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The Dirty Coal Train celebram 10 anos com disco Dirty Coltrane Volume I e II
Em antecipação, lançam o novo single “Hit” e anunciam concerto no seu canal de YouTube dia 16 de outubro pelas 21h30 e dia 31 de outubro no Arroz Estúdios em Lisboa.
SINGLE “HIT”
Depois de "One trick pony", os Dirty Coal Train (Dirty Coltrane?) lançam o 2º single "Hit". Este tema usa influências mais gingonas do rock para falar de problemas de quem inicia o seu próprio negócio e se vê atolado de impostos e das rendas que crescem exponencialmente. Serve assim de referência direta a todas as casas de espetáculos com bandas de originais que entretanto fecharam e àquelas que, nestes tempos pandémicos, se vêm numa luta para sobreviver uma vez que, como não são consideradas pelo próprio Ministério como locais de cultura, mas sim como meras discotecas/ bares. A frustração do rock (e derivados mais ou menos pesados) ter já décadas em Portugal mas ainda ser considerado a "persona non grata" da cultura está patente no refrão. Uma música de protesto que o faz de modo "bem disposto" e (mais uma vez) uma bela rockalhada dos Dirty.
CONCERTO YOUTUBE
Na impossibilidade duma tour repleta de concertos típicos de Dirty regado a suor, ruído, encontrões e abraços, a banda pediu ajuda a elementos dos Humana Taranja e ao Casal Ventoso (Nick Suave e Inês Ribeiro) para gravar uma sessão/ensaio ao vivo no Sabugal. O alinhamento é centrado em temas do disco novo com espaço para 2 versões, uma interpretação de "Motherf#cker for Love" (o tema composto aquando a sessão de "3 pistas" para a Antena3) e, para ninguém se ficar a rir, há ainda um inédito que fica já prometido que dará lugar a um single em 2021: "pizza & punk". A transmissão será no YouTube, dia 16 de outubro pelas 21h30. Altura em que podem pegar na vossa cervejinha ou tintol e juntarem-se a nós!
Num rasgo de esperança dum possível regresso à normalidade dos concertos, os The Dirty Coal Train acabam de confirmar a primeira data ao vivo pós-pandemia, 31 de outubro no Arroz Estúdios, em Lisboa.
DISCO
Depois de um álbum duplo cheio de convidados, Portuguese Freakshow, e um álbum em trio gravado "ao vivo em estúdio" no Brasil, Primitive, os The Dirty Coal Train voltam a baralhar cartas e a dar novamente.
Para começar, assinam o disco novo como Dirty Coltrane, tal como faziam no início da banda, voltam a esta assinatura no ano em que celebram 10 anos de projecto. Depois parece que reduziram os convidados nas gravações para centrar grande parte da instrumentação no duo Ricardo e Beatriz. Espalharam as canções de Dirty Coltrane Volume I e II por uma edição em LP de vinil + CD ou uma edição limitada em LP de Vinil + cassete com lançamento dia 16 de outubro.
O disco abre com um "I'm a one-trick-pony with a broken leg" como quem avisa e assume que o núcleo duro dos temas é o habitual garage com a energia e fórmula do punk. Mas ao invés de serem "burros velhos que não aprendem línguas", a banda tem no disco lugar para coisas "fora da caixa" como também é costume. São disso exemplo as escolhas de covers de Volume I: um tema freefazz de Ornette Coleman e uma versão para um tema dos DeCanja, a primeira banda onde Ricardo e Beatriz tocaram juntos em que convidaram a vocalista original da banda Miss Volatile para cantar e Pete Beat dos Act Ups para a bateria. Atiram-se sem vergonha ao pseudo-rockabilly com um "Blue Jean Baby Bop" (piscadela de olho a Gene Vincent) para logo de seguida fazerem uma manta sónica no final de "Snakebite". Ocupam o lugar de balada-venenosa deixado vago por Cave (que anda noutras paragens) em "Riding the rails". Servem um temazorro garage punk à-la Cramps com "This World" para seguirem com um no wave dissonante de "Shit king of Skullfuck Mountain" e em "Indian Joe" voltam a brincar aos Suicide.
Mas não se enganem, este Volume I é punk e "rock sem merdas" típico do duo. Mesmo a versão de Ornette Coleman deve tanto ao saxofonista e a Sun Ra como aos Stooges e aos MC5.
Já o Volume II parece funcionar como o "Lado B" da moeda. Não o típico lado das sobras mas sim um local onde o duo pensou "Ok, aqui temos carta branca para expandirmos ainda mais o que nos der na telha". O tema de abertura "Millennial Kid" é um garage punk de nove minutos sobre fake news e manipulação de opinião pública. As versões são de Corey Hart (um chavão dos 80s) e de um tema clássico de Neil Young. O tema "Indian heart" é um poema da escola Captain Beefheart lido em cima de uma manta de sons à-la Morton Subotnick. Ouçam-se as versões dos originais da banda: "Gringo Aburrido" (canção editada originalmente no split com o Argentino Trash Colapso) ou a versão despida de "Casino" (editada originalmente no split com a banda Strobe Talbot de Jad Fair). Ninguém reconheceria os Dirty por este som mas, no entanto, para quem tem seguido o trabalho do duo também não é uma experiência de todo estranha (e este colocar os temas referidos no final do Volume II não será inocente mas sim para não chocar muito os mais puristas). Engraçado que talvez as sonoridades mais atípicas de Dirty sejam nas novas versões para dois temas da primeira demo tape (gravada a solo por Ricardo), em ambas acompanhados pelo violino de Maria Côrte: "Waltz" e "The Neurotic Bartender". Nota também para os novos temas em português: "Requiem por um freak" e "Pangolim".
Os The Dirty Coal Train (ou será Dirty Coltrane?) não avançam nem recuam nem tão pouco andam em círculos.
Desenvolvem a sua própria espiral de géneros à volta do Garage Punk!