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Quando Tabucchi, os artistas, os azulejos e Catarina de Bragança se encontram

Marta Wengorovius e Pedro Proença assinam obras em azulejo para a capela do Palácio do Conde Pombeiro, a embaixada de Itália em Lisboa, a partir da obra "Requiem" do mais português dos escritores italianos e em homenagem às vítimas de covid-19.

Apresentação de "Requiem", na embaixada de itália em Lisboa© André Alves/ Global Imagens Apresentação de "Requiem", na embaixada de itália em Lisboa© André Alves/ Global Imagens Apresentação de "Requiem", na embaixada de itália em Lisboa© André Alves/ Global Imagens


Na passagem de ano, o artista Pedro Proença sonhou com Piero della Francesca. Começou 2020 a escrever um romance sobre isso que não sabe se algum dia verá a luz. Meses antes, e a propósito de um projeto em torno da língua portuguesa, tinha lido Requiem, o romance que o italiano António Tabucchi escreveu em português.

As duas ideias correram separadas até a pandemia as juntar. A pandemia e a Galeria Ratton, especialista no trabalho em azulejo, que o voltou a chamar Pedro Proença para uma colaboração. Desta vez, criar uma obra para a embaixada de Itália em Portugal - um casamento entre Requiem e arte contemporânea.

Nesta sucessão de encontros - as ideias de Pedro Proença e a parceria entre a embaixada, a câmara municipal de Lisboa e a Galeria Ratton - nasceu omedalhão que junta as personagens de AntónioTabucchi, e uma madonna como as de Piero della Francesca, a concha e o ovo. que desde sexta-feira se encontra capela do Palácio do Conde Pombeiro, numa homenagem às vítimas do novo coranavírus. "Achei que era uma boa maneira de falar sobre a morte e as relações afetivas entre os vivos e os mortos", contou ao DN, após a apresentação da peça.

Na capela -pequena, circular e iluminada por uma claraboia e decorada com conchas - o trabalho de Pedro Proença encontra-se frente a frente com com o medalhão assinado por Marta Wengorovius.

Em pleno confinamento, e enquanto espalhava desenhos pela casa, Marta deu por si a pensar cada vez na importância da rua como lugar de exposição à semelhança do que tinha visto em várias aldeias croatas nas férias de 2019. Imaginou um sol gigante que estaria na rua e que queria que fosse com uma bateria.

No seu medalhão essa ideia foi materializada no dourado da peça, que, "não é um espelho, não devolve a completamente a imagem mas a presença da pessoa".

Os trabalhos dos artistas resultam de duas experiências opostas. Pedro Proença intervém diretamente no azulejo. "Gosto de fazer as ilustrações e trabalhar no azulejo". A estreante Marta Wengorovius encantou-se com "um trabalho de equipa". "Também gostei de ir para a oficina e ter este trabalho quotidiano". Conta que se tem deparado com a incapacidade de olhar o azulejo sem pensar no processo - a pincelada, onde se carregou mais na tinta...

Os medalhões criados por Pedro Proença e Marta Wengorovius. são apenas uma parte do trabalho realizado nas oficinas da Ratton, na Arrábida, partindo da obra de Tabucchi e desses azulejos únicos do Palácio do Conde Pombeiro, a partir deste encontro com a embaixada de Itália e a câmara de Lisboa. Estarão em exposição e com o título "Entre o Sol e a Lua, uma Alucinação", na galeria, entre as 15:00 e as 20:30, no momento em que ela cumpre 33 anos.

Um encontro "simbólico e espiritual"

As peças foram apresentadas na passada sexta-feira na embaixada de Itália num encontro que começou com um minuto de silêncio pelas vítimas do coronavírus - quase 500 mil casos e 37 mil mortos em Itália, mais de 100 mil casos e quase 2300 mortos em Portugal -, algo que une os dois países como assinalou a ministra da Cultura, Graça Fonseca nesta restrita cerimónia.

Este é um encontro "simbólico e espiritual", disse o embaixador de Itália em Portugal, Carlo Formosa, ao lado da da viúva de António TabucchiMaria José de Lancastre, evocando o mais português dos escritores italianos.

"Penso que o António, se estivesse ainda entre nós, não deixaria de reparar no facto de que mais uma vez cabe à arte e à literatura trazerem consolo ao ser humano angustiado e desorientado", disse Maria José Lancastre. Requiem, lembrou, "fala-nos das relações entre os vivos e os mortos, argumento hoje bem atual, e daquele sentimento de pietas, de compaixão, que nos leva a perdoar, a compreender e a entender a vida na sua, por vezes trágica, complexidade".

A arte azulejar faz parte do ADN deste palácio do século XVIII, construído para albergar a família Castelo Branco em terreno doado por Catarina de Bragança, protagonista de um dos mais importantes painéis azulejares da casa.

Datados do século XIX, relatam o casamento por procuração de Catarina de Bragança e o início da viagem para Londres, retratando a ribeira das naus e o Terreiro do Paço. "Queremos abrir o nosso património azulejar à cidade", diz o embaixador.


por Lina Santos in Diário de Notícias | 25 de outubro de 2020
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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