhe, que na 25.ª edição integrou também o júri internacional. Desta vez, além de voltar a ser jurada, vem acompanhar a exibição online (plataforma Zoom) da sua obra, na qual se incluem títulos como Hammam (1991), Au Premier Dimanche d’Août (2002), que recebeu o César de melhor curta-metragem, ou Conte de Quartier (2006), distinguida com uma menção especial em Cannes.
Atualmente, esta realizadora, que é também pintora e professora – e que em 2015 viu o conjunto da sua obra distinguida com um Cristal de Mérito no Festival de Annecy –, está a terminar a sua primeira longa-metragem, La Traversée (A Travessia), sobre o tema das migrações. Este seu trabalho será, de resto, o tema da masterclass que Miailhe fará na manhã de terça-feira (10h).
O Cinanima 2020 vai ainda apresentar uma mostra de animação europeia da última década e um ciclo a assinalar os 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, sob a perspetiva do “olhar das vítimas”. E, como habitualmente, o festival inclui também a realização de conferências, workshops e oficinas, além de programas dirigidos a escolas de todo o país.
Além de Florence Miailhe, o júri internacional vai integrar o realizador português Manuel Mozos, como presidente, e a programadora e professora britânica Jayne Pilling. Ainda na competição internacional, o júri das longas-metragens inclui o desenhador e historiador catalão de cinema Jordi Artigas, a realizadora francesa Louise Mercadier e a realizadora portuguesa Sandra Cristina Ramos. E o júri dos filmes de estudante, conta com o animador brasileiro Alexandre Siqueira, a realizadora francesa Marie-Christine Courtès e o professor espanhol Oscar de Santillana.
Na competição nacional, um mesmo júri, formado Bruno Caetano, Paulo Gomes e Vier Niev, avaliará as obras concorrentes aos prémios António Gaio e Jovem Cineasta Português. O júri de seleção foi assegurado por Jorge Campos, Paulo Barrosa e Regina Machado.
por Sérgio C. Andrade in Público | 9 de novembro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público